Tiago Vilhena

Portugal 2018
2019 | Pontiaq | Pop

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Após ter saboreado a composição com a companhia de uma banda, os Savanna, e de ter explorado a escrita individual no mundo do pop rock usando o nome George Marvinson, Tiago Vilhena entra numa nova etapa, agora com a sua vontade para a composição consolidada.

A primeira experiência musical na sua língua natal foi editada no passado dia 18 de Outubro, pela Pontiaq, e está descrito em baixo faixa a faixa pelo próprio.

#1 Elixir do bem estar

Foi das primeiras músicas que escrevi para este álbum e apesar de ter sido escrita à guitarra, optei por fazer um arranjo que não dependesse deste instrumento. Sempre fui fascinado por harmonias de vozes, muito por influência dos Beach Boys.

Esta música foi escrita num dia pouco feliz enquanto procurava razões para elevar a minha vontade de superar a negatividade. Comecei a escrevê-la ao fim da tarde e acabei quando o sol se começava a manifestar. No dia seguinte recebi uma carta da minha vizinha de cima a reclamar com o barulho, mas em contrapartida tinha comigo a sensação de realização pessoal por ter comigo mais uma música da qual me orgulho de ter escrito.

#2 Quem me trouxe ao mundo

Não são muitas as músicas que escrevo ao piano. Esta é uma delas. Penso que a escrevi numa semana em que andava um pouco viciado na discografia do Sérgio Godinho. É possível que se notem aqui algumas influências inconscientes das suas canções.

Quanto às palavras, esta é mais uma canção que fala sobre dúvidas existenciais e funciona, toda a música, como uma pergunta retórica.

#3 O Mar

Já disse uma vez que durante a fase de composição deste álbum, ouvi e absorvi muito da música de intervenção Chilena. Esta é a música onde esta influência está mais presente.

Quanto ao tema que abordo, tentei transmitir o meu desagrado pela falta de memória do ser humano em relação aos erros que os nossos antepassados cometeram. Pode ser uma luta sem fim, mas escrevi estes versos com o objetivo de alertar quem me ouvir de que é importante estudar o passado e de que já não é necessário cometer erros para aprender, uma vez que todos esses erros já foram cometidos por alguém. Portanto, resta-nos estudar, interpretar, interiorizar e aplicar o conhecimento adquirido para transformar este mundo, num espaço mais agradável. No final, ouve-se a voz do Zeca Medeiros a dizer: “À deriva isolado, sou eu o enforcado”. Esta frase é um excerto de um texto que estará presente no meu próximo álbum e aí, fará mais sentido.

#4 Fujo Para Sempre

A viagem sempre foi um tema muito importante para mim. A viagem como uma busca por algo, como uma procura por conhecimento, como um retiro espiritual, como uma fuga aos pequenos entraves que a vida nos proporciona. Fiz esta música para me lembrar de que, quando não encontro mais soluções, fazer uma viagem pode ser uma solução. Apesar disso, sempre houve um aspeto menos feliz em relação a estas viagens. Apesar de realmente servir para equilibrar alguns desacertos emocionais, de trazer alguma sobriedade ao pensamento e de ensinar pelo conhecimento de outras culturas, grande parte desta evolução pessoal, é perdida pouco tempo depois do regresso à rotina habitual. Por isso, digo “fujo para sempre”, porque apesar de voltar, é importante a memória da viagem continuar sempre presente.

#5 D'esta Vida

Esta foi a primeira música que escrevi em português. Sempre achei que um dia ia experimentar fazer músicas na nossa língua, mas nunca fiz um grande esforço por começar porque as minhas maiores influências musicais até à altura, eram quase na totalidade em inglês. Um dia, comi uns cogumelos malucos e tive uma experiência muito intensa e quando cheguei a casa, muitas horas depois, comecei a escrever umas frases, que mais tarde, vieram a formar esta canção. Foi a música deste disco que deu mais voltas. Assim como a elixir do bem-estar, foi composta à guitarra apesar de este instrumento entrar apenas no final. Tem uma estrutura muito pouco convencional o que fez com que fosse mais difícil do que o normal de funcionar. Mas um desafio é sempre divertido de superar e, apesar de não ser uma música A-B-A-B, feita para ser um sucesso, é uma música da qual me sinto orgulhoso.

Chamei o Zé e a Bia para cantarem comigo porque, uma vez que a letra aborda três experiências de vida diferentes, fez sentido para mim, até para facilitar a compreensão do ouvinte em relação ao meu objetivo com a música, chamar duas pessoas para cantarem as outras abordagens.

