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Gravado entre Brasil e Portugal, “Minha Cabeça” é o novo álbum de Paulo Novaes. Com 20 faixas, divididas entre poesias e canções, o disco foi gravado em 2019 entre Brasil e Portugal, onde Novaes morou durante dois anos. Ao evocar o espírito da coletividade, grande parte das faixas foram gravadas por músicos de diversos lugares do mundo e cada uma traz uma participação e um ritmo diferente. São universos únicos numa obra completa.
A unidade
Representa o meu lado perpétuo, a unidade, meu senso holístico de percepção de mim mesmo. É o sentimento mais puro de amor e respeito que existe dentro de mim. A esperança, a paz, o respeito, o amor.
Compus essa música sob encomenda da minha irmã que estava querendo engravidar e queria ter uma música para quando recebesse a notícia, pudesse cantá-la ao meu cunhado com uma canção. Dito e feito, hoje meu sobrinho Martin já tem três anos e me faz ressignificar a cada dia essa composição. O convite ao Pedro Altério e Rita Alterio (mãe do pedro) é um gesto de gratidão a sempre amorosa recepção na gargolândia (onde gravei grande parte do disco e também meus dois primeiros albuns). O Pedro foi produtor do meu primeiro disco ‘Esfera’ e também co-produziu meu segundo disco Baú Do Coração. Posso considerá-lo meu maior parceiro dentro da música. Por mim uma curiosidade: essa música foi citada já no meu segundo trabalho, nos segundos finais da música Baú Do Coração, que abre o disco. No início da música tem o poema da Barbara Rodrix, outra grande parceira de tantos anos, que escreveu essa intro linda quando tinha o filho recém nascido no colo. Ela trouxe a abordagem para o lado da mãe, de como é viver fora de si mesmo, nesse processo intenso que é gerar uma vida e criá-la para o mundo.
A pureza
Representa o meu lado singelo, simples, puro. A maneira direta e sincera de dizer as coisas. A vertente cristalina da minha composição. O ato de cantar e escrever pra mim mesmo o que eu senti, o que vivi.
Essa música é uma das composições mais antigas do disco. Fiz ela quando tive uma paixão platônica por uma pessoa que eu não conseguia expressar. Essa angústia virou canção, e vai ser lançada quase 10 anos depois de sua feitura. A participação da Ana e Vitório foi um reflexo da explosão que foi nosso encontro. Num dos primeiros encontros, estávamos em Barcelona e eu mostrei algumas composições pra Ana e ela amou essa. Nesse dia mesmo já combinamos que elas cantariam comigo no meu disco. Vejo no trabalho delas uma imagem muito singela e pura, que vão de encontro ao que essa música representa pra mim. É o encontro dessa vertente de simplicidade no discurso, que tenho em várias de minhas composições, com o trampo delas, que tem isso muito vivo. A Gabi Abreu, minha amiga desde os tempos de faculdade de jornalismo também foi morar em Lisboa enquanto eu estava lá e eu já tinha o desejo de fazer alguma coisa com ela, mas não havíamos tido essa oportunidade. Ela tem uma escrita leve, doce, que casa muito com o trabalho da Anavitória, e foi a pessoa perfeita para adentrar nesse universo.
O amor
Representa o amor que eu sinto, a minha maneira intensa de amar, de sentir, meu sol em peixes. Sentir o mais gigante sentimento através das coisas mais simples. Feito ver a lua cheia brilhar, feito uma noite iluminada pela fogueira, um céu estrelado.
A participação do Léo Middea já era certa de qualquer maneira, pela tamanha proximidade e amizade que traçamos, principalmente no período que morei em Portugal. Tanto é especial essa parceria que eu deixei ele escolher qual das músicas do disco que ele cantaria. Ele já amava muito essa música e me deu esse presente de ter sua voz linda nessa faixa. O Lucas Caram é meu primo/parceiro/irmão, que morou comigo boa parte do tempo que morei em Lisboa, inclusive foi quem me recebeu e me introduziu nessa jornada. Temos uma intimidade gigante e eu sempre gostei muito de sua escrita. Soube descrever a paixão de maneira poética e imagética.
O espírito
Representa minha conexão com o espiritual, com meu eu-superior, com a vertente religiosa do meu ser, a minha fé. Minha religião é o amor e a busca diária por manter viva a chama do fazer o bem. A busca por conseguir estar atento para absorver qualquer sentimento ruim. A ponte direta entre meu olho de dentro e meu eu superior.
