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Em “Soundtracks Vol. I“, André Barros, compositor que recentemente foi reconhecido com o prémio de melhor banda sonora no Los Angeles Independent Film Festival Awards (para a curta Our Father de Linda Palmer), reúne alguns dos temas que foi compondo ao longo de 2014 e ainda no final de 2013 num só disco. Escolhidos a dedo, e a ouvido, de forma a que soe como um todo coerente, nada parece parar a carreira promissora do jovem formado em direito e que agora se dedica à produção musical. Fomos descobrir mais um pouco acerca do seu percurso e também deste bonito disco.
Olá, André! Obrigado por responderes às nossas questões. Podes falar-nos um pouco de como a música entra na tua vida?
Sim, eu é que agradeço! Desde cedo que ouvia (entre tantas outras coisas claro!) temas de bandas sonoras e julgo que todo este universo nunca me fora estranho, pelo que o gosto por estas sonoridades e esta instrumentação que agora uso acaba por também vir dessas influências. No entanto, nunca havia tido qualquer contacto com aulas de música ou sequer com o piano em particular até, sensivelmente, ao final do meu curso de Direito quando, de uma forma muito espontânea decidi tentar interpretar (ao piano acústico de uma amiga!) um dos temas de uma banda sonora do Yann Tiersen. Não consegui ficar indiferente à sonoridade e à magia daquele instrumento e desde então que tenho vindo a traçar este percurso!
Formado em direito, optaste por no final do curso te dedicares à produção musical. Consegues identificar em que momento se dá aquele clique de “não, eu quero mesmo é fazer isto”? E porquê o piano?
Identificado o gosto tremendo pelo piano e percebendo desde logo que tenho imensa musicalidade em mim, decidi antes de mais, dotar-me das ferramentas necessárias para me poder auto-produzir, isto é, para conseguir não apenas interpretar os temas que crio mas, e acima de tudo, poder tê-los prontos a serem partilhados com outras pessoas. A verdade é que somente depois de partilhar os meus temas e ter um primeiro feedback é que consegui identificar a oportunidade de trabalho nesta área, e mentalizar-me de que se o queria fazer profissionalmente então seria essencial ter aquela formação e aprendizagem iniciais! O piano é fascinante e foi com ele que me iniciei na música!
O teu percurso levou-te depois até à Islândia. O que até que te atraiu para esse país e como é que surgiu a oportunidade de trabalhar no Sundlaugin Studio?
Tive oportunidade de fazer um estágio profissional no âmbito do programa Da Vinci, e há já algum tempo que nutria um fascínio pelo trabalho desenvolvido no estúdio Sundlaugin, fundado pelos Sigur Rós. Claro que a minha paixão enorme pela sonoridade da banda também influenciou! Então tratei de contactar o técnico de som residente (Biggi) e também um dos donos do estúdio, e após vários telefonemas e envio de trabalho, acabei por conseguir que me dessem o tão desejado aval para cumprir estes três meses de estágio. De seguida, foi tratar das formalidades na ETIC e aí fui eu!
Talvez seja uma pergunta estranha mas, foi por si só inspirador trabalhar naquela que acaba por ser a casa dos Sigur Rós? Talvez até por haver toda uma mística associada ao universo da banda e à própria Islândia em si…
Sem dúvida alguma, e não é de todo estranha a pergunta! Aquele estúdio e a própria área onde está (Álafoss, a cerca de 20/30 kms de Reykjavik) têm uma mística qualquer que, inevitavelmente, passará pelo acolherem esta banda que tem tido um impacto profundo no panorama actual da música um pouco por todo o lado. Desde a simplicidade e a tranquilidade que reina no estúdio durante as sessões de gravação, à imponência visual profundamente deslumbrante daquele País, tudo influi naturalmente no meu processo criativo ainda hoje pois tudo isso ajudou a alimentar e a moldar a visão que procuro para o meu trabalho em geral.
Para além de tudo, tiveste ainda oportunidade nessa altura de privar com alguns músicos já com mais experiência. De que forma é que isso influenciou (ou não) depois o teu percurso?
Sim, como por exemplo com o Kjartan Sveinsson (ex pianista dos Sigur Rós) ou membros das Amiina e dos Múm, entres muitos outros. É inegável que contactar e partilhar algumas experiências com estes músicos tão talentosos e que tanto admiro, e ainda para mais naquele contexto, são razões de sobra para me sentir motivado a apostar nesta área e sentir que nada é, de todo, impossível.
Houve algum momento mais marcante nessa tua passagem por lá?
Dada a peculiaridade da experiência, diria que muitos foram esses momentos, mas posso destacar, por exemplo, o estar no estúdio apenas com o Biggi a misturar (embora eu estivesse mais a observar do que propriamente a misturar!) temas antigos dos Sigur Rós que foram gravados ao vivo no início dos anos 2000 e que iriam ser utilizados mais tarde numa compilação que havia sido encomendada ao estúdio naquela altura!
Acabas por te dedicar às bandas sonoras, era algo que te imaginavas a fazer?
Sim, completamente, desde que comecei a compor que senti que o meu trabalho se mistura muito bem com o universo visual, talvez por ser instrumental, talvez por tentar contar histórias com as melodias que crio, mas a verdade é que desde cedo que senti essa ligação! Quando finalmente experimentei compor para filmes percebi que rapidamente ia ao encontro do desejado pelo realizador e/ou produtores, pelo que explorar este mercado das bandas sonoras se tornou inevitável até pelo desafogo financeiro que me pode proporcionar!
