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Ao sexto disco de Birds Are Indie, Joana Corker, Ricardo Jerónimo e Henrique Toscano constroem um álbum assumidamente conceptual onde exploram, sem medos, novas temáticas e novas sonoridades.
A distopia, a inteligência artificial e a alienação são o ponto de partida de um disco que, como o código binário que o inspirou, é também ele feito de contrastes, de sombras e de clarões, revelando um novo capítulo da banda que contabiliza já 12 anos de trabalho profícuo.
No novo longa duração, a banda de Coimbra, sem perder a essência pop, faz co-habitar audazes guitarras distorcidas, caixas de ritmos dançantes, sintetizadores de calor analógico, bateria e baixo pujantes, assim como letras urgentes cantadas com tons a condizer. As histórias essas, carregadinhas da ironia – agora mais acutilante – a que os Birds habituaram, são as de personagens presas entre mundos, divididas nas suas vontades, cujos percursos levam a uma reflexão sobre os equilíbrios possíveis na relação com a tecnologia.
Esta foi das últimas músicas a ser compostas e, talvez por nessa altura já termos uma noção mais completa do álbum, desde logo ficou a ideia de que deveria ser a primeira. E assim pensámos porque é uma música que tem uma cadência com uma certa urgência e um ritmo algo contagiante. Gostámos disso para começar. E o verso “who’s here and who’s not?” pareceu-nos a dúvida ideal para começar este disco. No conceito do álbum, este é um salto no vazio, literalmente o ponto de partida de alguém que não sabe para onde vai…
Por uma questão de conceito, todas as letras do álbum foram previamente escritas, ainda sem noção de que ritmos e melodias lhes dariam corpo. A parte musical foi feita em conjunto pelos três, na sala de ensaios. No caso desta, o Jerónimo disse que a letra pedia uma canção rock. Por isso, o Henrique criou o ‘riff’ inicial e daí partimos para o resultado final. Neste segundo capítulo, a personagem olha para trás, mas sem saber como aprender com os erros.
Antes de começar a compor as novas canções, comprámos um pequeno sintetizador, uma caixa de ritmos e um baixo. Fizemo-lo para nos desafiarmos enquanto músicos, para introduzir novos sons e para recebermos estímulos destes instrumentos quando estivéssemos a compor neles. Esta música é um bom exemplo de um tema que não teria surgido sem estas ferramentas. A letra, apesar de no refrão poder parecer bélica, foi escrita antes de começar a guerra na Ucrânia e, na verdade, não fala de guerra, mas antes do ímpeto da personagem em arregaçar as mangas.
Tal como a faixa anterior, e de forma ainda mais evidente nesta, a “drum machine” foi decisiva. Estávamos ainda a aprender a configurá-la e apareceu este ritmo “disco sound”. O Jerónimo na guitarra e a Joana na voz começaram a tentar fazer algo com aquela base rítmica. Passado um bocado o Henrique disse: “Mas vamos mesmo fazer uma música ‘disco’?… Mas lá se convenceu com a resposta: “E porque não?…” A letra é uma espécie de ode irónica a todas as coisas que temos disponíveis, sem que tenhamos tempo (no relógio e na cabeça) para delas usufruir. E assim achámos que este era o ritmo ideal para acomodar esta sensação agridoce.
Mantendo a lógica de abrir as portas a estilos que nunca tivéssemos experimentado e de nos deixarmos influenciar por outras sonoridades que gostamos, este foi mais um caso. Drum machine, baixo vincado e muito delay na guitarra levou-nos a piscar o olho ao “dub”. Quisemos dar a esta música um ambiente algo misterioso ou mesmo fantasmagórico, porque a letra parte da ideia de sentimentos cambiantes, que ora vêm, ora vão, aparecendo e desaparecendo, como fantasmas. E depois flutua na ambivalência entre querer ser um fantasma e querer deixar de sê-lo.
Esta foi a única faixa que fizemos praticamente toda no estúdio, durante as sessões de gravação. A meio do disco queríamos ter uma música que marcasse uma viragem no percurso das personagens que o habitam. Por isso, depois de canções cujas perspectivas navegam por diversos sentimentos (incerteza, raiva, ambição, desalento), cai-se num “rabbit hole”, à boa maneira da Alice no País da Maravilhas. E no meio de uma queda num mundo onírico, em que se tenta (re)configurar corpo e alma, nada mais estranho do que começar a dançar, como pede a música…
E através da estranheza de um afundar no desconhecido, entramos num mundo surreal e animalesco. A letra pedia uma música tensa, ora em crescendo, ora em contenção. E não nos saía da cabeça a imagem de uma figura disforme, a vaguear pelo deserto e pela selva, por isso adicionámos uns solos quentes e muita percussão com diversos tambores que havia no estúdio da Blue House. Tudo isto para tentarmos sincronizar “the memory of two hearts beating the same beat”.
Depois da surrealidade, quisemos logo gerar o contraste com uma espécie de choque de realidade. Aqui, depois de passar por muito e de deixar de ter noção de quem é, a personagem realmente percebe o que a rodeia, tem uma espécie de epifania, mas possivelmente demasiado tarde… É neste refrão que surge o “ones and zeros” que dá nome ao disco.
Percebendo que está encurralada e que caiu na armadilha, já não consegue escapar. E, desta vez, a letra é na perspectiva de quem tem a personagem em cativeiro, numa espécie de hipnose dominadora. Com o sintetizador, o ritmo enleante da drum machine a ligar-se a uma linha de guitarra e muitas modulações de delay, tentámos criar um ambiente algo claustrofóbico, denso, mas com picos de explosão sonora.
Também cedo definimos que esta seria a última canção do alinhamento. Após tantos sobressaltos, tantos sentimentos cruzados, tantos gritos, tanta distorção, queríamos acabar com uma espécie de abraço humano, após se acordar de um pesadelo distópico. Não é um típico final feliz, pelo contrário, é até bastante melancólico, mas também é algo apaziguador. O som é o mais orgânico do disco e a doçura que pretendíamos só poderia ser entregue pela voz da Joana.
Como recompensa para quem queira ter o disco físico, adicionámos este extra, disponível apenas através de um código que está no interior das embalagens. A letra é uma reflexão sobre a vida e sobre as pequenas coisas que não conseguimos deixar para trás. Como é uma visão quase externa ao álbum, como quem esteve a assistir a tudo de fora, achámos que seria um bom complemento.
Próximos concertos:
26 Abril – Bragança – Teatro Municipal
27 Abril – Vila Real – Café Concerto Teatro Municipal
28 Abril – Porto – Maus Hábitos
05 Maio – Braga – RUM by Mavy
06 Maio – Coimbra – Salão Brazil
16 Maio – Valladolid (ES) – Asklepios (+ Ál Carmona Trío)
17 Maio – Madrid (ES) – El Intruso (+ Coffee & Wine)
18 Maio – Zaragoza (ES) – Sala Creedence
19 Maio – Sabiñánigo (ES) – Sala Corleone
23 Maio – Málaga (ES) – La Cochera Cabaret
13 Outubro – Portalegre – CAE
14 Outubro – Setúbal – Casa da Cultura
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)