Entrevista


And So I Watch You from Afar

Para nós, mesmo individualmente, estas músicas significam coisas diferentes e gostamos disso.


Parte da realeza do math-rock, os And So I Watch You From Afar preparam-se para editar o seu novo álbum no próximo dia 20, com selo da Sargent House, e têm já regresso marcado ao nosso país nos dias 29 e 30 deste mesmo mês.

The Endless Shimmering“, quinto disco dos irlandeses, levou a banda até aos Estados Unidos onde ficou enclausurada durante pouco mais de uma semana em estúdio, com um nevão que acompanhou todo o ciclo de gravação e mistura deste álbum, num período de tempo intenso mas proveitoso, como nos conta o guitarrista Rory Friers.

A primeira palavra que lemos na apresentação deste álbum é Instinto. Ia perguntar-te se tinham ponderado ser mais espontâneos desta vez mas apercebi-me que isso vai contra a própria definição da palavra. Até onde vos levou o vosso instinto neste novo álbum?

Regra geral, no que diz respeito à escrita de canções, gostamos de seguir o nosso instinto. Basicamente, se uma ideia nos inspira ou nos entusiasma tomamos isso como um bom sinal e tendencialmente seguimos por esse caminho.

Foi esse mesmo instinto que fez com que quatro rapazes do norte da Irlanda tenham decidido ir gravar o disco aos Estados Unidos? Como é que surgiu a escolha do estúdio Machines With Magnets?

Inicialmente, quando começámos a procurar por um produtor para o álbum, estávamos a falar sobre o nosso som preferido de bateria e percebemos que gostamos imenso dos discos que saíram do Machines With Magnets. Esse foi o ponto de partida para percebermos que deviam ser boas pessoas para trabalhar connosco! Entrámos em contacto com o Seth, enviámos-lhe algumas demos, e ele pareceu perceber de imediato o caminho que queríamos seguir. Foi uma decisão bastante fácil de fazer, eles pareciam encaixar-se perfeitamente no que estávamos à procura e nós acabámos por sair de lá realmente muito felizes com o disco.

Assim que lá chegaram um forte nevão paralisou parte da costa nordeste e estiveram em estúdio durante nove dias até gravar e misturar tudo. Foi algo que tornou a experiência ainda mais intensa?

Sim, definitivamente. Na realidade o estúdio tinha acomodações no edifício, por isso, assim que chegámos abastecemo-nos de comida para uma semana e fechámo-nos dentro da nossa bolha! A neve foi realmente um cenário lindíssimo e acabámos por gostar imenso da experiência de estarmos desligados do Mundo e completamente imersos no que estávamos a criar. Foi intenso mas penso que beneficiámos disso.

Das trinta músicas que escreveram escolheram nove para formar este The Endless Shimmering. Como é que trabalharam esta selecção final? Estão a pensar fazer algo com algumas das músicas que ficaram de fora?

Foi, por vezes, uma escolha difícil, mas para ser honesto aconteceu de uma forma bastante orgânica. As músicas que chegaram ao disco acabaram por se revelar por si próprias, havia uma certa teia que as conectava entre elas e portanto tornou-se claro que essas seriam as canções que teriam que estar no álbum. Foi triste deixar alguns bons riffs e outras partes de fora mas quem sabe, talvez editemos um EP no próximo ano e algumas delas consigam ver ainda a luz do dia!

Iam com a ideia específica de gravar estes novos temas ao vivo. O que é que vos levou a optar por este processo? E nesse aspecto houve alguma margem para improvisar sobre o que já estava estruturado?

Estivemos cerca de um ano a escrever e gravar demos na nossa sala de ensaios a tempo inteiro, e aí fizemos todo o tipo de experiências até as músicas chegarem a um ponto em que estávamos contentes com elas. Isto significou que quando fomos gravar o álbum já sabíamos todas as nossas partes de trás para a frente. Gostámos imenso de desta vez termos podido ir para estúdio com uma ideia mais completa do que queríamos fazer.

Uma das diferenças que se pode encontrar neste novo disco em relação aos dois anteriores é a ausência de vocalizações. À medida que foram escrevendo estas músicas sentiram que não seria preciso e conseguiam transmitir tudo o que queriam sem voz?

Sim, definitivamente. Não foi uma decisão consciente a de não termos vocalizações desta vez, foi mais no sentido em que nenhuma das músicas estava a pedir para ter voz, não sentimos que lhes estivesse a faltar alguma coisa que isso pudesse acrescentar. Acho que se alguém tivesse tido alguma ideia nessa direcção e a tivesse adicionado à música teríamos tido todo o gosto em gravá-la.

De certo modo a música instrumental permite-nos construir narrativas próprias mais facilmente. Pessoalmente como é que vêem este conjunto de canções?

Penso que acertaste em cheio. Para nós, mesmo individualmente, estas músicas significam coisas diferentes e gostamos disso. Odeio quando uma banda explica a sua música e aquilo que ela significa e assim estraga a minha própria narrativa! Por isso acho que vamos deixar o ouvinte decidir sobre o que se trata este disco.

São conhecidos pelas vossas actuações explosivas e em Outubro iniciam mais uma digressão europeia que culmina na Irlanda. Estão ansiosos por mostrar estas novas músicas ao vivo?

Extremamente entusiasmados! Claro que adoramos todo o nosso catálogo de músicas que tocamos ao vivo mas há qualquer coisa de electrizante em tocar material novo pelo qual nos apaixonámos recentemente. Seria óptimo dar um concerto em que tocaríamos o novo álbum do início até ao fim porque foi assim que o escrevemos e gravámos, seria algo bastante natural… talvez um dia!

Estrearam-se em Portugal em 2012 e desde então contam com mais algumas passagens por cá, inclusive uma actuação no Festival Paredes de Coura. Guardam alguma coisa desses concertos?

Lembro-me de Paredes de Coura muito bem na verdade, adorámos esse festival! Foram momentos muito divertidos para nós. Lembro-me que voámos para aí no dia anterior ao nosso concerto e puseram-nos numa pequena habitação perto do local do festival, por isso, tivemos um dia de folga para relaxar e podermos ver algumas bandas. E também me lembro de me estar a esticar na relva do anfiteatro enquanto via Peace com o Johnny e bebíamos uma boa quantidade de cerveja! O nosso concerto foi no dia seguinte e foi um dos favoritos que demos em festival. Portugal é sempre óptimo e nós adoramos regressar!

Felizmente isso acontece em breve no Porto e em Lisboa, nas mesmas salas que esgotaram em 2015. Que expectativas têm para esses espectáculos?

Bem, se a última vez foi como foi então será um festão absoluto! Temos memórias muito queridas de Portugal, o público é sempre incrível. Temos andado a ensaiar que nem loucos e vamos tocar um set com as nossas melhores músicas e algumas das nossas novas favoritas, por isso estamos à espera que seja memorável!

Para terminar, onde é que encontram todo este interminável brilho [the endless shimmering]?

Parece estar sempre onde o deixei!

 

Os And So I Watch You From Afar apresentam “The Endless Shimmering” em Portugal, pela mão da Amplificasom, nos dias 29 e 30 de Outubro, no Hard Club e no Musicbox, respectivamente. Mais informação sobre estes espectáculos aqui.

sobre o autor

Hugo Rodrigues

Multi-tasker no Arte-Factos. Ex-Director de Informação no Offbeatz e Ex-Spammer na Nervos. Disse coisas e passou música no programa Contrabando da Rádio Zero. (Ver mais artigos)

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