Eu e Bruna Moraes temos uma conexão desde muito novos. Sempre fomos os caçulas da nossa geração e desde o primeiro dia que nos conhecemos, observamos uma conexão espiritual muito grande. Ela é uma pessoa muito espiritualizada, com muitos portais abertos e em algum momento nossos caminhos se encontram no subconsciente. Quando fiz essa música eu trabalhava com comunicação e vivia uma rotina intensa em São Paulo. Me lembro de estar voltando do trabalho, andando pro metrô pra enfrentar 2 horas de transporte público e vomitei no gravador, tudo acapella. No mesmo instante mandei pra ela e combinamos que quando eu gravasse meu próximo disco ela cantaria comigo. Bruninha é também uma grande poeta, então aproveitei que ela já estava absolutamente dentro do universo para escrever o poema introdutório.
O presente
Representa o meu momento presente, de estar com os pés no chão. Viver o agora me mantem vivo, sem pensar se o instante pode afetar o futuro. É um exercício diário de percepção do tempo presente, que é a única certeza que temos. Também é um ode ao amor próprio, a busca pelo autoconhecimento e pelo diálogo interno.
A participação do Janeiro e Tiago Nacarato vão de encontro com o momento de perceber o ‘estar presente’ num país estranho, vivendo uma nova experiência, e sendo acolhido por artistas tão talentosos, com quem tive imensas trocas e longos diálogos sobre a vida. É mais um dos vários registros da parceria profunda que tive com esses dois grandes parceiros e amigos.
A liberdade
Representa o meu lado desamarrado, do desprendimento, de estar aberto, da liberdade. Ser o que sou, da maneira que eu quiser, me faz ser maior, melhor. Sendo livre, sou quem eu devo ser, sem barreiras para travar o meu instinto.
Me lembro da primeira vez que vi a Nina Cantar, fiquei chocado. De fã, virei amigo dessa mulher potente, criativa e inspiradora. Nossos diálogos sempre me fizeram olhar pra fora, pra um mundo que eu não conhecia. Através dela pude entender muitas coisas e nossas conversas sempre me fizeram perceber algo novo. Me lembro que queria ter a Nina de qualquer jeito no disco, mas não sabia a música. Numa viagem pro Marrocos, estava na cidade azul, numa das experiências mais profundas da minha vida, por ser meu primeiro contato com um país não-ocidental. Isso me fez olhar pra fora, entender novas coisas, ressignificar conceitos, quebrar pré-conceitos, e formar uma nova visão, mais ampla sobre a nossa vida.
A família
Representa a essência, a raiz, a família. A base de todo o meu desenvolvimento como compositor. A importância da música na minha vida e a influência direta da minha criação no que eu me tornei. Saber que, sou o que sou graças aquilo que fui e serei o que serei graças aquilo que sou agora.
Por esse motivo, não tinha pessoa melhor pra representar literalmente a importância do ‘cantar’ na minha vida. Minha avó, dona Margarida Piedade Novaes, rainha do IV Centenário da rádio nacional, interrompeu o sonho de ser cantora para criar uma família de oito filhos e se dedicar inteiramente a isso. Toda frustração e decepção em não ter podido seguir a carreira, ela depositou nos próprios filhos. Todos os filhos da dona Margarida fizeram aula de piano e canto e passaram esse amor pela música para as seguintes gerações. Se eu estou aqui escrevendo sobre meu projeto musical, é por conta dessa semente plantada lá atrás.
A Bruna é minha prima-irmã (também neta da dona Margarida) e primeira grande parceira na música. Já fizemos muita coisa juntos, ela já gravou várias composições minhas e eu admiro muito seu trabalho com poesia. Tive a honra de ter esse poema lindo, tão familiar e alinhado com o propósito.
O tempo
Representa meu lado nostálgico, a saudade do passado e o ato de olhar pra trás, mas, ao mesmo tempo, sempre com uma visão otimista do futuro. Olhar pra trás me faz olhar pra frente, com mais clareza do que sou e do que quero ser.
