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“A Revolta dos Hipersensíveis” é o primeiro álbum de “polivalente”. O disco caracteriza a metamorfose dum sujeito emocionalmente oprimido, rejeitado e de incompreendida sensibilidade, para um outro estágio do seu ser. É a consciencialização de si mesmo, depois de uma intensa busca interna, percebendo que o ganho está precisamente no “buscar” e não no “atingir”.
Musicalmente é para mim um álbum de rock progressivo que tenta incorporar estruturalmente estilos muito variados, da bossa-nova ao free, do latin jazz ao punk, do indie ao stoner.
Escrevi este tema inspirado pelo meu repúdio à tradição das touradas em Portugal e no mundo. Tentei com ela dar uma voz ao que seria o sentimento de um touro capturado para esse fim. Acaba por ser uma crítica leve mas assertiva que visa mostrar essa minha posição em relação a este assunto. Tentei enveredar por uma sonoridade que puxa uma onda mais latina mas também progressiva, incorporando os sopros como uma referência musical ao meio das práticas tauromáquicas.
Acredito que em todas as ocasiões onde sentimos dor, seja ela de que calibre for, temos o espaço e até a responsabilidade de evoluir. Esta música fala sobre as incertezas que senti em relação a questões amorosas e sobre a minha submissão a elas, no período em que estava a escrever o álbum. Foi um período emocionalmente muito peculiar e nada fácil de lidar. Mas lá está, fez-me ver a vida como vejo hoje. Fez-me evoluir. É, para mim, a aceitação da dor em nós, para depois perceber o papel dela na nossa existência.
“É na boa” trata-se de uma música que conta uma história dividida em quatro capítulos. No 1º, o sentimento cego e destrutivo de constatar que se está na merda. Sem revolta, só dor e a tentativa de encobrir tudo isso com um falso bem estar; no 2º, uma autocrítica, um ganho de noção da idolatração de outro ser e o primeiro indício de querer mudar; 3º, a revolta, o encarar puramente cru do estado em que se encontra o sujeito, e a real necessidade de mudar, explodir e expandir; no 4º, a paz, a conclusão da metamorfose, a evolução, o fim da viagem que inicia outra no mesmo instante. Concluindo, é um retrato sonoro de uma experiência de metamorfose com várias fases, não tivesse ela sido escrita também faseadamente.
Esta viagem instrumental é uma mera interpretação da insatisfação constante de que sempre falta alguma coisa nas nossas vidas. Na minha opinião, é essa consciência que faz com que queiramos sempre mais e mais, e que pessoalmente me faz caminhar em paz em direcção a essa utopia. Um sentimento por vezes duro e agridoce, daí o cariz mais pesado da música.
Uma perspectiva esotérica sobre o que o estado do mundo me faz sentir. Uma música que fala indirectamente da disparidade entre classes sociais, do medo, da insegurança, e da ganância. Tentei com ela pôr em perspectiva esses mundos, as suas diferenças e como eles se relacionam e afectam mutuamente. Ela para mim é o desapego aos chamados “first world problems”. Sendo que eu vivo num país desenvolvido, não tenho noção de muitas vivências exteriores às minhas, e todas as questões que surgem dessa falta de experiência materializaram-se nesta música.
Mais uma interpretação instrumental, desta vez sobre o que sentimos quando chegamos à vida adulta – emocionalmente desamparados e sem chão. “Sem colo” porque associo o colo a algo que se tem em criança. Este som revela a minha mágoa de ser já tão grande que não caibo no colo de ninguém, assim como uma criança cabe, perfeitamente aninhada, no colo da sua mãe. A sua vibe meio “neo-bossa psicadélica” surge do peso que a mpb dos anos 60 e 70, e que artistas como João Gilberto, entre outros gigantes, tiveram no meu crescimento emocional e técnico enquanto músico e compositor.
Um tema que sinto presente em todo o álbum: a mudança. É isso que esta música representa para mim. Assim como uma borboleta que já foi lagarta e também já foi casulo. O acto de metamorfosear. Todos os níveis pelos quais passamos quando avançamos para o próximo estágio do nosso ser. Com ela tentei puxar as minhas influencias mais tradicionais, e consigo ver nela influências tão variadas como do fado, à música balcânica, até ao rock psicadélico.
Quando comecei a escrever esta música lembro-me que queria fazer uma coisa exótica e mais latina, mesmo dentro de um universo mais progressivo. “Daiquiri de Melancia” foi literalmente a primeira coisa que me veio à cabeça. Um cocktail, why not? Confesso que nem sei se existe. Daí a letra tornou-se num desabafo sobre algumas preocupações aleatórias as quais não sei bem descrever ou identificar. Sei dizer que fala sobre as nossas ilusões de controlo, e sobre a necessidade de avançar para algo. A sua sonoridade, para mim, representa a maneira como gosto de viver essas preocupações, festejando.
Há uma frase que ouvi no documentário dos Novos Baianos que diz qualquer coisa como, “Novo Baiano é aquele que nunca aceitou deixar de ser criança”. Eu sinto-me assim. Esta música é escrita sobre a minha dificuldade em aceitar a vida adulta. Da minha busca utópica e constante de continuar com a liberdade emocional e criativa de uma criança.
Esta malha é uma crítica directa ao fascismo, e à ascensão da extrema direita que tem vindo a ressurgir nestes últimos anos, um pouco por todo o mundo. Proveio de uma vontade de me expressar em relação a essa minha posição. Quis por isso fazer um som com o peso do assunto, que acaba por aliar um som punk rock com uns pujantes sopros, do groove ao free.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)