polivalente

A Revolta dos Hipersensíveis
2019 | Edição de Autor | Alternativo

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“A Revolta dos Hipersensíveis” é o primeiro álbum de “polivalente”. O disco caracteriza a metamorfose dum sujeito emocionalmente oprimido, rejeitado e de incompreendida sensibilidade, para um outro estágio do seu ser. É a consciencialização de si mesmo, depois de uma intensa busca interna, percebendo que o ganho está precisamente no “buscar” e não no “atingir”.

Musicalmente é para mim um álbum de rock progressivo que tenta incorporar estruturalmente estilos muito variados, da bossa-nova ao free, do latin jazz ao punk, do indie ao stoner.

#1 Touros De Morte

Escrevi este tema inspirado pelo meu repúdio à tradição das touradas em Portugal e no mundo. Tentei com ela dar uma voz ao que seria o sentimento de um touro capturado para esse fim. Acaba por ser uma crítica leve mas assertiva que visa mostrar essa minha posição em relação a este assunto. Tentei enveredar por uma sonoridade que puxa uma onda mais latina mas também progressiva, incorporando os sopros como uma referência musical ao meio das práticas tauromáquicas.

#2 Sei Lá Eu Evoluir

Acredito que em todas as ocasiões onde sentimos dor, seja ela de que calibre for, temos o espaço e até a responsabilidade de evoluir. Esta música fala sobre as incertezas que senti em relação a questões amorosas e sobre a minha submissão a elas, no período em que estava a escrever o álbum. Foi um período emocionalmente muito peculiar e nada fácil de lidar. Mas lá está, fez-me ver a vida como vejo hoje. Fez-me evoluir. É, para mim, a aceitação da dor em nós, para depois perceber o papel dela na nossa existência.

#3 É Na Boa

“É na boa” trata-se de uma música que conta uma história dividida em quatro capítulos. No 1º, o sentimento cego e destrutivo de constatar que se está na merda. Sem revolta, só dor e a tentativa de encobrir tudo isso com um falso bem estar; no 2º, uma autocrítica, um ganho de noção da idolatração de outro ser e o primeiro indício de querer mudar; 3º, a revolta, o encarar puramente cru do estado em que se encontra o sujeito, e a real necessidade de mudar, explodir e expandir; no 4º, a paz, a conclusão da metamorfose, a evolução, o fim da viagem que inicia outra no mesmo instante. Concluindo, é um retrato sonoro de uma experiência de metamorfose com várias fases, não tivesse ela sido escrita também faseadamente.

#4 Algo Mais

Esta viagem instrumental é uma mera interpretação da insatisfação constante de que sempre falta alguma coisa nas nossas vidas. Na minha opinião, é essa consciência que faz com que queiramos sempre mais e mais, e que pessoalmente me faz caminhar em paz em direcção a essa utopia. Um sentimento por vezes duro e agridoce, daí o cariz mais pesado da música.

#5 Mundo Revertido

Uma perspectiva esotérica sobre o que o estado do mundo me faz sentir. Uma música que fala indirectamente da disparidade entre classes sociais, do medo, da insegurança, e da ganância. Tentei com ela pôr em perspectiva esses mundos, as suas diferenças e como eles se relacionam e afectam mutuamente. Ela para mim é o desapego aos chamados “first world problems”. Sendo que eu vivo num país desenvolvido, não tenho noção de muitas vivências exteriores às minhas, e todas as questões que surgem dessa falta de experiência materializaram-se nesta música.

#6 Sem Colo

Mais uma interpretação instrumental, desta vez sobre o que sentimos quando chegamos à vida adulta – emocionalmente desamparados e sem chão. “Sem colo” porque associo o colo a algo que se tem em criança. Este som revela a minha mágoa de ser já tão grande que não caibo no colo de ninguém, assim como uma criança cabe, perfeitamente aninhada, no colo da sua mãe. A sua vibe meio “neo-bossa psicadélica” surge do peso que a mpb dos anos 60 e 70, e que artistas como João Gilberto, entre outros gigantes, tiveram no meu crescimento emocional e técnico enquanto músico e compositor.

#7 Metamorfosear

Um tema que sinto presente em todo o álbum: a mudança. É isso que esta música representa para mim. Assim como uma borboleta que já foi lagarta e também já foi casulo. O acto de metamorfosear. Todos os níveis pelos quais passamos quando avançamos para o próximo estágio do nosso ser. Com ela tentei puxar as minhas influencias mais tradicionais, e consigo ver nela influências tão variadas como do fado, à música balcânica, até ao rock psicadélico.

#8 Daiquiri de Melancia

Quando comecei a escrever esta música lembro-me que queria fazer uma coisa exótica e mais latina, mesmo dentro de um universo mais progressivo. “Daiquiri de Melancia” foi literalmente a primeira coisa que me veio à cabeça. Um cocktail, why not? Confesso que nem sei se existe. Daí a letra tornou-se num desabafo sobre algumas preocupações aleatórias as quais não sei bem descrever ou identificar. Sei dizer que fala sobre as nossas ilusões de controlo, e sobre a necessidade de avançar para algo. A sua sonoridade, para mim, representa a maneira como gosto de viver essas preocupações, festejando.

#9 Sem Querer Cresci

Há uma frase que ouvi no documentário dos Novos Baianos que diz qualquer coisa como, “Novo Baiano é aquele que nunca aceitou deixar de ser criança”. Eu sinto-me assim. Esta música é escrita sobre a minha dificuldade em aceitar a vida adulta. Da minha busca utópica e constante de continuar com a liberdade emocional e criativa de uma criança.

#10 ‘Ta Qui Pariu

Esta malha é uma crítica directa ao fascismo, e à ascensão da extrema direita que tem vindo a ressurgir nestes últimos anos, um pouco por todo o mundo. Proveio de uma vontade de me expressar em relação a essa minha posição. Quis por isso fazer um som com o peso do assunto, que acaba por aliar um som punk rock com uns pujantes sopros, do groove ao free.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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