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Os Kayo Dot são um dos grupos mais desafiantes da última década. Com um percurso irrepetível e sempre original, o grupo fundado por Toby Driver regressa a Portugal para apresentar o novo disco, Plastic House on Base of Sky, como um dos nomes integrantes do Amplifest.
Toby, tu tens sido um dos músicos mais prolíficos no espectro da música avantgarde dos últimos 15 anos, sensivelmente. Como continuas, atualmente, a ter inspiração? Qual é aquela coisa, aquele fator que te faz querer continuar a escrever música?
Obrigado! A minha inspiração musical vem de tudo aquilo que eu ouço, quer eu aprecie o que estou a ouvir, ou não. A chave para eu continuar interessado em fazer música é, simplesmente, tentar sempre coisas novas. Se eu tivesse de fazer sempre o mesmo tipo de música já me teria aborrecido há muito e já estava a fazer outra coisa qualquer… filmes, por exemplo. Sempre quis fazer filmes.
A música que vens criando ao longo de todo este tempo – ainda que bastante heterogénea – é facilmente identificável contigo. Quais foram as tuas maiores influências enquanto crescias? Quais as que mais te moldaram e como é que elas aparecem naquilo que crias?
Isso é mesmo muito bom de ouvir. É exactamente aquilo que todos os compositores querem. Bem, as minhas maiores influências enquanto crescia eram provavelmente Nirvana, Ulver, My Dying Bride, Björk, Billy Joel, The Cure, Bruce Springsteen… variava muito. Mas não estou muito certo que algumas delas se reflictam na música que faço hoje em dia. Como disse há pouco, as minhas influências mais fortes são aquelas que vêm de tudo o que me rodeia hoje. Além disso, sou sempre muito influenciado pelo trabalho dos meus amigos e colegas.
Tens planos para compor e gravar algo novo com os Maudlin Of The Well, os Tartar Lamb ou em nome próprio, no futuro?
Há um disco meu – Toby Driver a solo – que já está gravado e não deve demorar muito a estar cá fora. Quanto às outras bandas, eu não me oponho, mas são projetos que nos exigem tanto tempo e que são tão caros financeiramente que, sinceramente, por agora, não tenho vontade de gastar a minha energia neles. Os Kayo Dot consomem quase todos os segundos que tenho no meu tempo livre.
Se pegarmos na primeira letra de cada palavra do nome do novo álbum de Kayo Dot – Plastic House On Base Of Sky – forma-se a palavra PHOBOS. Na mitologia grega, Phobos é a personificação do medo. Este novo disco está de alguma forma relacionado com o medo? Podes explicar um bocadinho o conceito por trás do disco?
Acho que essa é uma interpretação válida, sim. Mas não tem de ser a única. A maior parte do disco gira à volta do trans-humanismo, ou se quiseres, da transição do estado humano para algo além do humano. A imortalidade e a desmaterialização, conceitos que se estendem para além do pensamento humano. Dessa forma, podem ser conceitos associados ao medo… mas excitantes ao mesmo tempo. Por acaso, foi dessa forma que me senti enquanto criava este disco, por isso essa é uma boa metáfora. E há muitas coisas fixes sobre Phobos que estão simbolicamente muito presentes! Mas, de qualquer forma, o disco chama-se Plastic House On Base Of Sky e tem o seu próprio significado.
A canção “Amalia’s Theme” foi escolhida como primeira amostra do novo disco. Se me permites fazer um jogo de associação livre, Amália Rodrigues é o maior ícone da música portuguesa. Conheces o fado e a Amália?
Claro que sim! E até é fixe se os portugueses sentirem, de alguma forma, afinidade com essa canção. Mas acho que não ia ser muito elogioso para a Amália Rodrigues se pensarmos nela como o sujeito da canção. A canção é sobre algo diferente.
Os Kayo Dot tocaram em Portugal há uns anos atrás. Tens alguma memória dessa passagem por cá?
Sim, divertimo-nos imenso! Desta vez vai ser bastante diferente. A nossa formação é muito mais pequena e, por isso, vamos focar-nos no material mais recente. Isto quer dizer que os nossos concertos desta vez não vão exigir tanta paciência como nessa altura. [risos]
A Mia Matsumiya [ex-membro de Kayo Dot] esteve envolvida num acidente de viação recentemente e tu foste bastante crítico do sistema de saúde norte-americano…
Sim, é absolutamente fodido. O que é que posso dizer mais?
Choirs Of The Eye (2003): Suites post-metal exuberantes e orquestradas.
Dowsing Anemone with Copper Tongue (2006): A minha primeira incursão a compor para uma banda ao vivo. Sonetos misturados com post-metal.
Blue Lambency Downward (2008): Rock psicadélico acompanhado por instrumentos de sopro de madeiras, inspirado no jazz africano ocidental.
Coyote (2010): Suites pós-punk gótico com destaque para a guitarra-baixo e leads de trompete e sax-alto.
Stained Glass (2010): Cenas musicais compostas como vitrais a representar a queda e a ascenção de Lucifer.
Gamma Knife (2012): O que acontece quando o black metal é levado um pouco mais longe em termos formais e gravado ao vivo em concerto, porque na altura não tínhamos editora nem orçamento para gravar.
Hubardo (2013): O disco conceptual que marca o nosso décimo aniversário. O culminar dos anos anteriores. Um fim e um início em si mesmo.
Coffins on Io (2014): New-wave gótica e progressive com produção digna de sintetizadores pop.
Plastic House on Base of Sky (2016): Música do futuro, de outra dimensão, de outra raça.