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Os bombazine são uma banda portuguesa de indie pop/ rock formada em 2022 que conta com cinco amigos de longa data: Filipe Andrade (baixo), Manuel Figueiredo (teclas), Manuel Granate (bateria), Manuel Protásio (guitarra) e Vasco Granate (voz/guitarra).
Após trabalhar nas primeiras maquetes, a banda uniu forças com o músico e produtor João Sampayo para gravar e produzir o seu primeiro trabalho de estúdio, o EP de estreia – “Grã-Matina” – e o seu primeiro single “Tábua Rasa”. Lançado em abril de 2023, o EP marcou o início da jornada musical da banda, assumindo uma verticalidade pop e indie, envolvida na tendência dos grooves que se ouvem lá fora.
No passado dia 15 de novembro, a banda editou o seu primeiro longa-duração “Samba Celta“, fruto de cerca de um ano de trabalho criativo da banda em estúdio, culminando numa viagem por 9 faixas que consolidam as raízes e influências da banda, pintando-as na tela de um Portugal moderno.
Produzido e misturado por João Sampayo, e com a masterização de Miguel Pinheiro Marques, o disco conta ainda com a colaboração de outros músicos.
Abaixo podem ler a descrição faixa a faixa deste álbum, narrado por Manel Protásio e Vasco Granate.
No final do processo de escrita do álbum, sentimos que fazia falta ao disco uma música mais introdutória e que revelasse uma maior ligeireza no seu jeito.
Esta música funciona assim como uma declaração inicial de intenções para o disco, uma espécie de prólogo sonoro para anunciar o que aí vem e qual o ponto de partida nesta viagem sonora.
Essas intenções podem representar a vontade de cantar e fazer música, reconhecendo os desafios e inseguranças pessoais que isso envolve.
De facto, uma das realidades que tem sido muito explorada nas nossas músicas – e que está muito relacionada com o nosso contexto e com o facto de termos todos seguido outras carreiras profissionais – é a ideia de que a música foi sempre um sonho adiado: aquela paixão que sempre nos entusiasmou mas que até então nunca tínhamos conseguido materializar em algo tangível.
Nessa medida, tudo o que temos vivido recentemente nesta banda pode ser encarado como uma espécie de “adolescência musical”, que contrasta com as responsabilidades adultas que já vamos assumindo: profissões, relações, filhos, etc.
É, pois, nessa juventude simbólica que nos encontramos no início do disco, na qual surgem as dúvidas e interrogações que podemos ter em embarcar na viagem musical, surgindo quase uma ideia de incerteza (“Não Posso”).
Do ponto de vista da sua sonoridade, e para os ouvidos mais atentos, é fácil de perceber a ligação desta música com o “Já Posso”, o penúltimo tema e único instrumental do álbum.
A nossa ideia aqui foi criar um cenário meio cinematográfico, introduzindo o amolador ambulante no início da música – uma figura que vemos como uma referência muito tradicional – como que a anunciar o que aí vem.
A história do amolador vem literalmente de um sonho que o Manel teve, sobre estar a passear na rua, ouvir o amolador e convidá-lo para ir ao estúdio gravar. Foi uma espécie de visão que depois foi partilhada e concretizada.
Foi também a única música em que abdicámos totalmente da bateria e explorámos algumas texturas de percussão mais orquestrais e atmosféricas.
No fim, temos o “Êxodo (Não posso)”, que acabou por ser a última música a ser trabalhada e a primeira do disco.
Uma das primeiras ideias a surgir para o álbum e que acabou por ser definidora da estética que lhe é inerente. O “Cartago” começou por surgir numa jam que eu e o Vasco tivemos com outros dois amigos nossos, onde eu e ele inocentemente criámos uma “groove meio berbere” que achámos que teria potencial.
A progressão de acordes do verso surgiu aí e, alguns meses depois, apercebemo-nos que encaixava que nem uma luva numa outra progressão que o Vasco tinha na gaveta – com um toque de John Frusciante meets Novos Baianos – e que acabou por se tornar no refrão da música.
Juntámos as partes e continuamos a trabalhar no instrumental, que ficou definido num par de meses.
O mesmo já não se poderá dizer para a letra, que foi complicada de escrever – com muitas indecisões e dúvidas -, mas ficámos todos felizes com o resultado final porque transmite a mensagem que queríamos: explorar o lado mais real e complexo da amizade, misturado com elementos das nossas rotinas.
