Entrevista


My Cruel Goro

A música é uma arte bonita porque todos podemos tirar dela aquilo que queremos.


Um passado musical a pares entre Andrea Maraschi e Andrea Marcellini levou a uma busca incessante por um baterista, que culminou com o encontro de Tommaso Adanti, formando-se assim os My Cruel Goro. Depois do mais difícil feito, nasceu o EP de estreia homónimo deste trio que se divide entre a Itália e a Islândia, e o resto o futuro o dirá. Quanto a nós, despertaram-nos desde logo a curiosidade quando nos entraram caixa do correio dentro, e por isso quisemos trocar algumas palavras com o vocalista e guitarrista Andrea Maraschi.

Olá Andrea, obrigado por responderes às nossas questões. Podes começar por apresentar a banda e falar-nos um pouco dos My Cruel Goro?
Os My Cruel Goro são três rapazes de diferentes locais (Itália, Islândia e Pergola, que é um tipo de cidade estado no centro de Itália). Três rapazes que gostam de tocar alto e praguejar, se possível, ao mesmo tempo.

Tinhas já, com o Andrea Marcellini, um projecto anterior, e uma das razões que apontam para não terem ido para a frente com ele foi o facto de não conseguirem ter um line-up estável, foi complicado arranjar alguém que partilhasse a mesma visão e se dedicasse tanto quanto vocês?
Raios, foi bastante difícil. Acho que perdi os melhores anos da minha vida à procura de um baterista decente. Eventualmente achámos um, mas agora estou velho.

Sentindo essa dificuldade, ser um duo alguma vez foi uma opção ou não se adequava ao que pretendiam fazer?
Até um certo ponto chegámos a pensar que era algo que nos servia, mas estávamos enganados. Era algo que nos limitava, só conseguíamos tocar em acústico e isso era terrivelmente aborrecido.

Como é que conheceram o Tommaso e se aperceberam que ele era o elemento certo para finalmente levar as coisas para a frente?
Basicamente encontramo-lo debaixo da nossa árvore de natal. Mas ele tinha vestido uma t-shirt do Balotelli e, por isso, pensámos seriamente em enviá-lo de volta para o buraco de onde tinha saído. Depois ensaiámos, vimo-lo a tocar e fizemos um acordo: ok, bom groove, más t-shirts, vais tocar nu (no entanto, deixamos que use calças).

Com a sua entrada decidiram terminar o projecto que tinham e então formar os My Cruel Goro. Porquê esta decisão? Não fazia sentido continuarem presos a esse passado e foi melhor libertarem-se e começar de novo?
Bem, antes do Tommaso éramos dois gajos bonitos e agora somos três. Fazia sentido.

Sendo um trio italiano que agora se divide entre a terra mãe e a Islândia, como é que têm conjugado essa distância geográfica? Isso interferiu de algum modo no processo de composição e gravação do EP que lançaram recentemente?
Sim, acontece tudo muito mais lentamente. Mas também adiciona alguma excitação à coisa toda, não sei… o melhor mesmo é virem ver-nos em palco!

Falando deste trabalho de estreia, parece-me que a sua recepção está a ser bastante boa, estavam à espera disso? Que expectativas tinham e têm para este lançamento?
Por acaso, não estava. E não por causa das músicas, estão ok, mas por causa dos críticos. Imagino-os sempre nos seus quartos pequenos e escuros a julgar o trabalho das outras pessoas porque não conseguem escrever as suas próprias coisas. Geralmente tendem a ser um bocado maus, rudes e pouco respeitosos para as bandas mas, desta vez, estão a dizer bem de nós, por isso, quem quer saber.

Como é que descreverias estas três faixas do EP? Sentes que estes cerca de 10 minutos de duração representam bem aquilo que são os My Cruel Goro?
Hmm… a “Clash” é uma boa introdução. Nada de especial, mas é forte. A “Crapford” é a música mais ao estilo de uma balada das três, as pessoas gostam dela porque é simples e enérgica. A “Glue Buzz” é impressionante a partir de vários pontos de vista.

Muita gente vos tem comparado a grandes nomes musicais dos anos 70 como os The Clash ou os The Stranglers, por exemplo. Achas justa estas comparações? É algo que vos coloca mais algum bocadinho de pressão sobre os ombros?
Raramente entendo como raio fazem comparações. Acredito que, desta vez, foram influenciados pelo título da primeira música que, por sinal, é tudo menos uma referência aos The Clash. No entanto, estou satisfeito, porque as pessoas nos ligam a várias bandas, mas nunca às mesmas. A música é uma arte bonita porque todos podemos tirar dela aquilo que queremos.

Cada um destes três temas tem um vídeo a acompanhá-lo. É importante para vocês poder aliar a música também a uma componente audiovisual?
Infelizmente, actualmente é. Mas nós somos péssimos em vídeos, é por isso que evitamos aparecer no ecrã. No entanto, no vídeo da “Clash” (que ainda está por sair) temos uma protagonista super fantástica. Ela vale a pena.

Fala-se sempre muito da questão dos downloads ilegais e dos serviços de streaming serem ou não uma boa solução para as bandas. No vosso caso e para este lançamento, optaram por disponibilizar gratuitamente o vosso EP, o que é que vos levou a tomar essa decisão e qual é a vossa visão sobre este assunto?
Porque, como já alguém disse, actualmente as pessoas preferem gastar 4$ num café que dali a 30 minutos vão despejar numa casa de banho, em vez de gastarem 0.99$ numa música.

Têm já planos para a apresentação ao vivo deste EP?
Numa palavra: Islândia!

Guardei para o fim aquela pergunta meio batida relacionada com nome da banda, mas apenas por curiosidade. Quando penso em Goro lembro-me do personagem do Mortal Kombat, que por acaso é bem cruel. No entanto, enquanto pesquisava, descobri que Goro é uma região de Itália e se calhar isso faz bem mais sentido, alguma relação com uma das duas?
Finalmente! És o único que entendeu, a primeira opção está correcta (risos).


sobre o autor

Hugo Rodrigues

Multi-tasker no Arte-Factos. Ex-Director de Informação no Offbeatz e Ex-Spammer na Nervos. Disse coisas e passou música no programa Contrabando da Rádio Zero. (Ver mais artigos)

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