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Seguramente um dos discos mais belos para este ano, A Rose Is a Rose Is a Rose, sexto LP de Old Jerusalem editado no início de março, poderá trazer consigo “uma perspectiva fresca sobre esta coisa de estar vivo e o que isso implica” a quem se entregar a uma audição atenta, pelo menos é isso que Francisco Silva deseja.
A Rose Is a Rose Is a Rose chega-nos mais jazzístico e orquestral através da colaboração do músico Filipe Melo, mas com a mesmas melodias poéticas e harmoniosas de sempre. E o título escolhido não é uma mera repetição, mas a chave para uma das ideias essenciais deste álbum: “é da natureza imutável das coisas que elas mudem de natureza”.
O concerto de apresentação acontece já este sábado, 2 de abril, na Galeria Zé dos Bois (ZDB) em Lisboa, mas antes disso Francisco Silva fala-nos um pouco de si e deste seu último disco.
A Rose Is a Rose Is a Rose foi editado há poucas semanas, como tem sido até agora a recepção do público a este teu último trabalho?
A reacção tem sido muito positiva, quer por parte da crítica e dos media, quer do público em geral.
Old Jerusalem tem muitas vezes contado com colaborações, por outras tem sido um projecto mais solitário. Neste último álbum o toque jazzístico e orquestral trazido pelo Filipe Melo e pelos outros convidados é notório, como foi esta colaboração? Descobriste novas faces da tua musicalidade?
A colaboração correu muito bem e os resultados foram a meu ver excelentes. O processo foi muito agradável e praticamente o único problema que enfrentámos foi o de gerir a agenda de todos. Não diria que descobri novas faces para a música de Old Jerusalem, mas seguramente encontramos uma nova paleta de cores para aplicar aos desenhos de sempre.
Como funciona o processo de composição? Surge primeiro a palavra ou a melodia?
É raro que surja apenas um ou o outro. Em geral quando surge uma ideia melódica começo de imediato a experimentar com palavras ou onomatopaicas, ideias sem nexo muitas vezes, mas palavras de qualquer forma. Da mesma forma, se me ocorre uma ideia lírica, em geral inicio logo alguma experimentação melódica e depois harmónica.
A escolha do título A Rose is a Rose is a Rose, do poema de Gertrude Stein, configura em si um símbolo de identidade e de natureza inquebrável, acreditas numa essência intrínseca das coisas ou podem existir também naturezas mutáveis?
A questão é que faz parte da natureza intrínseca da maior parte das coisas serem mutáveis. No fundo o que enfrentamos aqui é uma espécie de contradição “truística” e curiosa: é da natureza imutável das coisas que elas mudem de natureza…
Em algumas faixas como “Twenties” ou “Summer Storm” o tema do crescimento e do amadurecimento estão bem presentes. A maturidade tem sido para ti uma inimiga ou uma aliada?
Um pouco ou muito das duas, dependendo dos dias.
O teu trabalho como letrista tem sido amplamente elogiado e tornado o projecto Old Jerusalem singular em Portugal, quem são os autores te inspiram? Já consideraste arriscar também uma aventura literária?
Gosto de autores que encontram uma forma de expressão simples para conceitos complexos, sem diluir a riqueza das ideias na simplicidade da expressão. Por exemplo, o Raymond Carver. Já considerei aventurar-me na literatura – era aliás a minha intenção original antes de enveredar pela escrita de canções – mas não fui até hoje capaz de o fazer.
O que a maioria talvez desconhece é que para além de músico trabalhas também na área de economia. Como é conciliar estes dois mundos? Gostas desta dualidade ou considerarias dedicar-te exclusivamente à música?
Conciliar os dois é uma coisa relativamente natural, não penso sequer muito no assunto. Põe alguns problemas em termos de gestão de tempo e de agenda, mas isso acontece-nos a todos com os nossos vários assuntos do dia-a-dia. Neste momento não considero a hipótese de dedicar-me exclusivamente à música, gosto de manter ambas as actividades.
Old Jerusalem tem uma identidade muito própria e fiel ao seu percurso, gostarias de experimentar outras sonoridades?
Claro que sim, algumas ainda dentro do âmbito estético de Old Jerusalem, e eventualmente outras explorando outras sonoridades – mas aí provavelmente já não enquanto “Old Jerusalem”.
Seguem-se para já três concertos de apresentação para este novo álbum. Consideras importante o contacto directo com o público para divulgar o teu trabalho? Onde te sentes mais confortável, em palco ou em estúdio?
Talvez não seja a resposta que se esperaria a esta questão e até nem seja a politicamente mais correcta, mas não considero essencial esse contacto directo com o público para apreciação do trabalho de Old Jerusalem. Claro que em termos de divulgação acaba por ser mais um meio de fazer “passar a palavra”, digamos assim, e há momentos quase mágicos em palco, mas são raros e a maior parte das vezes a experiência dos concertos é muito condicionada por aspectos técnicos, práticos, muito prosaicos, que inibem uma verdadeira comunicação com a audiência, pelo que diria que no caso de Old Jerusalem é mais confortável o trabalho de estúdio, em geral.
Existem planos para estender a digressão a outras salas do país ou até mesmo além fronteiras?
A outras salas seguramente, estão aliás já agendadas várias datas que muito em breve divulgaremos. Além fronteiras não, não há neste momento quaisquer contactos com esse fim em vista.
O que gostarias que as pessoas levassem consigo de A Rose Is a Rose Is a Rose?
Idealmente uma coisa muito simples mas extremamente difícil de conseguir, e que no fundo se resume ao que eu próprio consigo a momentos obter da audição de discos que me marcam: a sensação de ter vislumbrado e brevemente apreendido, por via das canções, uma perspectiva fresca sobre esta coisa de estar vivo e o que isso implica.
Ao concerto de Lisboa seguem-se para já duas datas em abril, a primeira no Porto dia 8 (Maus Hábitos) e em Barcelos dia 16 (Teatro Gil Vicente).