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Gravado entre Brasil e Portugal, “Gratitrevas“, disco de estreia de ÀIYÉ, é íntimo, político, intenso, mas, ao mesmo tempo, leve. Este disco remete para um momento de renascimento, entre mil outras questões particulares, uma vez que marca a primeira incursão a solo de Larissa Conforto, após o fim da banda Ventre (RJ), na qual tocou bateria durante seis anos.
Foi minha primeira composição da vida, um côco para minha avó Isis, um mantra sobre resiliência. Sementes são como idéias: uma vez plantadas, elas brotam, crescem e geram mais sementes. Elas contém toda a potência da vida em uma casquinha, e não morrem nunca. Em tempos de crise global e pandemia, pode ser um acalento durante a quarentena. Brotaremos dos asfaltos <3
É um canto sobre o alto fluxo de informações e notícias, todos os dias. Uma reflexão sobre o excesso e a necessidade de esvaziar, em contraponto com a ironia da vida que se faz única pela iminência da morte, assim como o ar, que nos é vital para a respiração, mas também oxida os nossos órgãos e ossos, num processo natural de envelhecimento. Afinal, pra se encher de novas coisas, é preciso deixar ir, e essa é a grande beleza da vida. Ela veio de um poema que escrevi pra Ventre, que recito no fim da música.
É uma Intro curta da próxima faixa. Um recorte do beat de “Terreiro” só que fora do tempo, com samples da minha cena favorita de Mullholand Drive, do David Lynch: O clube do silêncio. Bons entendedores entenderão <3
Terreiro no Brasil é como chamamos o lugar onde se praticam as religiões brasileiras que dialogam com as matrizes africanas. Nela eu falo sobre esse lugar de cura e de busca, onde vamos de encontro direto com a nossa ancestralidade. A umbanda é pra mim mais do que uma religião, mas uma prática revolucionária. Essa música é sobre tolerância religiosa, sobre respeito e sobre o poder invisível da espiritualidade.
É um manifesto antifascista que fala a respeito da criação do “Mito” (como foi apelidado o des-presidente Jair Bolsonazi durante a campanha), em paralelo com o mito “A Alegoria da Caverna”, de Platão. A música é um spoken word feito em parceria com o compositor mineiro Vitor Brauer, e tem a intenção de não só denunciar a catástrofe genocida que representa o atual governo brasileiro, mas também a ascensão do fascismo no mundo, sugerindo um contra ataque, na micropolítica, nos atos diários. É preciso pensar globalmente e agir localmente, já! Essa gravação conta com guitarras do Gabriel Ventura (Ventre).
Essa música é um samba pra minha irmã mais nova, Isadora, sobre lidar com as perdas e celebrar a vida, “apesar de”. Acho que dialoga também com esse momento político/social, em que somente o ato de existir é uma luta. Eu fiz durante os últimos dias de minha avó Dyrce no hospital. Durante um mês, a visitei todos os dias com meu violão, tocando tudo que ela gostava de ouvir na juventude comunista, enquanto combatia a ditadura militar diariamente. De tanto que estudei sambas pra tocar pra ela, acabei juntando alguns acordes com a letra, que só foi terminada depois que ela se foi. A música faz referência a Gonzaguinha e Cartola, e pro disco eu misturei samba com funk carioca 150bpm. Foi a forma que achei de unir tristeza com celebração, afinal a mensagem é de esperança.
Essa música é sobre depressão. É um desabafo autobiográfico que descreve momentos meus, que acredito que muitas pessoas viveram e não foram capazes de falar sobre. Eu perdi sete amigos para essa doença nos últimos anos, e estive muito perto da borda. Entendo isso como um sintoma de uma sociedade doente, que não consegue dialogar com seus problemas. É preciso falar sobre morte, sobre solidão, medo e tristeza. Precisamos nos envolver, e perceber as pessoas que amamos, porque elas podem estar sofrendo. Tem participação de Hugo Noguchi (Yukio/Ventre/SLVDR) nos efeitos e noises.
Uma pergunta, um pedido, uma provocação: O que vamos fazer pra acordar? Afinal, esse é um álbum sobre despertar. Sobre resiliência, num tempo de muita dificuldade. Como é que acharemos gratidão em meio às trevas?
Eu deixo essa questão pra cada um, porque cada despertar é um.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)