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Depois de “Traces of Cities” (2013) e “Boundaries” (2019), o cantor Manuel Linhares lança este novo álbum “Suspenso“. Um trabalho apoiado pela DGARTES, lançado pelo carimbo Porta-Jazz e que conta com um extraordinário elenco de músicos nacionais e internacionais que trabalharam parcialmente à distância, procurando desafiar os limites físicos impostos por esta pandemia.
“Suspenso” conta com a produção e participação do músico e multi-instrumentista brasileiro António Loureiro, Paulo Barros no piano e José Carlos Barbosa no contrabaixo, o Coreto Porta-Jazz, David Binney e dos brasileiros Frederico Heliodoro, Rubinho Antunes e ainda Alexandre Andrés. Um elenco internacional que contou ainda com um arranjo do conceituado pianista argentino Guillermo Klein e com a letra “Dança Macabra” da rapper e letrista Capicua.
Em Outubro será apresentado numa digressão com a participação especial do saxofonista americano David Binney: 26 de Outubro no Hot Club em Lisboa, 28 de Outubro na Casa da Música no Porto, 29 de Outubro no Teatro Diogo Bernardes em Ponte de Lima e 6 de Novembro na Sala Clamores em Madrid.
O Marcha Lenta é o single que lançou este álbum e é um tema que começou por chamar-se Reentré porque escrevi-o quando estávamos a sair do primeiro confinamento e quando tentávamos voltar a uma certa normalidade. Esteve quase para ser um tema sem letra, em vocalize, mas a certa altura senti a vontade de escrever uma letra para a composição. Renomeie-a de “Marcha Lenta” pelo seu ambiente compassado, como a nossa própria vida, que caminha deixando um “rasto amargo, um rasto de viver”.
O Intempérie é talvez o tema com mais energia do álbum e que tem um arranjo cheio de camadas de sopros e vozes e ainda a participação do baixo eléctrico do grande músico brasileiro Frederico Heliodoro. Foi talvez o tema que mais tempo ocupou nas gravações, especialmente a gravar as imensas camadas de vozes que harmonizam de uma forma bem densa a composição. Numa primeira escuta, podem pensar que foram vozes manipuladas por sintetizador, mas não, foi tudo feito analogicamente com a gravação da minha voz em muitíssimas camadas harmónicas. Foi muito desafiante e fiquei muito contente com o resultado.
O Isolation 4 é um tema que faz parte de uma suite que compus enquanto estava em isolamento, bem no início da pandemia, quando fiquei 14 dias fechado num quarto com a simples companhia do meu piano. Escrevi imensos temas durante esse período e este mergulho na composição ajudou-me a ultrapassar essas barreiras físicas que me continham. Este álbum acabou por se começar a construir nesses dias e esta suite “Isolation Songs” foi das mais marcantes que compus. É um tema que também tem um arranjo fantástico de sopros, feito pelo António Loureiro, no qual a minha voz se junta num efeito melódico que gosto muito.
Este tema é o único tema do álbum que não é meu. É uma composição do António Loureiro que é um grande multi-instrumentista brasileiro que aceitou o meu convite para ser produtor musical deste trabalho. É um tema muito desafiante que tive que adaptar a letra de Português do Brasil para Português de Portugal, que apesar da mesma língua têm tantas particularidades, e que conta com a participação do grande saxofonista americano David Binney.
Confesso que quando surgiu a oportunidade de ter o David como convidado fiquei absolutamente em êxtase. O David Binney é um dos músicos que mais admiro e que nunca imaginei tê-lo como convidado num trabalho meu. Mas simplesmente as coisas aconteceram e ele adorou a música e o projecto, o que o levou ainda a aceitar fazer uma tour connosco agora em Outubro. Tive muita sorte!
