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Formados em Fortaleza/Ceará, os Maquinas são compostos por Roberto Borges, Yuri Costa, Allan Dias, Ricardo Lins e Gabriel Sousa.
Frequentemente associados à livre improvisação nas suas performances e pela atmosfera misteriosa de suas músicas, a banda preza pelas experimentações sonoras que cruzam o ruidoso com o melódico a partir de uma investigação de vários géneros musicais, como o punk, jazz, electrónica e atonalismos – compondo canções tão melancólicas quanto enérgicas em um único golpe.
“O Cão de Toda Noite” é o mais recente disco dos Maquinas, foi editado em Outubro passado e está descrito em baixo faixa a faixa.
Allan Dias – Acho que Maus Hábitos foi uma das primeiras músicas que fizemos do álbum, junto com outras ideias que vieram a ser músicas como O Silêncio é Vermelho e Corpo Frágil. A base toda dela foi estabelecida de um aquecimento que fazia junto com o Ricardo Lins (bateria), onde a gente brincava com frases de baixo e bateria que alternava-se em tempos diferentes. De tanto a gente gostar desse improviso, fomos criando o que seria então a primeira música desse álbum. O Roberto Borges (guitarra) então veio com a ideia da melodia principal que é feita pela voz e pelo saxofone do Gabriel de Sousa e a partir de então fomos desenvolvendo a música. Gosto bastante dela, pois nos ensaios pré-gravação sentia que ela tinha mais rapidez e punch, mas na gravação oficial ela veio mais “smooth” e particularmente, gostamos muito mais do resultado final, deixando a música mais cadenciada, com umas referências mais jazz.
Allan Dias – Essa música foi um grande exercício de rítmica para nós. A ideia da música no geral era casar com o sentimento de não pertencer, de se deslocar do mundo a sua volta. Queríamos pensar sobre a questão de escapismos que utilizamos nas nossas vidas como zona de conforto quando estamos pressionados pelos nossos próprios problemas e sobre como podemos nos prejudicar com essas atitudes. Queríamos praticar como poderíamos fazer riffs com alguns instrumentos em tempos diferentes. A guitarra do Roberto na introdução está em 4/4, mas o baixo e a bateria se baseiam em um andamento 6/8 (ou 3/4). Nós estávamos muito inspirados nas ideias do Steve Reich e Robert Fripp e explorar essa sensação de deslocamento de elementos na nossa música, o que combinava com a sensação lírica que queríamos transmitir. Durante as gravações tivemos as participações da Ayla Lemos (backing vocals) e do Eros Augustus (teclado) que fizeram um trabalho sensacional e nos deu muita liberdade para explorar diversas fases musicais.
Roberto Borges – Entendo essa música como um presságio. A iminência de que algo ruim sempre está pra acontecer, mas com o mistério de estar no escuro e não conseguir enxergar o que está acontecendo e nem saber exatamente o que esperar. Meio que sobre o perigo de subestimar essa intuição. Escrevi a letra realmente pensando nesse poço de obscurantismo e ignorância que dominou o Brasil e o mundo. É estar na escuridão e a luz no fim do túnel na verdade é essa luz vermelha, e é só um aviso pra esperar o pior.
Allan Dias – É a primeira música instrumental do disco (e da banda!) e uma das mais violentas. Ela foi em grande parte composta pelo Yuri, que trouxe um rascunho e a gente terminou de compor juntos. Ela é bem abstrata e quebrada, e tem essa atmosfera meio ominosa que, mesmo não
tendo letras, dá pra achar várias interpretações nefastas nela. Tocar essa música trás um sentimento muito bom de ter expurgado algo ruim.
Allan Dias – Essa música talvez tenha sido a mais difícil de sair. Fizemos diversos arranjos e chegamos a um ponto de que estávamos explorando demais, mas não achávamos um ponto certo e partirmos então para simplificar as estruturas da música. Foi pensando justamente no processo de tentar, errar e não achar o ponto certo que me inspirou a escrever uma letra que levasse para um ambiente semelhante, do eterno busca de se redimir dos erros da vida. Daí o caminho ficou muito mais fácil para a gente achar o ponto certo da música. Ficamos bastante inspirados em trabalhos de grupos de drum’n’bass como Christoph de Babalon, Special Request e Jojo Mayer, o que talvez seja perceptível na introdução da música. Dali em diante, deixamos nossas influências surgirem naturalmente e ver qual caminho nos levava.
Roberto Borges – Acho que a mais violenta do disco. Ela partiu muito de um sentimento de fazer uma música agressiva. A gente queria muito trabalhar numa letra pra ela, mas não sabia muito por onde começar, porque ela meio que pede gritaria e a gente não é muito de cantar gritando. E aí tivemos a ideia de mandar pro Breno Baptista, que é um grande cineasta e um grande amigo da nossa cidade, dando carta branca pra ele escrever e cantar. E aí o resultado é esse relato meio desabafo super íntimo e doloroso.
Roberto Borges – Normalmente as pessoas enxergam essa faixa como uma “vinheta”, mas eu tenho um carinho especial por “Melindrone” porque é meio que a gente rompendo com esse limite autoimposto de soar orgânico e também de satisfazer uma vontade que tenho de ser mais eletrônico. A música é composta basicamente por duas faixas de baterias improvisadas na hora da gravação e manipuladas no free-style no Ableton, baixo passando por um pedal de octave, e dois synths: um no loop e outro solando.
Allan Dias – Por muito pouco essa música não iria entrar no álbum porque ela foi a última a sair, faltando poucos dias para as gravações iniciarem. A ideia do cão vem de muitas referências filosóficas. Estava lendo muito textos do Mark Fisher, principalmente o seu livro de crônicas Ghosts of My Life, além do Cães Negros do Ian McEwan. É uma música que considero bem noturna, mas não queríamos que ela fosse por um caminho óbvio de imaginar uma música noturna como algo “slowcore” ou soturna. Queríamos levar em outro caminho. A ideia de que Nuvem Preta terminasse se deteriorando era justamente pela metáfora do cão como representação da melancolia e as angustias do ser humano que nos assolam em toda noite, de como nos faz remoer em pensamentos até o momento em que aceitamos-as como companhia e nos naturalizamos com isso. De repente os pensamentos se turvam em sonhos estranhos e… Simplesmente morrem… Para surgir no outro dia hahaha! Gosto muito de como essa música surgiu como ideia tão de repente no final do processo de composição do álbum e conseguimos em um tempo muito hábil torna-la uma música muito boa e eficiente. Pessoalmente é minha preferida!
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)