TOMARA

Favourite Ghost
2017 | Edição de Autor | Folk

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A primeira obra a solo de Filipe Monteiro vem sob o alter-ego de Tomara e intitula-se Favourite Ghost. Editada na passada semana, o muito bonito disco é aqui descrito faixa a faixa pelo próprio.

#1 Hallow

Foi a canção que ditou o início do processo de fazer um disco. Gravei um esboço em 2011, num pequeno escritório onde trabalhava em vídeo como freelancer. Enviei-o por email para a Márcia que tinha conhecido há muito pouco tempo e para quem ia filmar o vídeo da “Cabra-Cega”. Foi uma espécie de carta de amor. De resto única que enviei na vida. Ela foi a primeira a dizer-me que tinha de fazer um disco. E assim o fiz. E esta canção marca o seu início.

#2 Coffee And Toast

Esta canção é um pedido de desculpas. À falta de melhor talento para a descrever recorro-me do que o Ricardo Mariano escreveu sobre ela; “”Coffee And Toast”, … , marca de forma segura o ritmo e a pulsação de “Favourite Ghost” . Pontuada por pianos, guitarras lânguidas, uma percussão firme e pausada, a canção narra de forma bela e redentora dias em que a felicidade foi, circunstancialmente, mergulhada num qualquer nevoeiro desordenado e difícil: quase penumbroso. A música salva, esta fá-lo docemente. O amor emerge ressoante.”

#3 Favourite Ghost

Canção que fiz para a minha filha Carolina, que tem agora 5 anos e meio. É um recado que quero que a acompanhe a vida toda. E é também um recado para mim próprio.

#4 For No Reason

Esta foi talvez a canção mais difícil de terminar porque percebi que abordava, de uma forma muito directa, o medo de dar um passo que se revelava difícil e essencial para mim. Alguns medos perseguem-nos e, com a idade, tentamos arrumá-los num sítio onde achamos que já não nos vão atormentar. Porque acreditamos que a fase das grandes mudanças já passou, ficou lá atrás, e que nos podemos resignar a isso. Mas não creio que isso seja possível. Acredito que esses “fantasmas” só se tornam mais presentes com o passar do tempo. Durante 2 ou 3 anos esta canção foi apenas um instrumental onde me deixei levar pela energia da guitarra e da secção rítmica. Tinha um pulso diferente das outras canções, mais visceral para mim. Um misto de angústia e esperança. Quando percebi que queria escrever e cantar algo sobre essa paisagem sonora foi inevitável ter de escrever de uma forma mais directa e mais dura. E esse foi um passo muito demorado, carregado de dúvidas e incertezas, até o sentir firme. Acho que a canção, em parte, explica o porquê de eu estar a lançar o primeiro disco a solo aos 38 anos.

#5 Hope For The Best

Canção-encruzilhada. Fala de um momento difícil. Um ponto de viragem, de mudança. O medo turva-nos a perspectiva e impede-nos de olhar para a mudança como algo renovador. Só nos deixa sentir o travo da incerteza. E aí não se vê caminho, só sombra. Esta canção é um diálogo sobre isso, sobre a procura de um caminho que não se vê e a esperança de o encontrar.

#6 The Road

Foi a primeira canção que postei no Soundcloud. É um tema instrumental muito simples que apela ao meu lado escapista. Desenha paisagens onde me revejo. Há um silêncio e uma imensidão nesta canção que faz parte do que sou. Por isso a mantive assim, simples e despojada de ornamento.

#7 House

Esta é a canção mais antiga de todas. Trauteava os primeiros versos já há muitos anos. Era uma canção de lamento por algo que me faltava. Entretanto a vida mudou e esta canção transformou-se num momento de reconhecimento pela felicidade que me rodeia na minha casa. Acrescentei-lhe a segunda estrofe, já com a voz da Márcia a acompanhar a minha, porque só isso fazia sentido. É uma canção muito importante para mim, não só por isto, mas pela sua simplicidade que me mantém a crença de que a música também pode ser isso.

#8 The Land At The Bottom Of The Sea

Desde sempre gostei de construir peças instrumentais. Nelas vejo imagens reflectidas no som. Daí a minha profunda adoração por Bandas Sonoras. Este tema foi gravado “de rajada” sem grande planeamento. Começou com uma linha de guitarra, repetida vezes sem conta numa tarde de estúdio (passo horas a fazer isso). Tudo o resto que gravei por cima foi feito de uma assentada, sem pensar muito nem repetir “takes”. É um momento de descarga emocional que me é difícil descrever ou definir. Na altura em que o gravei estava a dar aulas de Audiovisuais e Multimédia na FBAUL, e um dos projectos que lancei aos meus alunos era trabalharem sobre uma peça sonora da Delia Derbyshire , “THE DREAMS”. O nome deste tema (the land at the bottom of the sea) acaba por ser uma citação de um dos momentos da peça da Delia Derbyshire, talvez por sentir afinidades entre as duas coisas.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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