Uma das ideias que quisemos claramente transmitir foi a de que as melhores e mais duradouras amizades são também muito férteis em momentos menos bons: aquilo a que quisemos chamar “o lado negro da amizade”.
No entanto, esse lado negro é inevitável porque inevitáveis são também os momentos menos bons pelos quais todos vamos passar, sendo que o importante é perceber que, apesar de todas as desavenças, desencontros e desventuras, a estima que guardamos uns pelos outros nunca sairá do seu lugar – e é nessa mesma constatação que encontramos as nossas verdadeiras amizades.
No início de 2024, e quando ainda não tínhamos a certeza de que o “Samba Celta” seria um EP ou um álbum – por não termos ainda faixas “finalistas” suficientes para um disco de longa duração – o nosso baixista Filipe introduziu o tema desta música com o baixo e as teclas, criando uma base que o Vasco depois expandiu com a progressão de acordes do refrão, os arranjos de guitarra, teclas, violinos e voz.
O nome de código desta música – atribuído pelo Filipe – era “Chris P. Bacon”, e assim ficou quase até ao fim, porque tivemos muitas dificuldades em arranjar um nome que nos agradasse com base na letra.
A música reúne uma série de pensamentos avulsos sobre aprender a viver em sociedade – desde a capacidade de ler as intenções das pessoas, às noites de festa, às boas e más escolhas que moldam as amizades.
Por outro lado, sugere também uma ideia de convívio e superação das reflexões da música anterior (“Cartago”) .
Fala-nos ainda sobre maturidade e descoberta como uma jornada pessoal que se estende ao grupo.
As teclas são a espinha dorsal de “Continuar Assim”, uma faixa que surgiu numa melodia de piano elétrico do Vasco e que foi por ele temperada com várias influências da altura e outras mais ancestrais.
Depois da ideia de teclas inicial, apercebemo-nos de que queríamos fazer uma música com groove mas que ao mesmo tempo tivesse a passada lenta de uma balada: algo ao estilo de Benny Sings e com uma bateria espaçosa a fazer lembrar Anderson Paak.
Para o refrão, o Vasco quis muito introduzir um strumming de guitarra acústica mais travado, inspirado no “Out on the Weekend” do Neil Young e temperado com um arranjo de cordas para dar um contraste mais melancólico com o verso. Foi aqui que nos apercebemos que as cordas iriam ter um papel fundamental na definição da estética do disco.
A letra foca-se nas relações duradouras e sobre a importância de saber estar só, mesmo quando se está acompanhado. No entanto, consideramos que o refrão tem uma ambivalência que tanto pode simbolizar os pontos altos ou baixos de uma relação.
“Continuar Assim” é também sobre procurar independência emocional, e a sonoridade suave e envolvente dos instrumentos complementa essa exploração, criando um ambiente quase meditativo.
O “Samba Celta” é uma criação que desafia definições. O nome, apesar de unir duas referências culturais, foi escolhido não por evocar necessariamente sonoridades “samba” ou “celta”, mas sim por simbolizar o encontro entre as referências musicais que nos inspiraram.
Na altura em que o álbum foi escrito, o Vasco estava numa fase em que ouvia muita música popular brasileira e algumas das ideias dele acabaram por ter uma raíz harmónica muito influenciada pela onda tropicalista do Brasil. Já eu, estava numa fase de composições mais folk e que de alguma forma considerava terem uma sonoridade mais pagã.
Foi dessa união de referências que surgiu o nome “Samba Celta” enquanto simbolismo da estética do álbum: a ideia de enquadrar referências mais festivas com uma emoção mais local, mais portuguesa.
Este tema e o nome do álbum representam também a busca da banda por uma identidade que conjugue as suas influências, pintando-as na tela de um Portugal moderno.
É também um simbolismo da liberdade criativa e da vontade de misturar estilos e influências culturais distintas.
O processo criativo desta música foi sem dúvida dos que mais nos entusiasmou e a parte final é para nós um dos pontos altos do disco: é uma celebração que remete à união, como um hino entre amigos ao redor de uma fogueira. É uma tentativa de evocar um espírito de acolhimento que se reflete na nossa sonoridade.
Esta música surgiu de uma forma engraçada, e como prova de que muitas vezes há ideias que surgem apenas como veículos para chegarmos a outras ideias.
O tema da música foi uma tentativa do Vasco criar um refrão para uma ideia que eu tinha tido para uma música e acabámos por fugir dessa ideia e ficar só com esse “verso” que acabou por ser a progressão principal do “Pouca Dura”.