O outro é um trecho de guitarra que eu tinha feito, mas que não pertencia a nenhuma música mais elaborada. A “D’esta vida” já estava praticamente acabada, mas eu ainda não me sentia plenamente satisfeito. Faltava alguma coisa. Lembrei-me que ambas as progressões de acordes existem à volta do acorde de Ré maior e, portanto, bastou-me juntar as duas músicas e não precisei de fazer mais nada. A partir daí, comecei a pré-produzir a música e a fazer os arranjos para depois reproduzir no estúdio.

#6 Os Profetas

Neste momento, é a minha música favorita do disco. Assim como a “D’esta Vida”, “Os Profetas” tem também uma estrutura que é tudo menos pop. E eu também não quis que tivesse.

É uma música que segue o seu caminho. Sem necessitar de voltar a um refrão. Com uma letra pequena e muito subjetiva, deixa a criatividade de quem ouvir a música à vontade e livre, sem mostrar apenas um caminho possível. Com uma harmonia muito simples, decidi puxar pela complexidade das melodias onde adiciono uma deliciosa quarta aumentada a um acorde menor transportando o estado de espírito da música para um mundo místico. Uso também microtons para viajar para mundos distantes num momento de exaltação desta canção.

Mais uma vez, assim como em “O Mar”, refiro um tema que estará presente no meu próximo álbum, que vai ser uma história de um mundo onde os profetas têm um papel essencial.

#7 Cabaço Vai Morrer

É a música mais espiritual do álbum. Fiz esta canção enquanto me divertia a aprender músicas do “Django Reinhardt”. Mas como nunca consigo aprender uma música até ao fim porque me começo a cansar e a divagar, acabei por me deixar levar tendo chegado a uma música que a quase nada se assemelha e este guitarrista. Tentei com esta letra desprezar o conhecimento e a cultura em prol da experiência, contrariando o que prego na música “O Mar”. Cabaço, tem a definição perfeita, caracteriza alguém que ainda não ganhou experiência suficiente, ou pelo menos é assim que eu interpreto esta palavra. Esse alguempode ter estudado e pode saber a enciclopédia de cor, mas se não adquiriu experiência com a vida fora dos livros, não vai passar. Ou se passar, vai morrer. Ou pelo menos, assim diz esta letra que mais uma vez, aborda um tema que será muito importante para a história do meu próximo álbum onde a frase “se passa o cabaço, cabaço vai morrer” vai ter um papel fundamental.

#8 Um Pouco Ao Lado

Nesta curta música, criei um monologo de um cão imaginário que serve o propósito de ensinar aos cachorros, como ser cão.

#9 Milagre Da Oportunidade

Quando completei esta música, pensei que iria ser um single. Até hoje não sei muito bem porque é que não foi. Penso que tem todas as características de uma música fácil, direta e radio friendly. Sem merdas. Mas não foi, e assim segue a vida. No início da música eu digo “Oh homem pára de brincar com tudo o que aparece no teu mundo pois nem tudo é para a piada, apenas o que é para o ser. Tens de aprender o milagre da oportunidade, mas tu só queres ferver”. Este pequeno trecho da música foi escrito para dizer a uma pessoa em concreto, que eu conheço, que fala demasiado e que quer sempre ter muita piada sendo isso desnecessário. Acabei por não lhe dizer isto, não sei se algum dia ele vai saber que isto era para ele, mas a verdade é que inspirou uma música e por isso, tenho muito a agradecer-lhe. A partir do fim destas frases, continuei a escrever sem ter a intenção de enviar uma mensagem a esta pessoa e continuei com uma crítica ao mundo no geral e não a uma pessoa em específico. Foi uma música muito fácil de fazer funcionar até porque basicamente o que se ouve são as gravações que fiz em casa. Em estúdio apenas fiz um reamp do Pianet e gravei a bateria porque a minha demo tinha apenas samples de bateria. Regravei também as vozes, mas até acho que o primeiro take foi o que ficou.

#10 Chill Wild Life

Fiz esta música para uma banda que eu tive. Os “Eugene”, mas esse projeto esteve condenado desde o início. Basicamente éramos uma banda punk que não fazia músicas punk e, portanto, quando era para pôr em prática o que quer que seja, ficávamos a beber cervejas. Quando juntei as músicas que tinha para fazer o álbum “Portugal 2018”, decidi adicionar esta, para fazer uma ligação com o meu álbum anterior chamado “Chill Wild Life” e, portanto, dei-lhe o mesmo nome. O outro desta música era para ser uma 11ª música, mas decidi juntar as duas para dar menos importância a esta segunda. Assim, com um arranjo de vozes, como eu gosto sempre muito de fazer, completei o meu álbum.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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