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Os sulcos de electrónica minimalista e avant-garde das Haēma estão bem presentes em “Preamar“, disco de estreia que apresentam aqui faixa a faixa.
Todos os dias são inícios. A aurora é o início de um deles, da mesma forma que é o embarcar na viagem, visto do cais, pelos olhos de quem fica de coração apertado.
Cessa a aurora, embalada pela cítara e pelo violino numa marcha lenta que abraça as palavras que se fazem ouvir.
Esta foi a nossa primeira canção e é sem dúvida o início da travessia. Foi depois de um longo processo de exploração e adaptação ao mundo das electrónicas que o Peixe Voador deu à costa. Foi com esta canção que percebemos qual seria o som do que estava por vir.
Respira-se, num limbo entre o sonho e a realidade. As respirações são de amigos, e é bonito como conseguimos identificar as nuances de cada um.
Uma canção sobre o amor.
“O amor é bom a maior parte do tempo”
A colaboração com o Fred foi essencial por todos os motivos, a companhia na viagem não poderia ser outra. O trapézio foi uma surpresa para todos, foi durante o tempo em estúdio que a música mais aérea acabou por ganhar um carácter de dualidade, onde o ar se torna potenciador de combustão e dá origem ao fogo. O trapezista poderia ser o leão cobarde vindo de Oz, que no final da estrada de tijolos amarelos do Oeste, ganha coragem para rugir.
A máquina não é só a costura, é um acordar por entre os sonhos e entender que os cavalos podem sempre estar repletos de troianos.
Sobre a espera há muita coisa a ser dita, não sei bem se quem espera desespera, ou se quem espera sempre alcança, mas se apostasse diria que é um misto dos dois. A angústia da Penélope é ao mesmo tempo a ânsia de quem sabe que o sol vai voltar.
A canção do fogo surgiu no dia em que acordei com cinzas no chão e no peito. Fala de alguém que tenta domar o fogo, mas que acaba com os olhos lacrimejantes e irritados, sem conseguir ver para onde vai a estrada, por entre o fumo, quando é tanto que nem deixa respirar. O que vale é que a chuva chega para limpar os danos, encobrir as fugas e lembrar que as cinzas ajudam a renascer.
Os planetas também dançam, e com eles a nossa sensação de temporalidade.
Um dia, a convite do Fred, o Ricardo Dias Gomes chegou ao estúdio com o seu modular. A Ilha estava perto de pronta, mas o nível de densidade que procurávamos só foi possível com o auxílio do Ricardo, que entendeu perfeitamente do que estávamos a falar.
O que é estar preso?
Existiu como Rua do sol, com um arranjo paralelo, e foi a sua desconstrução que nos levou até ao universo glitch e fez com que a viagem, cada vez mais perto do fim, passasse pelo deserto. Um deserto de terra seca e muitas miragens, onde o que se vê não é bem o que parece e o que se planta não tem como nascer (mas podia). Uma espécie de nostalgia de oportunidade perdida.
“I can’t win unless I go back in time, and that’s not the same, is it?”
Depois da travessia volta-se a casa, e com um suspiro cansado contempla-se a ausência. Lá fora chove, e quando a chuva é muita chove cá dentro também.
O disco tem forma de círculo, é como se descrevesse uma órbita que aqui acaba, ou começa. Um silêncio que faz parar os astros e dá início ao fim, ou fim ao início.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)