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Depois de se estrearem com “Soft Violence“, e de se apresentarem em festivais emblemáticos como o Festival Vodafone Paredes de Coura (Sobe à Vila), os Dream People editaram em Março o seu segundo disco, “Almost Young“, álbum acima de tudo dialético. Um exercício assumido de chiaroscuro musical, em que a leveza e o amor coabitam com a dor, a perda e a solidão, muitas vezes dentro do invólucro de uma só canção. Os Dream People não renunciam a mostrar as várias cores e dimensões das suas canções, mesmo que isso implique músicas de maior duração. É aí que reside a profundidade de seu trabalho.
A “People Think” é o primeiro single do disco. É a música mais “comercial” do disco, mas também das que tem a mensagem mais dura, como uma suave festa que ao chegar à cara decide transformar-se numa chapada. É, no fundo, a irmã moderna e florescente da Putos de Portugal, música do nosso primeiro EP. Primeiro sente-se, dança-se, abana-se o capacete, depois atenta-se na letra e percebe-se que, na verdade, estamos a ser rasteirados pela nossa mediocridade. É a vida.
Uma prima afastada da Putos de Portugal. Prosseguimos na mesma onda confrontativa que um dia ainda nos vai render insultos ou legumes frescos na face durante um concerto. A ideia inicial era bem menos ‘punky’ – era quase eletrónica – mas durante a produção entendemos que devia ganhar músculo. Todo este estilo de fazer letras contra o que é “normal” e chato na vida acaba por espelhar as fases da vida em que estamos: mudando a pele, passando para o “mundo dos adultos” e vendo aterrados as multidões olhos vazios que populam este novo mundo. Trivia: o nome “Suburban Lifestyle Dream” vem de um tweet de Donald Trump. Este:
A Talking of Love é uma música que mistura várias influências e que fala acima de tudo sobre liberdade, metendo lá no meio sexualidade e religião. A ideia inicial partiu das mãos do Nuno e acabou depois por ser esculpida em conjunto o resto da banda. É uma música feita de várias moods, cores e dimensões diferentes e é isso que a torna interessante: do início mecânico e quadrado – remetendo para uma espécie de linha de montagem onde seres iguais são montados, empacotados e despachados – ao fim etéreo, descreve-se uma espécie de revolução cultural, uma jornada em busca do amor próprio, um caminho para a liberdade individual, onde pelo caminho são “rebentados” todos os espartilhos que nos impedem de lá chegar. É a nossa primeira música assumidamente ateia.
A IKEA é uma balada musculada. A ideia inicial surgiu do Francisco e era para ser uma música calminha e agradável, uma suave carícia no ouvido do público. Mas chegaram Bernardo e Nuno e num dia, quem sabe, mais inspirado, decidiram dar esteroides à balada. E assim foi. A música é construída como a história de uma relação. A primeira parte descreve o início de um grande amor. Na segunda parte o relacionamento deteriora-se e num final com algumas influências de Jeff Buckley tudo acaba numa explosão de dor e mágoa. No final, ficamos sozinhos, sabendo tudo sobre quem já não está lá.
A Almost Young a música que dá o nome ao disco e com razão: é exatamente aqui que estamos na vida e, na verdade, é este o tema de todas as nossas músicas: a perda da juventude, a angústia de se ser quase jovem, mas não se poder voltar a sê-lo. O medo de mudar de pele, o medo de nos perdermos no caminho. ‘Almost Young’ é uma música e um disco sobre o fim de uma era, sobre deixar para trás uma etapa de vida a que toda a gente, mesmo que não o diga, gostava de poder voltar. “Ah quando eu era miúd@”. Estamos a ficar mais velhos e apesar de o assumirmos com naturalidade, há uma camada bem grande de melancolia que fica bem espelhada nesta música. A ideia partiu do Francisco mas parava depois de dois refrões. Um dia o Bernardo fartou-se e, brandindo graciosamente a sua guitarra, criou a épica sequência final.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)