Esta é uma das músicas mais introspetivas, mergulhando em temas como a ansiedade, o medo do fracasso e o overthinking, traduzidos em referências à dúvida, à autocrítica e às insónias que atormentam a mente.
Em contraste, a música sugere um triunfo sobre essas inquietações, exaltando a importância de viver intensamente cada instante, mesmo que este seja fugaz.
A ideia de incluir uma parte em francês foi inicialmente considerada, mas acabou por cair.
É também uma música com influências mais festivas, fruto de uma tentativa de unir o charme francês com o ritmo e as harmonias tropicais, e traduzindo o desejo de transportar os ouvintes para uma pista de dança imaginária.
Para dar vida ao “Semtempo”, foi preciso abrir o baú e revisitar uma ideia mais antiga (de 2021), da altura em que ainda estávamos a compor o nosso trabalho anterior, o EP “Grã-Matina”.
Na altura, tínhamos feito um verso que nos parecia muito pouco interessante, razão pela qual a música estava quase descartada. No entanto, o refrão e a sua letra – que surgiu quase de imediato quando o Vasco ouviu os acordes que eu tinha feito – deixava-nos sempre com a sensação de que a música tinha potencial.
A música foi transformada durante um fim de semana de criação que passámos fora de Lisboa – e no qual também surgiu a progressão do “Samba Celta” -, e o novo verso criado pelo Vasco trouxe-lhe uma dimensão mais tropical que a aproximou do álbum; fruto talvez da obsessão que tínhamos na altura pelo álbum “SIM SIM SIM” dos Bala Desejo. Queríamos muito dar uma vibe desse género a uma música nossa.
O tema reflete a falta de tempo que a banda sente, tentando equilibrar os nossos trabalhos e a paixão pela música.
As flautas e o ritmo suave evocam a natureza e a floresta, contrastando com a ideia de uma rotina acelerada.
É uma faixa introspectiva, que convida a uma pausa no meio da correria, com um toque de tropicalismo que simboliza o equilíbrio entre trabalho e criação.
O “Já Posso” foi uma das criações que contou com maior articulação entre os membros da banda. A progressão terá surgido na mesma jam em que surgiu a ideia inicial do “Cartago”, mas depois foi sendo desenvolvida em conjunto pela banda em estúdio.
Surgiu também de um desejo que tínhamos em ter uma faixa instrumental que funcionasse como um quadro sonoro com potencial para levar os ouvintes a viajar.
A faixa puxa claramente para as nossas influências “daft punkianas”, retratando uma simbiose entre todos os instrumentos, com várias camadas que se vão abrindo numa viagem quase espacial.
Lembro-me particularmente dos primeiros passos desta ideia porque o tema surgiu facilmente mas depois ficou complicado de arranjar uma passagem. Essa passagem acabaria por surgir numa ideia que eu tive e rapidamente mandei ao Vasco antes de ir numa viagem para o estrangeiro. Vou sempre associar esta canção a essa viagem porque foi durante esses dias que o Vasco ia mandando a evolução do arranjo que estava a trabalhar com a banda e eu lembro-me do exato momento em que senti que já tínhamos ali uma música para poder viajar.
O título da música sugere uma ideia de resolução das inquietações retratadas nas faixas anteriores do disco, simbolizada no contraste “Não Posso/Já Posso”, abrindo assim caminho para uma conclusão do disco (“Já Posso”).
“Enquanto a Música Durar” é uma confirmação de que a música é para nós uma razão de ser.
No fundo, e se o início do disco simboliza as incertezas e inseguranças do artista, esta última faixa sugere a conclusão de que a música veio para ficar e que é para nós uma das grandes certezas das nossas vidas.
Esta foi também das únicas ideias em que a melodia e a letra surgiram ao mesmo tempo, o que é raro no nosso processo criativo Na maioria dos casos, a música surge sempre primeiro e os arranjos ficam sempre finalizados antes de entrar a letra. Já quanto às melodias de voz, estas vão surgindo como murmúrios que depois nos ajudam a encontrar palavras que vão pintando a música.
A letra reflete o compromisso para com a “deusa” música e retrata os desafios do próprio processo criativo; é uma música sobre fazer música e servi-la com todas as nossas vivências.
Do ponto de vista estético, é também uma incursão por terrenos mais “baladescos” e épicos, com influências de um pop/rock mais clássico e nostálgico e com um final vibrante que achámos digno de fecho de disco.
“Enquanto a Música Durar” é o testemunho de que, para nós, a música estará sempre presente.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)