“amortempo“, de Aníbal Zola, é essencialmente um disco de canções em português com uma abordagem musical de busca de identidade produzido por um contrabaixista.

Editado no passado dia 28 de Fevereiro com apoio da Fundação GDA no âmbito da Edição Fonográfica de Intérprete, procura essencialmente fundir música portuguesa com música latino americana e dá, com frequência, espaço para a improvisação. As letras não são mais do que as próprias inquietações do artista que se espelharam em temas já muito explorados pela humanidade, e que, em Aníbal Zola, surgiram através de um processo bastante inocente.

Esta é a única música sem letra do disco. É uma música baseada num loop de contrabaixo e tem uma abordagem experimental, de busca timbrica e rítmica em jeito de introdução. É o início da viagem, o marinheiro aprendeu a fazer o seu primeiro nó.

Já tendo letra, é ainda assim uma musica com uma abordagem bastante experimental, tanto rítmicamente (é um 7/4) como melódica e harmónicamente, é uma tentativa de aproximação ao universo musical de Avishai Cohen. A letra fala de como é bom ter a cabeça vazia, não pensar em nada e não ter absolutamentemente plano nenhum para o futuro, no fundo meditar e o quão difícil isso é, especialmente para a cultura ocidental.

Esta é uma música que fala de esperança, tenta transmitir a ideia que na arte há sempre espaço para mais um se o conteúdo for genuíno, aliás, esse é a meu ver o verdadeiro intuito da arte, o lugar da total liberdade de expressão. Musicalmente é uma espécie de shuffle sujo meio bluesy inspirado em Tom Waits.

Uma vez li um conto de ficção científica chamado “Finis” escrito por Frank L. Pollack que conta a história de um possível futuro na terra onde um cientista tinha a teoria de que o universo não era afinal infinito, havia um sol no seu centro à volta do qual tudo rodava e que em determinado dia a luz desse sol iria chegar à terra. O conto desenrola-se numa varanda onde um casal conversa à espera dessa luz no dia em que supostamente ela chegava. A letra desta música tenta descrever esse momento, musicalmente é um danzón Cubano com pitadas de Tango Argentino, fundido com uma maneira bem portuguesa de cantar. De salientar a participação do Juan de la Fuente Alcón nas percussões e do João Gentil no acordeão, profundos conhecedores da música da América Latina.

Este é um samba homenagem ao enorme Paulinho da Viola, conta com a participação da Carol Mello, Iury Matias, Chico Bastos, Miguel Pais e Ivo Pinho. A letra aborda a temática do amor utilizando palavras e expressões características das músicas do Paulinho da Viola.

Esta música é um swing rápido com uma letra saída num só jorro. Tenta descrever a vida de um cão e além disso fala de tudo e não fala de nada, é essencialmente instintiva. Já me disseram que é o chico fininho dos cães.

É um tema que escrevi há três anos que tem como inspiração o samba de uma nota só de António Carlos Jobim e Newton Mendonça. A letra é muito curta dizendo que não é por querer incluir muitas influências ou complicar muito uma canção que esta será especial para quem a compõe, fala daquela faísca de inspiração algo misteriosa que é difícil explicar de onde vem. Foi uma canção que escrevi muito rapidamente e que desde aí tive sempre muito medo de mexer por achar que estava perfeita só assim, simples.

Esta música é uma espécie de vira minhoto juntando cavaquinho português, tracanholas e bombo ao contrabaixo. Foi escrita numa altura da minha vida em que eu tocava muito na rua das Flores no Porto, a letra fala disso abordando o “busking”, actividade cada vez mais disseminada e que tanto músico ajuda e ajudou em alturas de pouco reconhecimento.

Esta canção de certa maneira foi a semente para toda a construção deste disco. Sendo eu alguém que há anos tenta explorar e compor tendo a música brasileira como base, sempre me debati com o facto de não ser brasileiro e de isso fazer a minha música soar, de certa maneira, forçada. Sendo eu também alguém com muito pouca relação com o fado até este momento, a não ser aquela relação que todos temos ao ter Amália na voz, decidi fazer um fado. Para minha surpresa, saiu-me logo uma música super pertinente a meu ver, o que me faz pensar que esta coisa da cultura corre mesmo nas nossa veias, não há como fugir. A letra relaciona o fado / destino com o nosso destino que é morrer um dia, D. Boa Morte é uma senhora imaginária que vagueia pelas ruas à espera do seu momento. Há também nesta música, como no Tango da Lua Nova, uma tentativa de fusão do Fado com a música da América Latina em especial de Cuba, esta é um danzón mais uma vez. De salientar a participação do Juan de la Fuente Alcón nas percussões e do João Ferreira Martins na guitarra portuguesa.

É uma música de clara inspiração cigana, misturando jazz manouche com uma certa sensação mariachi, como se fosse uma marcha no dia dos mortos no México, não sendo uma marcha musicalmente. A música de LLasa de Sela está na base para a inspiração deste tema bem como uma banda actual francesa chamada Zoufris Maracas. A letra é uma tentativa de imaginar como é que a morte e o amor se dariam se fossem pessoas, seriam distantes mas não poderiam viver um sem o outro, talvez. De salientar a participação de João Cardoso aka Mau Olhado na guitarra folk / Manouche.