Mikroben Krieg

Intrascape
2017 | Crime League, Toronto | Electrónica, Experimental, Ambient, Downtempo

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O projecto Mikroben Krieg nasceu em Leiria, em 1995. Navegou nas últimas décadas pela cena industrial, marcando presença em alguns dos mais importantes palcos do género, com performances avassaladoras e maquinaria pesada à mistura.

Mikroben Krieg é o alter-ego de Nelson Brites, que para além de fazer música expansiva é famoso pela dedicação ao teatro, à poesia, à rádio, à crítica das artes. Mas quem o conhece, sabe que isto é uma redutora apresentação da imensidão do seu espírito e da sua existência, sabe que há muito mais para além daquilo que lhe lemos na bio da editora.

Neste 2017 deixou-se viajar em “Intrascape” com batidas envolventes e dançáveis, um disco feito de momentos requintados e de pé firme neste novo capítulo. Como o próprio afirma, é «a landscape into the ego».

#1 Torn Lips Never Whisper Boldness

Lábios rasgados nunca sussurram atrevimento. Aparece como primeira faixa por ser uma digna representante da ambiência tradicional de Mikroben Krieg: intensidade, tensão, obsessão e todo um clima que não sendo agressivo põe o ouvinte em sobressalto.

Ritmos ao jeito break beat cruzam-se com imponentes linhas de baixos debruadas aqui e acolá por melodias minimais e pads espaciais que, embora portadoras de alguma esperança, não chegam a aligeirar a tensão. Intrascape é uma viagem a um mundo interior, em que quando se chega se traz toda a agitação que povoa o nosso quotidiano. Esta faixa de abertura é isso.

#2 There is A Light That May Be Unreal But Still Guides Us

Há uma luz que pode ser irreal, mas que ainda assim nos guia: Num cenário em que tudo parece demasiado inóspito e quiçá irremediavelmente perdido é preciso encontrar uma luz para seguir, um caminho de esperança que pode revelar-se acertado ou uma perda de tempo. Inexoravelmente, sendo ou não verdadeira, é preciso seguir a luz ou nada mais fará sentido.

Um tema ambiental que vai evoluindo num crescente vórtex de pads, arpejos de sintetizador e melodias de piano minimalistas entrecortadas por ritmos mecanicistas.

#3 Voweler

O tema mais agitado do Intrascape e também o primeiro a ser composto, com os primeiros esboços a reportarem-se a finais de 2014.
Um ensemble de strings pesaroso é reconfortado por uma ostensiva linha de breakbeats que rapidamente é absorvida por uma secção rítmica que deve muito mais ao post-rock do que propriamente ao mundo da electrónica. Baixos sintéticos marcam a linha melódica de graves que é encimada por ocasionais melodias simples mas cristalinas, interrompidas lá mais para o fim da faixa por uma evolução aparentemente natural para um estádio mais tecnológico assente em pads espaciais e arpejos borbulhantes. E no final o regresso às origens, fazendo-nos duvidar se afinal tudo valeu a pena.

#4 Mind Metric

Mais uma faixa a assentar na tradicional ambiência tensa e quase fílmica que caracterizam transversalmente o trabalho de Mikroben Krieg ao longo das últimas duas décadas.
Nesta faixa há o experimentar de diversas soluções técnicas assentes no processamento de efeitos da secção rítmica e no uso e abuso de sintetizadores para o desenho daquela que é provavelmente a faixa mais despuradamente electrónica do Intrascape.

#5 Tonic Design (with Rapaz Improvisado)

Esta é provavelmente a faixa de maior requinte do Intrascape, em grande medida pela colaboração luxuosa e inexcedível do Leonel Mendrix, aka Rapaz Improvisado.
A base foi composta a pensar nesta colaboração e as expectativas eram altas. O músico convidado foi ainda assim largamente além dessas já elevadas expectativas, manuseando com mestria a guitarra ora dedilhada e enredada em efeitos, ora magnanimamente abusada por um arco de violino, concluindo de forma mágica com uma suave e harmoniosa melódica. Uma faixa verdadeiramente antológica…

#6 Zer0 Day

A última faixa a ser composta, é uma faixa que recorre a métodos e instrumentos bem distintos dos usados nos restantes temas. É a transição para uma nova era, assente em novos métodos, técnicas e fontes sonoras, embora sempre sem perder de vista a tradicional ambiência tensa e ansiógena do projecto.
Uso e abuso de sintetizadores, cadências mecanicistas e electrónica despudorada. O dia zero de uma nova era de que se esperam apenas novas obsessões e tensões, e tudo o que vier mais é ganho.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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