Gravado entre Dezembro de 2018 e Janeiro de 2019, o primeiro disco dos Vila Martel é constituído por oito temas, compostos por instrumental e voz, e os seus teclados colocados como plano de fundo, e as guitarras com maior destaque, são a prova de que o indie rock ainda pode ser feito de amplificadores barulhentos e vozes berradas.

Tema que explora uma das principais dificuldades que os jovens portugueses têm hoje em dia: a necessidade de abandonar o país, contra a sua vontade, de modo a poder eventualmente voltar um dia em melhores condições. Ao longo de toda a música vão sendo dadas diversas referências da perspetiva do jovem que se vê forçado a emigrar, ver aeroportos como locais de despedida, uma última festa antes de se ir embora em busca de uma vida melhor. Mas a que custo?

Esta música baseia-se numa carta aberta que declara o amor por alguém. Mas declara a quem? Ninguém? É repetido várias vezes no refrão “Eu estou bem, quem ninguém”, um amor que traz alegria e bem-estar sem fim, ou um manifesto que visa esclarecer que com amor ninguém é feliz? Ninguém tem de saber. A dúvida persiste para sempre, tal como o amor.

Um céu que olha para baixo e vê uma relação começar. Um tema cuja lírica aborda o frenesim de emoções que envolvem alguém que está apaixonado e a dar os primeiros passos de uma relação amorosa. Com todas as inseguranças, indecisões, e oscilações de opinião que o amor traz. Achamos que gostamos, achamos que amamos, mas na verdade nunca sabemos se já realmente amámos alguém.

Letra que retrata a realidade das despedidas definitivas. Sobre partidas que começam com uma melodia melancólica, que reflete a tristeza do abandono e solidão que nos deixa quem partiu, muitas vezes com um vazio que nos quer puxar para o seu interior. Mais tarde, após a melancolia, surge a raiva, que se espelha com a força do refrão que constata o óbvio: “Eu não posso mais olhar para ti” avô, pai, irmão, ou qualquer outro que se tenha ido, e que não volte mais.

O que é ser o colo de alguém? Estará a palavra colo pura e simplesmente limitada ao suporte físico que alguém disponibiliza ao próximo ou a um desconhecido num ato de apoio e altruísmo, ou terá também embutida um sentido mais metafórico, relacionado com o amor e a partilha que existe numa relação e que pode muitas vezes assustar num primeiro contacto com essa realidade? O amor, quando é a sério, mete medo. Mas calma, não tenhamos pressa.

A letra neste tema visa trabalhar as ansiedades do futuro de um jovem. O que vem aí? Ninguém sabe o que aí vem. Estamos fadados a confiar no nosso futuro, e pensar que coisas boas virão. E se não quisermos confiar no nosso futuro? Será um direito nosso, ou mesmo uma possibilidade? Todas estas inseguranças e dúvidas face à multiplicidade de escolhas que há na vida de um jovem, mais do que ele possa alguma vez ter consciência, desembocam numa raiva libertada através de um grito.

Este tema traz-nos uma pergunta: Pode uma música alegre, falar sobre a doença mental e sobre a falta de festa na vida de alguém? A resposta a esta pergunta encontra-se distribuída ao longo de toda a música com frases como “Hoje a boda é de todos” e “Que a festa é para sempre” que revelam que a felicidade, metaforicamente abordada como festa, é um dever de todos, assim como um direito de todos. O culminar de toda esta conclusão acaba com um suspiro… “Eu só quero ser feliz”.

Representa um pedido de desculpas sincero e dito em duas frases: “Eu não te quero lembrar…” e “Que eu sou a falha…”. E, tal como em todos os pedidos de desculpa (que todos sabemos como é pois mais tarde ou mais cedo na vida todos nós já o fizemos), uma última frase promete mudar os erros e as falhas da vida, aludindo a um futuro melhor.