O Lamento é um tema sem letra que compus no último momento, já estávamos no meio do processo de produção do álbum e de repente escrevi este tema, que fazia todo o sentido entrar neste disco. Escrevi-o como um desafio, num momento de inspiração. (Para mim é difícil compor por tarefa) E parti da premissa de escrever uma melodia que estivesse sempre no meu registo de falsete, que era uma coisa que normalmente evitava, talvez por achar que seria demasiado exagerado estar lá sempre tão nos agudos. Normalmente ando a saltar entre regiões mais graves e médias e lá vou dando umas visitas ao meu falsete. E o resultado não foi de lamentar a meu ver, tanto é que uni esforços com o António Loureiro e conseguimos prepará-lo a tempo de ainda aparecer neste trabalho. O registo agudo e etéreo do tema deu nome ao mesmo. Foi uma experiência bem sucedida (a meu ver, claro!).
O Jogo de Sombras é um tema muito importante para mim por várias razões. Escrevi-o a partir de uma memória de infância que tenho ainda hoje muito presente. Eu em criança era muito hiper-activo e lembro-me que no jardim de infância, ao contrário dos outros miúdos, não fazia a sesta, aquilo entediava-me. Enquanto os outros dormiam eu brincava com o que podia. Como estava deitado na cama não tinha muito mais que os feixes de luz que entravam pelas frinchas das janelas do dormitório e eu ficava a brincar com as minhas mãos, projectando animais e outras formas pela sala. E o tema fala da simplicidade desse prazer que esse jogo me dava, uma satisfação que só é possível nesse mundo das crianças.
Para além disto, tive a felicidade de ter o Guillermo Klein, um grande pianista e compositor Argentino residente em Nova Iorque, a fazer o arranjo para o Coreto Porta-Jazz, que também entra como convidado neste tema. O Guillermo é um músico com uma carreira imensa e que admiro muito. Foi um enorme orgulho contar com todo o apoio que deu a este trabalho, “apadrinhando-o” como ele próprio refere.
Este é mais um tema que tive a honra da participação do Coreto Porta-Jazz, desta vez com um arranjo fantástico do António Loureiro. Tenho que ressalvar que todo este trabalho foi feito durante a pandemia e que, inicialmente, achávamos que as viagens seriam uma coisa que rapidamente iriam voltar a acontecer. O António Loureiro, residente em São Paulo, Brasil, acabou por não conseguir viajar para a produção e gravação do projecto. Acabámos por trabalhar à distância com software que nos permitiu ter o António a gerir as gravações desde São Paulo. Foi uma enorme aprendizagem tecnológica, com muita pesquisa, contratempos e que exigiu muita coordenação e esforço de todos. Lembro-me que durante as gravações o António tinha que se levantar às 5 da manhã, devido à diferença do fuso horário, e chegava em frente ao computador dos seu estúdio do outro lado do atlântico de voz arrastada, com o café na mão, mas sempre bem disposto e muito, muito profissional.
O tema Dança Macabra é uma canção que tenho um carinho especial devido à parceria feita com a Capicua, que escreveu uma letra lindíssima para este tema. Eu sou natural da Horta, Ilha do Faial, e há uns anos ela foi aos Açores e fui mostrar-lhe o Pico, onde normalmente passo férias na casa que era do meu Avô. Ela adorou os Açores e penso que aquela viagem sobre as negras rochas vulcânicas do Pico ficou-lhe marcada. Escreveu esta linda letra que começa com: “Sabem o que acontece quando a lava desce e encontra o mar”.
Suspended é o tema que dá nome ao álbum Suspenso. Inicialmente, um tema que fazia parte da suite Isolation Songs mas que acabou por receber uma letra que o renomeou de Suspended. O que achei muito interessante no processo deste tema é que continuo a fazê-lo sem letra (em vocalize) noutro projecto, com outra instrumentação e essa diferença da letra dá-lhe sonoridade completamente distinta. É tão engraçado ver que a mesma base pode ter formas tão distintas simplesmente quando lhe pomos uma letra em cima. Se, por um lado, quando o canto sem letra adquire uma liberdade interpretativa, tanto da minha parte como de quem a escuta, por outro, quando a letra o estrutura, tem uma outra cor, outro efeito. Gosto imenso dos dois. Talvez por isso tenha andado numa luta interna até quase ao final das gravações, sempre em dúvida se o mantinha com letra ou sem. Não me arrependo da decisão! Acabei por ganhar duas versões que me orgulho muito.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)