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“Mergulho em Loba” é a continuação da trilogia “f l u m e” iniciada com “Passeio Pelo Trilho“, de 2012. Esta trilogia tem uma forte influência geográfica e, neste caso, o nome revela a sua principal inspiração: o mar. Mas não se esgotam aqui as revelações e Joana Barra Vaz revela-nos em baixo mais algumas das histórias que ajudam a formar este trabalho.
São as canções mais antigas que escrevi no piano, em 2004/5. Quando comecei a trabalhar neste disco, tocava-as sempre nesta ordem e percebi que respondiam umas às outras. Adaptei para guitarra, e quando acabei de as tocar tinha surgido uma nova canção toda de improviso chamada Sol Que Aquece (Barbados) que é o fim da Suite I.
Escrevi a A Demora em 2004 como uma carta de amor a este país e à nossa maneira de estar e também à forma extrema como nós, que vivemos ao pé do mar, sentimos a diferenças entre as estações e as marés. Quando cheguei a Alvito o Luís desafiou-me a reescrever um novo refrão que fosse ainda mais honesto em relação ao que eu queria contar, e eu acho que o desafio dele fez com que a toda a Suite ganhasse um novo significado.
A Sol Que Aquece (Barbados) é uma homenagem ao George Harrison: há uma fotografia muito bonita dele e da sua primeira mulher, Pattie Boyd, em lua de mel em Barbados — e alguém tinha escrito num artigo que as fotografias eram preciosas porque guardavam momentos a que não podíamos regressar. Eu ouvi muito o White Album nesse ano e a Long, Long, Long em repeat. Não foi consciente, mas lembro-me de andar a pensar nisso, e de ter surgido a canção. Sempre que toco a Sol Que Aquece (Barbados) lembro-me dele.
Curiosidade: Quando cheguei a Alvito, o Luís tinha uma moldura com a Time Magazine de tributo George Harrison — e foi a primeira coisa que vi quando entrei no estúdio.
O Tiago Alves enviou-me uma linha de baixo e perguntou-me se eu a queria musicar. Lembrava-me um embalo de ondas e escrevi essa história de amor entre margens. Ironicamente, quando a fomos gravar, mudámos o baixo original.
Dá nome ao disco e nasceu de uma conversa com a Maria João Marques na praia da Parede, com correntes quentes e horas dentro de água. Tínhamos acabado o documentário “Meu Caro Amigo Chico”, e andávamos a divagar sobre ideias para filmes. Lembro-me que nos perguntámos como é que se passava a ser um lobo ou uma loba do mar.
Há uma história engraçada, por acaso, que deu origem a esta canção. Na praia de Carcavelos há uma casinha de pedra toda fechada e completamente caiada de branco. Alguém escreveu no telhado, a letras gigantes: “O AMOR EXISTE”. Uns tempos mais tarde voltaram a caiar a casa e a frase foi apagada. Um dia cheguei lá e tinham voltado a escrever a frase no telhado, mas com uma pequena alteração. “O AMOR AINDA EXISTE”.
É uma ironia com o nome do nosso primeiro-ministro na altura das manifestações de 2012, 2013, e de como a instabilidade e a austeridade faz de nós os “lobos”. Mas nem tudo são tristezas: também tive um sonho, em que estava algures na América Central a dançar, rodeada de amigos, numa dança de dois passos para a frente e um para trás — literalmente dançando sobre a crise [risos].
Um plano em slow-motion, num dia muito quente, entre o sonho e a realidade.
O livro “Palomar” do Italo Calvino, que começa com o senhor Palomar de férias, a tentar observar uma onda. Não há nada mais hipnotizante do que passar tardes a olhar para as ondas — e tudo o que vêm dar à costa conta uma história. Infelizmente, grande parte do que chega à praia é poluição mas acho que todos podemos fazer um bocadinho: ajudar a recolher o lixo da areia é um bom passeio, e o mar agradece. Se puderem espreitem o Plasticus Maritimus, da Ana Pêgo, que faz um trabalho de sensibilização através dos objectos que recolhe nas nossas praias aqui da linha de Cascais.
O David Pires resgatou esta canção da pasta de “canção para acabar”. Eu andava aborrecida com com aquela ideia simplista de que as pessoas não vão votar porque estão na praia, e ao mesmo tempo com a teoria do “nem vale a pena fazer nada que isto nunca vai mudar”. É a minha resposta a essa amálgama frustrações [risos] e é uma birra em forma de canção: “Não” se for para ficar tudo na mesma, “Sim” se for para construir alguma coisa em conjunto. Depois veio a Selma Uamusse ter connosco a Alvito para a cantar comigo (sempre achei que devia ser ela), e tivemos uma conversa muito intensa sobre o que significava para nós a canção. Foi uma tarde incrível.
A SMUP, antes das obras de renovação, há uns 10 anos atrás, era um dos nossos pontos de encontro. Havia no ar uma ideia de escrever uma peça de teatro — um musical —, e fiz essa canção para duas personagens que se apaixonavam numa dessas noites quentes de Lisboa, quando as buzinas dos navios soam por todo o lado, e a cidade está envolta numa névoa.
Acabei de a gravar em 2015 numa residência artística na SMUP, onde estreei o sotão — ainda as obras estavam na fase final — e utilizei os sons das obras que captei por lá como samples no final da canção. A esse final chamei-lhe “Cais”, porque a canção “Marinheiro” tinha chegado ao fim e, por um golpe de sorte, precisamente no lugar onde tinha começado. No disco a canção acaba com o som de Lisboa, no zum zum de todos os dias.
“Mergulho em Loba” é editado a 30 de Setembro, com selo da Bi-Du-Á, e a sua apresentação ao vivo acontece a 29 do mesmo mês a partir das 21h30, no Teatro do Bairro, em Lisboa.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)