Compus essa música nos primeiros meses de Lisboa. Eu estava ainda em adaptação, tentando me entender, tentando encontrar meu lugar, o porque estar ali, o que fazer, pra onde ir. Foi a música que mais demorei pra compor. Fiquei semanas fazendo toda a melodia no violão e só depois fui escrever a letra. Senti logo a potência dessa canção, que na minha opinião é a grande música do disco, minha preferida. Por onde passei a partir desse dia, essa música chamou atenção, passou a ser a mais pedida, a mais cantada e a que atingia mais as pessoas, emocionava-as. O convite ao Tomaz Lenz e Simone Carugati (Cavalo 55) foi natural pelo fato deles serem minha banda em todas as minhas apresentações em Portugal. São grandes músicos, que vem de universos muito diferentes do meu, e por isso eu aprendi muito com eles. Criamos esse arranjo juntos, tocamos muitas e muitas vezes e acredito que musicalmente é a faixa que representa mais fielmente a minha identidade e sonoridade que sempre busquei. Creio que foi esse mix de referências, de estar aberto e quebrar muros. Convidei minha prima Beatriz Novaes, que tem apenas 22 anos, para escrever o poema. Ela tem uma escrita muito peculiar e também morou comigo em Lisboa, e fez despertar em mim toda essa pureza, que eu via em seus olhos com seus 20 e poucos anos, vivendo uma experiência inédita em sua vida.
A razão
Representa meu instinto racional, de pensamento, de análise, da maneira prática de ver as coisas. É o contra-peso que mantém o equilíbrio da balança. O pensamento crítico sobre meus próprios atos e sentimentos. Onde mora o reino das ideias.
É a representação desse turbilhão de ideias que tenho na cabeça e que, graças ao meu ascendente em capricórnio, consegui sintetizar nesse disco. Cada um dos universos, são partes de mim, pedaços dessa minha cabeça, peças de um quebra cabeça que formam um só quadro, mas que provém de muitas e muitas brisas, questionamentos, vivências e trocas. A participação do 5 a seco faz muito sentido por vários momentos. Primeiramente, sou muito amigo dos cinco, desde muito novo. Eles foram minha primeira grande referência mais próxima de uma carreira sólida e longeva. Sempre me acolheram e me ajudaram muito. Tenho uma relação pessoal muito preciosa com cada um deles e muitas parcerias. Caminhamos juntos desde o início, e agora lançamos nossa primeira parceria oficial. A produção musical talvez seja a que mais destoe dos outros universos, propositalmente, para propor um novo universo, um novo passo na minha caminhada, uma junção de todas essas referências e propostas que o disco trás.
O otimismo
Representa o sentimento que mais ocupa espaço no meu coração: o otimismo. Ser otimista faz com que a frustração seja mais leve, menos doída. Acredito que os momentos ruins são parte da grande escola da vida. A dor e o amor. A tristeza e a felicidade. A seca, a abundância. A luta, a glória. O silêncio, o grito. A incerteza, a fé. O caos, a paz.
Essa é a composição mais antiga do disco. Fiz quando tinha 16 anos e ela foi gravada lindamente há muitos anos atrás pelo Pedro Altério e Bruno Piazza. No meu primeiro disco, ela chegou a ser gravada, seria a primeira música do Esfera, e emendaria com a canção-título. Acabamos não gravando e ela ressurgiu pra mim no processo do ‘Minha Cabeça’ , fazendo esse link com o fim desse ciclo. O poema Balaio, escrito por Pedro Blanco, amigo de infância, tem a base musical da música espera, numa transação que representa o link entre meus três discos. Considero esse album, o fim de uma trilogia: Esfera, Baú do Coração e Minha Cabeça. E realmente esse link existe tanto do Baú do Coração (que eu cito a musica ‘Luz Da Vida’, que abre o terceiro disco), quanto com a base do poema ‘Balaio’ que faz o link com o primeiro disco. Essa trilogia diz muito sobre mim, sob vários pontos de vista, várias vivências, parcerias e experiências. O meu próximo trabalho já vai ser outra coisa, sobre outro tema, num novo universo que estou investigando nesse momento. Nesse processo de percepção da minha obra como um todo, conheci Rubel e logo nos conectamos muito. Resolvi chamar ele pra essa canção específica pelo fato dele ter me incentivado muito, através dos nossos diálogos, a quebrar a casca do ovo, de explorar novos temas pra além de mim, de buscar outras sonoridades e assuntos. Ele representa essa transição para o novo e ao mesmo tempo o registro do fim desse ciclo da trilogia.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)