Porto/Post/Doc 2016

por Isabel Leirós em 4 Dezembro, 2016

Já é uma tradição que anuncia o Natal: aos primeiros dias de Dezembro, lá nos reencontramos no Teatro Rivoli para ver bom, óptimo, cinema na baixa do Porto. Na sua terceira edição, este enorme* festival internacional convenceu quem o visitou pela primeira vez.

Com uma programação diversificada mas sempre com um olhar sobre o real, os dias do festival fizeram-se de documentários, curtas e longas, realizadores consagrados e alunos de Cinema, pequenos e graúdos, música no palco e no ecrã, e – sobretudo – um crescimento de espectadores face às edições anteriores. Entre o Rivoli, o Passos Manuel e Maus Hábitos, foram cerca de 100 filmes provenientes de 31 países e 4 continentes.

Na cerimónia de entrega de prémios e encerramento celebrou-se o Cinema.
El Dorado XXI de Salomé Lamas recebeu o Grande Prémio, um filme estreado mundialmente na Berlinale e com estreia nacional no Porto/Post/Doc. O plano fixo e a voz de rosto ausente, o olhar pelo mundo esquecido das minas peruanas a 5.000 metros acima do solo, o arriscado olhar sobre duras realidades laborais, valeram o reconhecimento à realizadora.
Igualmente corajoso é o retrato de migrantes em Les Sauteurs, uma produção de Abou Bakar Sidibé. O filme foi reconhecido duplamente no festival – com um prémio para realizadores emergentes e uma menção honrosa -, sendo a noite de festa assinalada pela ausência do realizador, impedido de viajar desde a Alemanha pelo seu estatuto de refugiado. O filme é um retrato autobiográfico, que relata a vida daqueles que entram na Europa por Marrocos, na esperança de reencontrar uma vida serena e de paz. Vale a pena ler o testemunho do realizador aqui.
De assinalar a premiação de trabalhos escolares no âmbito do festival. Nesta edição do Porto/Post/Doc três jovens estudantes de Cinema foram agraciados pelo seu trabalho em Vandoma, um breve documentário sobre a pitoresca feira de rua da cidade do Porto, que recentemente transitou de localização. Ama-San de Cláudia Varejão e Under The Sun de Vitaly Mansky foram os demais vencedores da noite.

A cerimónia de encerramento da 3ª edição do Porto/Post Doc 2016 terminou com a promessa de regresso de 29 de Novembro a 3 de Dezembro de 2017, sendo possível acompanhar toda a sua actividade ao longo do ano nas sessões Há Filmes Na Baixa.

*Não posso deixar de me manifestar incomodada com Salomé Lamas, realizadora de El Dorado XXI, que quer na apresentação do filme quer na aceitação do Grande Prémio, frisou que o Porto/Post/Doc é um “pequeno festival”. Um claro retrocesso, um regresso àquele cinema nacional sobranceiro que a poucos interessa. Fico muito feliz pela atenção internacional que a realizadora tem recebido, mas não é motivo para se colocar em tal posição de superioridade quanto à realidade portuguesa.


sobre o autor

Isabel Leirós

"Oh, there is thunder in our hearts" (Ver mais artigos)

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