Leonor Baldaque

A Few Dates of Love
2024 | Edição de autor | Folk-Rock

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Quando Leonor Baldaque comprou uma guitarra, não sabia que uma nova expressão artística, a este ponto intensa, a aguardava e se tornava na sua nova paixão. Esta veio-se juntar às outras duas que praticava há anos, a representação no cinema enquanto actriz de Manoel De Oliveira, e a escrita de romances sendo autora publicada por duas das mais prestigiadas e exclusivas editoras de literatura francesas.

Foi há três anos apenas que a guitarra entrou na sua vida, e a quantidade de canções que compôs desde então é estonteante. A sua frequentação da música não é recente — estudou violoncelo e piano — mas, até agora, como ela diz «não sabia que tinha uma voz ». Este álbum está aqui para mostrar que tem uma voz, e que voz: única, profunda, recitando como quem canta, e cantando como quem recita. Uma voz envolvente, médio-grave, e que percorre os seus textos com uma intimidade desarmante, e um sentido da representação inato.

Em A Few Dates of Love, o seu álbum de estreia, Leonor Baldaque fez uma escolha, em parte cronológica, começando pelo início, em parte narrativa, contando uma história, e seleccionou dez temas. Estamos perante uma poetisa, antes de mais. De uma contadora de histórias. E de uma intérprete de génio. A simplicidade da guitarra, na maior parte dos temas, é constantemente envolta de melodias que parecem viajar sós por cima dessas notas. A sua voz dá-se, retira-se. Desvenda e esconde. A sua narrativa é pessoal, recorrendo a um imaginário rico, que é como um poço de palavras, de imagens e cenários, quase sem fundo. O vento, a viagem, o amor, a falta dele, o anoitecer sobre uma guitarra; o Verão, o exterior, os Canyons, o álcool e um palácio: passageiros no seu mundo, Leonor Baldaque arrebata-nos consigo, e não conseguimos retirar a nossa atenção do que nos veio dizer.

#1 It’s the Wind

É a canção com que começo os concertos, leva-me como um vento para o concerto, e para o mundo onde nascem das canções, esse mundo onde o interior e o exterior dialogam.

#2 You Hide Desire

You Hide Desire é como uma valsa, a dança do desejo, da revelação ou não do desejo, das suas penas, do seu começo.

#3 Sunburned Guild

Sunburned Guild fala de uma guitarra queimada pelo sol, de onde sai um som límpido. A forma de a toar, fui buscá-la ao meu amor Leonard Cohen. Aqui estamos no Verão, com uma bebida e uma cadeira ao sol, e um vestido branco — e a mentira.

#4 Few Dates of Love

Few Dates of Love é uma homenagem a todas essas canções que contam histórias, como as de Pete Seeger. É longa. Passa-se na Grécia. Adorei também fazer este videoclip, o meu primeiro. Foi um trabalho louco de que estou muito orgulhosa. Adoro repensar no momento em que foz o videoclip, e em que compus a canção.

#5 Charleston

Charleston é a única canção que não regravei para o album. É a versão da demo que está no album. Não a alteraria por nada no mundo. Foi assim que a gravei quando ainda quase não tinha tido aulas de guitarra, nem de canto. Conta a história de saída de uma casa, de um mundo, a descoberta de outro mundo, a procura de mais mundos ainda.

#6 The Palace

The Palace é uma viagem até à India. A Índia dos palácios e das pulseiras nos tornozelos das mulheres, dos véus e das flores perfumadas. È inspirada pela poesia erótica indiana, que amo. Quando a começo a cantar, parto para muito longe.

#7 This is Where

This is Where é a minha canção mais pop. Adoro-a pois é um strum vivo, e doce, e melancólico. Falar desse lugar onde estamos quando estamos perdidos. Esse no man’s land quando o amor falhar, desaparece, e tudo parece desaparecer.

#8 My New Drink

My New Drink é uma pura canção de desejo. Ume canção de metamorfose de si e do ser amado numa bebida inebriante, inebriante até ao coma.

#9 Call me Love

Call me Love é minha canção mais desesperada. Fala-me, ama-me. Tão simples quanto isto. Não te deste ao trabalho de me telefonar, mas eu dei-me ao trabalho de te amar. Tão simples quanto isto.

#10 Archetype of Love

Archetype of Love, fala desse encontro possível com um amor que pode parecer o arquétipo do amor, o modelo perfeito, o primeiro, o cúmulo da perfeição no amor.

O melhor concerto onde toquei, ah, todos. Mas claro que a Casa da Música foi muito especial. O primeiro grande. Foi há tão pouco tempo. Há tão poucas semanas. Parece ainda un sonho. Mas devo dizer que esse concerto tão underground, que foi o da Socorro no Porto, foi mágico também. Senti-me tão bem ali, naquela cave, com as pessoas pé, a ouvir-me, um copo na mão. Se eu pudesse voltava lá hoje.

O que quero transmitir com a minha música é o interior. A interioridade. A autenticidade. A nudez. A convicção de que com muito pouco se pode fazer muito : alguns acordes muito simples, uma voz, mais nada. É uma proposta a contra-corrente, e eu gosto disso. Estou fora desse lugar onde acontece o ruído, eu gosto disso, Sempre vivi assim, pois é no silêncio que se cria, e na solidão. Quem disser o contrário, não sabe do que está a falar. Uma mesa, uma noite, ninguém perto, uma janela aberta, ou fechada, é o que basta. Mais a guitarra, e um acorde. É o que basta.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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