Entrevista


Fernando Vasquez

«O Stalker do Andrey Tarkovsky em versão realidade virtual serie inquestionavelmente uma experiência única.»


Fernando Vasquez, Director de Programação Cinematográfica do FEST – Novos Realizadores | Novo Cinema desde 2010, respondeu ao nosso desafio “8 ½ perguntas a um cinéfilo“.

1. Quando e como te apaixonaste pelo cinema?

Ainda enquanto criança, acima de tudo quando apareceu o primeiro leitor de vídeo lá em casa e comecei a rever os mesmos filmes centenas de vezes e a passar grande parte da minha infância no clube de vídeo. Mais tarde, no final do liceu este sintoma tornou-se um pouco mais sério quando descobri que era possível estudar Cinema na Universidade. Desde então o caminho foi sempre em frente.

2. Tiraste o curso de Cinema. O que te levou a essa decisão?

Sempre gostei de escrever e uma psicóloga da escola, que aconselhava os alunos a nível de percurso académico pós-liceu, estimulou-me a inscrever num curso de escrita de argumento. Acabei por optar ir estudar Cinema para Inglaterra. O que acabou por ser uma excelente decisão.

3. Programar um festival de cinema era um dos objectivos de curso? Ou foi uma decisão provocada pela escassez de saídas profissionais?

Confesso que como estudante, para além de saber da existência dos festivais de Cannes e Sundance, não tinha a noção do que era de facto um festival de cinema, como tal programar cinema não fazia parte dos meus objectivos. Mesmo depois de acabar o curso o meu objectivo era produção e crítica de cinema. Acabei a trabalhar em festivais por mero acaso, acima de tudo porque ao regressar a Portugal apercebi-me que aqui é extremamente difícil viver trabalhando em produção fora de Lisboa, e mais complicado ainda viver como crítico de cinema. Para além disso, já tinha uma relação pessoal com o director do FEST, o Filipe Pereira, que me abriu as portas ao evento. Isto aconteceu há cerca de 10 anos atrás, desde então a programação de cinema passou a dominar a minha vida por completo.

4. Se pudesses viver dentro de um filme, qual seria?

É uma pergunta complicada. O meu filme favorito é o Apocalipse Now, mas confesso que não me agrada muito a ideia de viver naquele ambiente de descontrolo total e perigo eminente. Pensando bem, quase todos os filmes que mais aprecio apresentam alternativas de vida péssimas, por isso escolho The Beach do Danny Boyle, um filme decente, inspirado num livro infinitamente melhor, com o ambiente ideal.

5. Há algum filme que adores mas os teus amigos nem por isso?

Acontece com muita frequência. Eu tenho um gosto variado mas complicado. Gosto de sair de uma sala de cinema de boca aberta, e nem sempre os meus amigos gostam dessa experiência. É no entanto importante referir que o meu trabalho como programador, infelizmente, não passa por escolher só filmes que eu goste pessoalmente, mas sim filmes que são importantes exibir e que tenham algo de muito relevante a oferecer à nossa audiência.

6. Qual a tua banda sonora favorita?

Embora não seja de todo um compositor que me agrade muito, a banda sonora do Blade Runner do Vangelis é um clássico sem paralelo. No entanto a banda sonora que mais me agrada hoje em dia é a do Scott Walker para o filme Childhood of a Leader de Brady Corbet. É inesquecível e nunca ouvi nada assim. Recomendo a todos.

7. Qual o melhor filme para um Domingo à tarde?

Ferris Buller Day Off. Um dos grandes filmes da minha adolescência e para o Domingo à tarde exige-se algo que não exija muito da audiência.

8. Que filme clássico gostarias de ver “melhorado” com tecnologia de realidade virtual e aumentada?

O Stalker do Andrey Tarkovsky em versão realidade virtual serie inquestionavelmente uma experiência única. E é um filme que já me fartei de ver e só ficaria bem revê-lo noutros formatos.

8 ½ . Emmanuel Lubezki ou Robby Müller?

Com todo o respeito pelo Muller e o seu trabalho, o Lubezki é claramente de outro planeta, como tal a escolha terá de ser o grande “Chivo”.


sobre o autor

Isabel Leirós

"Oh, there is thunder in our hearts" (Ver mais artigos)

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