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Protagonizado por Nick Cave e relatando o 20.000º dia desde o nascimento, clarifique-se desde já: não é um documentário, nem é totalmente ficção. Largamente inspirado na carreira do crooner (é assim que o vejo, cantando os seus amores e desencantos, de voz grave e inconfundível, nos mais impecáveis – e arrojados – fatos), acompanha o protagonista num dia da sua vida, entre o estúdio e outros compromissos. O processo criativo de Cave – que se interpreta a si próprio – é o epicentro da película, a construção do universo que lhe pertence e a sua evolução dos anos 1970 à actualidade, cerca de quatro décadas depois.
Para lá da rica experiência cinematográfica conferida pelas pausas na narrativa para dar lugar à música do seu mais recente álbum Push The Sky Away (2013), o filme assenta em estratégias muito inteligentes para nos colocar em contacto com o lado mais humano de Nick Cave: da recordação das relações familiares à visita ao arquivo que o seu país mantém sobre as suas figuras artísticas de renome. Afinal, como o próprio testemunha, é a nossa memória que nos constrói e identifica no mundo.
O diálogo é permanente, dando voz e rosto àqueles que assinalaram os momentos mais relevantes da sua carreira. Kylie Minogue não poderia faltar, já que foi a sua colaboração no álbum Murder Ballads de 1996 que deu Nick Cave a conhecer ao público mais mainstream. Assim como o alemão Blixa Bargeld e o australiano Warren Ellis, com quem Nick estabeleceu icónicas parcerias artísticas, em processo de criação colaborativa essencial à existência humana.
A minha experiência com este filme foi um pouco diferente do habitual, pois tive o privilégio de assistir a um breve enquadramento introdutório apresentado pelo nosso Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), no Theatro Circo, em Braga. Uma completa masterclass sobre a vida e a obra do sublime australiano.
Ainda assim, desenganem-se: “20.000 Dias Na Terra” não é um filme para melómanos. É sim um emotivo olhar sobre a experiência humana e o passar dos anos, que reflecte sobre a definição de uma entidade no mundo – no caso de Nick Cave, a construção de uma figura idolatrada por milhões, “godlike” como o protagonista afirma. Um ensaio que se adequa até à época em que nos encontramos, de reflexão do 2014 que termina e formulação de metas pessoais para 2015.