Que principais diferenças apontas na composição de uma banda sonora e de um tema “teu”? Isto no sentido em que quando se compõe para um filme, um documentário, o que seja, o músico tem que ter a sensibilidade apurada para entrar na visão de outra pessoa e do que se pretende transmitir. Pode tornar tudo muito mais complexo, não?
Compor para bandas sonoras tem, invariavelmente, a vantagem enorme de termos um auxiliar criativo durante todo o processo pois vimo-nos rodeados de guiões e rough cuts, pelo que pode de facto ajudar na criação de um universo musical específico. No entanto, ao trabalharmos nesta área, temos de ser flexíveis e deparamo-nos, naturalmente, com limitações criativas, pois temos de ajustar as nossas ideias aquilo que é procurado pelo realizador. Há, portanto, esta dualidade no que diz respeito ao estímulo criativo. Nos chamados “projectos próprios” (temas que não pertencerão a bandas sonoras) não encontro esta limitação de ter que esperar pelo aval de alguém, no entanto poderá ser mais demoroso o processo de criação pois não temos qualquer suporte que nos estimule e nos indique o caminho (dependendo obviamente da aproximação de cada um ao processo criativo!). Pessoalmente, fascinam-me as duas vertentes e não me coíbo de participar nas duas sempre que posso!
Neste teu segundo disco estão compiladas algumas das composições que fizeste em 2014 para bandas sonoras. Como é que foi o processo de selecção destes temas?
Sim, em 2014 e também inclui projectos que terminaram ainda em finais de 2013 (como o Wounds of Waziristan por exemplo). Juntei-me com a minha editora, a Omnichord Records, na pessoa de Hugo Ferreira e discutimos sobre quais os temas que poderiam ser melhor representativos do ambiente particular de cada filme, e também quais os que faria sentido juntar numa só compilação (e qual o alinhamento), por forma a que os ouvintes sintam o álbum como um todo e não como uma soma de temas escolhidos aleatoriamente.
Adicionalmente, contas com uma música com letra e voz do Valter Hugo Mãe, como é que surge esta colaboração?
Tive o privilégio de conhecer pessoalmente o Valter numa apresentação que ele fez da sua obra “A Desumanização” na Livraria Arquivo em Leiria, pois eu havia sido convidado para ter uma participação musical nessa ocasião (no âmbito do movimento Leiria Calling), e enquanto amadurecia o tema em questão decidi endereçar-lhe um convite! Ele aceitou, gentilmente, e fomos pensando qual a melhor forma de concretizarmos esta união da poesia com a música, concordando que não lhe daríamos um formato de canção mas antes incluiríamos um pequeno apontamento poético por forma a estimularmos uma história na cabeça de quem ouvisse o tema! E assim surgiu o “Gambiarras” que eu fiz questão de editar neste álbum como um tema “extra”, digamos.
Apesar desta ainda curta carreira (em tempo), o teu trabalho não tem passado despercebido, e ainda bem. Boas críticas, alguns prémios, inclusive em festivais internacionais, e a chegada este ano ao Festival de Cannes. Como é que te sentes com esta boa receptividade que vens tendo? Estavas à espera?
Sim, não estava de todo à espera que pudesse em tão pouco tempo ter uma banda sonora a ganhar um prémio, mas a verdade é que este projecto em particular (a banda sonora para a curta-metragem Our Father de Linda Palmer) me tem trazido imensas coisas boas um pouco pelos festivais em que tem passado durante este ano, incluindo então o prémio de melhor banda sonora no Los Angeles Independent Film Festival Awards, o que tem servido como um estímulo enorme para continuar a apostar nesta área! Só me posso sentir orgulhoso com o caminho que tenho traçado mas também bem consciente que sou apenas um a fazer este tipo de trabalho, e há tanto mas tanto profissional de qualidade nesta área!
Em Junho e Julho vais apresentar “Soundtracks Vol. I” em vários locais do país, acompanhado por um quarteto de cordas. Que expectativas tens para estas datas e como é que têm corrido os ensaios?
Eu e o quarteto de cordas estamos a preparar os concertos no CCB e Casa da Música e também outros concertos, que depois virão em Julho, e é com enorme expectativa que o fazemos, esperando tão somente não defraudar o apoio e carinho demonstrados por quem tem seguido o meu trabalho! Está tudo a correr como planeado!
Para terminar, a pergunta inevitável, sendo este o Vol. I, podemos esperar para breve o Vol. II?
Claro que sim! Ainda há pouco mais de uma semana terminei mais uma banda sonora com quase 60 minutos de música, e já me encontro a trabalhar num outro projecto, portanto música não faltará para dar continuidade a esta forma de mostrar o trabalho que vou desenvolvendo na área das bandas sonoras!
“Soundtracks Vol. I” está já disponível nas lojas e André Barros irá apresentá-lo, juntamente com um quarteto de cordas, nas seguintes datas:
4 de Junho: Centro Cultural de Belém, Lisboa (21h)
5 de Junho: Casa da Música (21h)
2 de Julho: Teatro Miguel Franco, Leiria (21h30)
16 de Julho: Arcos de Valdevez (21h30)
18 de Julho: Casa da Cultura, Marinha Grande (21h30)
Multi-tasker no Arte-Factos. Ex-Director de Informação no Offbeatz e Ex-Spammer na Nervos. Disse coisas e passou música no programa Contrabando da Rádio Zero. (Ver mais artigos)