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É oficial: são dez anos de terror e suspense num festival que cresce consistentemente em número de espectadores e vai ganhando aficcionados do género. O MOTELX regressa em grande.
A abertura oficial da 10ª edição do MOTELX decorreu no passado dia 6 de Setembro, em Lisboa, no Cinema S. Jorge, pelas 21h30, com uma breve apresentação das novidades do Festival (a começar pela nova imagem, ou, em modernês, o rebranding, que faz lembrar o icónico Bates Motel), a mostra das iniciativas de aquecimento (as sessões ao ar livre com a exibição de Carrie e de The Rocky Horror Picture Show), o júri da competição das longas internacionais e das curtas nacionais, a apresentação da programação e a intervenção da equipa responsável pelo festival, bem como de alguns convidados, entre os quais, Fernando Ribeiro (claro, o vocalista dos Moonspell), Filomena Cautela (que se «borra de medo») e Mick Garris (que regressa dez anos depois e afirma que quem gosta de filmes de terror não era popular na escola… o que posso afirmar que está muito errado, mas adiante).
Mais uma vez o spot, desta vez a cargo de Jerónimo Rocha, parte tudo.
E é do regresso de D. Sebastião que se fala: O seu regresso é aguardado por muitos num nevoeiro mágico, talvez o mesmo que leva o leproso Blake de volta a Antonio Bay, no “The Fog” de Carpenter. Extrapolemos então o que o terá retido 438 anos, ou mesmo como conseguiu finalmente voltar, depois de todo este tempo. O jovem Rei terá sido acolhido após a batalha perdida e, às portas da morte, trazido de volta por uma entidade que o instruiu nas artes negras. Aprendeu a dançar com os malditos e com o tempo e quando finalmente recuperou a memória de quem fora, quis reaver o seu Reino. É a hora!, diz Jerónimo Rocha.
Contrariamente ao ano passado, em que a programação ficou manifestamente aquém e as sessões de abertura e encerramento (bem como a programação nobre) deixou bastante a desejar, o MOTELX recupera e, de casa cheia, apresenta um grande filme de abertura.
Don’t Breathe (Nem respires), de Fede Alvarez (o realizador d’A Noite dos Mortos-Vivos e do primeiro episódio da série Aberto até de Madrugada, de Robert Rodriguez), produzido por Sam Raimi (entre muitos, muitos outros, produtor d’A Noite dos Mortos Vivos e Poltergeist) foi o filme (muito bem) escolhido para iniciar as hostes do terror.
Passado na falida e fantasmagórica Detroit, a cidade deserta, sem trabalho, sem oportunidades, o ex-libris da consequência máxima da crise capitalista no mundo laboral, onde três jovens assaltam as casas daqueles que ainda têm dinheiro ou valores para assaltar e, claro, metem-se onde não devem.
Podia ser uma história sem piada nenhuma: uma hora e meia, 5 personagens e um cão, uma casa. A verdade é que este assalto, em que os caçadores passam a ser a presa, com alterações bem surpreendentes, deixa o espectador toda a hora e meia em tensão absoluta. Praticamente sem diálogos ou grandes explicações, quase nos sentimos dentro da casa, obrigados a não respirar para não fazer barulho, e a procurar desesperadamente uma solução para sair dali.
As personagens estão muito bem construídas, não há um minuto de aborrecimento, o clássico humor negro está onde tem que estar e a adrenalina dispara com o final em aberto, como não pode deixar de ser.
Já Tenemos la Carne, de Emiliano Rocha Minter, apadrinhado por Inárritu e Carlos Reygadas (co-produtor), prometeu bem mais do que entregou. As exageradas comparações com o incomparável We are What We Are, de Jim Mickle (que já passou no MOTELX) são despropositadas, principalmente porque pretendem assemelhar filmes radicalmente diferentes que apenas se tocam quanto ao canibalismo, tema secundário neste Tenemos la Carne.
Lucio e Fauna, irmãos, entram no mundo de Mariano, que se assemelha a um útero construído unicamente para retornar à essência básica humana e aos mais puros instintos animais de sobrevivência. Enredados nos rituais e sobrevivência de Mariano, os irmãos quebram todas as convenções e regras sociais num filme subversivo, provocador, gráfico, que descreve a face mais animalesca do ser humano, sem pudores, com diálogos filosóficos, imagens subliminares e uma mistura entre a performance, a dança e o cinema, num filme sem terror ou suspense mas com o horror das entranhas humanas.
Fiquem os sentidos em alerta, espera-se um grande festival. Até já por aí, onde o terror anda à solta.