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Riverine é o nome do novo álbum da banda de post-rock Imploding Stars, após o lançamento de A Mountain and a Tree (2014), a banda sonora Mizar & Alcor (2016) para a versão portuguesa do documentário From Earth to Universe e a participação com Treeless prairie na coletânea T(h)ree – Vol. 5 – Portugal – Cazaquistão – Uzbequistão (2017).
Este álbum tem como base o princípio da compreensão dos diferentes estágios de desenvolvimento da vida humana, desde o momento que nascemos até o momento que morremos. É um paralelismo entre o percurso de um rio e o percurso da nossa vida, em sensações e emoções. Estas sensações, por outro lado, levam à criação de memórias e estas últimas são a base dos oito temas (cada um conta uma história de vida diferente) que compõe este disco, que explora o ciclo da vida e a sensação de (i)mortalidade.
Correndo de montante para a jusante, desde a nascente até gigantesco oceano, Riverine é o modo como os Imploding Stars sentem que a vida deveria soar.
(nascimento) Foi uma música que foi levada em “cru” para estúdio porque queríamos que o seu nascimento acabasse por surgir lá, com toda a envolvente do próprio estúdio e do local envolvente. Queríamos misturar a sensação das primeiras chuvas do ano com a sensação de um embrião a desenvolver-se no ventre da mãe. O desenrolar da música, cada vez mais cheio e intenso representa o nascimento de uma vida humana. Evitamos o uso de uma parte rítmica muito acentuada para dar a sensação mais de contemplação do que propriamente de movimento. É uma música de olhos fechados.
(infância) Começa com uma agitação que pretende ser um batimento de coração, cada vez mais intensa e com uma componente melódica mais feliz. Utilizamos apontamentos mais relacionados com a infância (glockenspiel – xilofone). A música vai agitando como se fosse um pequeno ribeiro a surgir a partir da aglomeração de fontes. Tem uma parte antes do riff final onde quisemos dar a ideia dos meandros de um rio em descida em zigue-zague. O final da música é um crescendo aberto, onde nunca se sabe “a nota destino”.
(adolescência) É uma autêntica queda de água. Rápida, emocional, cheia de força e vida. Irreverente como qualquer adolescente, pretende mais mostrar força do que propriamente beleza.
(idade adulta) Quando a vida é marcada por altos e baixos, pautada por uma energia mais séria em termos melódicos. É marcada por ter várias mudanças, tal como as escolhas de vida que vamos tomando quando somos adultos. Esquerda ou direita? São estas decisões que vão pautar o caminho que iremos seguir. É um rio e os seus tributários, a escolherem qual o caminho, qual a corrente à qual se vão juntar.
(meia-idade) É mais fluída, já estamos na rotina, na roda gigante da vida onde nem sabemos muito bem como abrandar. Quando paramos vem a nostalgia, não temos a mesma força mas temos a memória e as sensações que acumulamos ao longo do nosso crescimento. Um rio largo, forte, onde já não se consegue mudar o rumo, nem há grande espaço para bifurcações. Melodicamente a ideia era começar nessa roda gigante em força, ritmada e acabar por perder essa força e entrar na nostalgia. Na segunda parte da música a sensação da nostalgia mistura-se com a vontade de querer levantar a cabeça mas já não conseguimos e caímos no mesmo loop.
(velhice) Na velhice a disposição de ver a vida já é mais diferente, mais otimista, até ternurenta, já sabemos lidar melhor com o que devemos ou não fazer. Jogamos bem com as limitações e aceitamos a nossa condição. A nostalgia continua mas é ainda mais marcada e mais feliz. Já estamos a chegar à foz do rio, olhamos para trás e vemos de onde viemos, daquele ponto alto da montanha, fizemos aquele percurso todo e chegamos até ali. Fomos crescendo, ganhando força até ao ponto onde só nos deixamos ir, lentamente, felizes e orgulhosos do caminho e da dimensão que percorremos. No final da música vamos quase a um limite de força e de ritmo até que o coração começa a falhar.
(morte) É o fim da vida. É o encontro destemido entre a vida no seu estado físico e o desconhecido. Um limbo. Um loop dramático, cheio de alucinações onde vamos aceitando a condição e lentamente deixamo-nos cair. Quando a alma deixa o corpo fica um vazio. O final é o total desconhecido, um buraco negro turbulento que nos vai sugando onde a nível sonoro tentamos que o momento final da música fosse mesmo a entrada nesse portal onde a energia é toda sugada. O encontro entre o rio e o mar.
(renascimento) Uma vida fora do corpo, na imensidão do mar flutuando em felicidade como um todo. Acreditamos sempre que o renascimento nos leva para um lugar melhor. Este é o nosso lugar melhor. Ao mesmo tempo acreditamos que quando o corpo parte, fica a obra e a lembrança. Queríamos que esta fosse a recordação final de quem ouve o disco. A mensagem de felicidade para levar para casa, algo retórica. Se o oceano é o limite que ao mesmo tempo é infinito aos nossos olhos, haverá mesmo limite?
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)