“Real e Indiscutível” é o refrão que inevitavelmente descreve a unidade art rock e post punk das Caldas da Rainha, Cave Story.

Ao longo de West (2016) e Punk Academics (2018) o grupo modelou um vocabulário extenso de toadas minimalistas repletas de sagacidade e deleite, revigorando a linguagem do rock e da pop num exercício compreensivo marcado pelos métodos de trabalho deliberadamente autónomos de gravação produção e experimentação. No mais recente EP ‘The Town’ editado no final de 2021 o grupo explora a estrutura da canção em tom intimista e intensamente texturado. Gonçalo Formiga (Voz, Guitarra), Ricardo Mendes (Bateria) e Zé Maldito (Samplers e Guitarra) convocam Bia Diniz (April Marmara) para assumir a fileira do Baixo nesta nova formação.

O resultado pode já ser escutado em “Wide Wall, Tree Tall”, que está aqui descrito faixa a faixa pela banda.

Teria obrigatoriamente de ser o primeiro single, assim como a primeira música do disco. Para nós é uma afirmação muito séria, com humor, da nossa identidade enquanto músicos. Declaramos as nossas intenções de nos expressarmos e comunicarmos desta forma, por tanto tempo quanto possível. Essa declaração marca o tom para o resto do disco.

O título remete para uma peça do artista britânico Peter Hutchinson. Muito do seu trabalho tem uma qualidade efémera e processos com base em casualidade e com os caprichos da natureza. Esta peça em particular é composta por bases e topos de madeira e rodelas de água congelada da taça de beber do gato, que congelaram naturalmente no alpendre.

Uma das músicas do disco que foi escrita há mais tempo, acho que já andava aqui numa pasta em 2020. É sobre superação pessoal, individual, frustração e resultados. O descontentamento geral, a grande oportunidade de tornar o que se tem na comodidade que se quer ter. O buraco negro da auto-ajuda, do bem estar e da filosofia a retalho.

‘Aching for a Rebel’ é um relato de uma personagem no encalce de uma confrontação final, não com um inimigo mas com uma figura paternal. Fumar é um hábito opressivo, mas é uma imagem perfeitamente clara de que vou morrendo enquanto espero por nós.

Esta canção funciona como uma junta ou uma dobradiça, liga vários temas e histórias do disco. Foi a primeira em que usámos uma combinação que depois repetimos: a viola-de-arco e uma variação caseira de um som clássico, um som estilo “brass”, no Juno-60.

Já fizemos referência ao Peter Hutchinson e à exploração de processos criativos que usam a casualidade e a aleatoriedade como ferramenta. Nesta música, os primeiros versos nasceram de recortes (figurativos, ninguém cortou livros) do romance de ficção científica ‘Flow My Tears, the Policeman Said’, do escritor americano Philip K. Dick, na tentativa de dar novo significado e construir uma renovada narrativa ou novas imagens a partir da reorganização de frases e das novas frases escritas entre elas.

A guitarra é por defeito a ferramenta de composição da música rock. Cada instrumento tem abordagens totalmente diferentes. Nem sempre a familiaridade é um elemento facilitador da criação. Dito isto, há formas de criar situações de desconforto e exploração. Uma delas pode ser escrever num instrumento que não está minimamente dominado. É o caso desta faixa e de mais um par de canções que escrevi nos últimos anos que tiveram início no piano. Uma das coisas que é profundamente diferente é a tensão rítmica, o espaço que ocupa e o que fica por ocupar.

Aqui há o regresso a um tema já explorado na ‘Dead and Fermenting’. Mas de uma outra perspectiva. A grande oportunidade, o desejo pela comodidade. O que eu quero dizer é: Nós trabalhamos para ti. Vamos puxar-te ao limite. Até ao teu melhor absoluto. Algo entre um tigre e uma bulldozer.

As guitarras, que são o motor principal desta canção, foram recuperadas de um qualquer rascunho perdido numa pasta. Não me recordo de qualquer detalhe, microfone, amplificador ou sequer a guitarra específica com que gravei, mas quando passado uns meses abri o projecto parecia que o som de guitarra já tinha sido gravado em fita e impresso em vinil. Foi difícil não querer terminar a música logo a seguir.

Um momento do disco que foi gravado ao vivo numa sala diferente do resto. Veio encaixar no puzzle tirada de uma sessão nos estúdios Waahs, em Lisboa, com o nosso amigo Ulpiano. Há mais músicas dessa sessão que eventualmente poderão figurar em lançamentos futuros, mas esta foi intencionalmente pensada para aqui. Num disco em que queremos reflectir sobre dimensões e perspectivas, sentimos que era importante ter uma peça rígida impressa de uma só vez.

O peso emocional das mudanças. Das grandes e das pequenas mudanças. A balada peculiar, excêntrica e curta é um dos nossos géneros musicais preferidos.