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“Lost in Translation” é o quarto álbum de André Carvalho enquanto líder, inspirado em palavras intraduzíveis.
Segundo o contrabaixista e compositor, após ter tropeçado neste maravilhoso mundo das palavras intraduzíveis, escreveu um novo ciclo de música inspirado em palavras de mais de 10 línguas como o Sueco, Urdu e Wagiman (língua actualmente falada por apenas 2 pessoas no mundo).
Luftmensch é uma palavra Iídiche que significa um sonhador, aquele que vive com a cabeça no ar. Para esta palavra, pretendia criar um tema que fosse contemplativo e ao mesmo tempo colocasse questões. Cada frase musical tem um seguimento para a frase seguinte, em que se coloca uma questão e, eventualmente, a ideia é rematada com uma resposta numa frase seguinte, como se alguém andasse à procura de algo em deambulações na sua própria cabeça; Entre as melodias no início e fim do tema, ocorre um solo colectivo que se inicia usando a última frase melódica que antecede o dito solo.
Kilig é uma palavra Tagalog que significa a súbita sensação de borboletas no estômago quando algo romântico ou idílico ocorre. Este tema tem um caráter pungente, onde as melodias tocadas pelo saxofone e o contrabaixo com o arco contrastam fortemente com os acordes distorcidos de guitarra. Depois das melodias, surge um solo colectivo, terminando o tema em fade out.
Uitwaaien é uma palavra holandesa que significa ir dar uma passeio ou para o campo num dia ventoso de forma a espairecer e acalmar a cabeça. Tentei que este tema transmitisse esta dualidade entre a contemplação de se estar num ambiente que nos acalma e a azáfama de pensamentos e sensações que nos invade quando estamos realmente cansados. Assim, o tema inicia-se com um conjunto de secções calmas, seguindo para uma secção de solos mais agitada, terminando novamente em melodias tranquilizadoras.
A inspiração deste tema vem de uma palavra Urdu que significa a suspensão da crença quando uma história é bem contada. O tema basicamente tem duas secções em que a inicial é completamente livre, com uma improvisação colectiva. O tema segue para a segunda secção onde a melodia, assente sobre um ostinato do contrabaixo, tenta traduzir a ambivalência entre realidade e sonho.
Alcheringa é uma palavra Arrernte cujo significado é bastante complexo e difícil de compreender mas tem a ver com o tempo do sonho, o que é mais sagrado no passado e se perpectua no presente e no futuro. Este é um tema bastante lírico, tocado em rubato, cuja melodia é constituída por um motivo inicial que se repete e se desenvolve, terminando na frase final que funciona quase como um mantra. O tema tem três solos dos três músicos e termina com a reexposição da melodia.
A inspiração deste tema vem de uma palavra Sânscrita que significa a passagem do tempo numa escala muito maior do que nós Humanos a conseguimos compreender, de uma forma imensamente grande e cósmica. O contrabaixo e o saxofone tocam a melodia, enquanto a guitarra improvisa de forma totalmente livre. Toco o tema é tocado em rubato, de forma espaçada e respirada, terminando numa secção onde a guitarra executa umas melodia ascendentes e quase crípticas, com pontuações do saxofone e do contrabaixo ao acordes finais da guitarra.
Karelu é uma palavra Tulu que significa a marca deixada na pele por se usar algo apertado. Esta palavra leva-me para algo cómico e nonsense e por isso, tentei desenvolver o tema dessa forma, com uma certa comicidade. Este tema conta com a participação de João Almeida no trompete.
Esta palavra Wagiman significa procurar algo debaixo de água usando unicamente os pés. Wagiman é uma língua aborigena que é actualmente falada unicamente por duas pessoas no mundo! Este tema é tocado a solo pelo saxofonista José Soares, onde ele toca de forma bastante livre um conjunto de melodias que escrevi.
Mångata é uma bonita palavra Sueca que significa o brilho da lua sobre o mar, quando este forma uma espécie de estrada de luz. O tema é iniciado pelo contrabaixo, tocando a melodia acompanhado pela guitarra, passando depois a melodia para o saxofone e terminando numa secção muito intimista e contemplativa de solos.
Este tema é tocado a solo por mim no contrabaixo e a palavra que lhe dá título vem do Japonês e significa olhar no vazio sem qualquer pensamento. Quis que este tema tivesse este pendor contemplativo e para tal escrevi uma séria de ideias melódicas intercaladas por pequenas improvisações tocadas de forma tranquila e calma, mas ao mesmo tempo íntima e introspectiva.
Resfeber é uma palavra Sueca que significa a dupla sensação de ansiedade e antecipação quando alguém vai viajar. Este tema tem claramente duas secções que se repetem, onde uma tenta recriar a sensação de ansiedade e a outra de antecipação.
Esta palavra Japonesa, que tanto diz da cultura e mentalidade do seu povo, serviu de ponto de partida para o último tema do disco. Significa a descoberta da beleza na imperfeição, a aceitação do ciclo da vida e da morte. É um tema bastante dissonante e ao mesmo tempo, para mim, bastante bonito e delicado.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)