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20th Century Women
Título Português: Mulheres do Século XX | Ano: 2016 | Duração: 119m | Género: Drama
País: EUA | Realizador: Mike Mills | Elenco: Annette Bening, Elle Fanning, Lucas Jade Zumann, Greta Gerwig

Estamos no final dos anos 1970 e somos apresentados a uma série de personagens que orbita em torno de uma casa centenária em processo de restauração. Lá, vive Dorothea, uma mulher de meia idade que, depois da separação com o marido, se vê sozinha na árdua tarefa de criar um miúdo adolescente, Jamie. É claro que a palavra “sozinha” é aqui utilizada de forma muito livre, uma vez que nesta casa vive também William, encarregado pela manutenção do espaço e Abbie, uma jovem fotógrafa sobrevivente de cancro e com um especial apetite por toda a cena artística da época. Quem também frequenta a casa é Julie, a melhor amiga de Jamie, com quem partilha uma tensa relação de amizade pautada pela tensão sexual própria da idade.

Mulheres do Século XX é uma obra de extrema beleza que nos transporta para um momento muito específico da vida norte-americana. Esta lição de história do realizador Mike Mills é um retrato nostálgico e comovente de uma série de pessoas presas no seu contexto e caracterizadas pelas escolhas que as colocaram onde agora as vemos. Somos confrontados com a expectativa de um futuro que rapidamente se torna presente, sem que isso se traduza necessariamente em descontentamento e tristeza, mas sim num novo olhar sobre o que nos rodeia, de forma a apreciar a natureza mutável da vida. O jovem Jamie, assiste a várias gerações de mulheres que o vão moldar enquanto homem, mas, mais do que isso, assiste ao desenrolar de um período formativo que só a posteriori lhe fará sentido. A narrativa é apresentada de forma linear, decorrendo num espaço de tempo relativamente curto, mas ganha maior dimensão temporal com o discurso directo das personagens, que por vezes assume uma posição omnisciente. A introdução de referências pop é só mais um elemento que nos aproxima ainda mais das personagens, com apontamentos musicais deliciosos que nos transportam para um olhar diferente do século que agora começa.

Todo o elenco apresenta uma química inegável, como se já se conhecessem há anos, apresentando uma cumplicidade que transpira para além da tela. Annette Benning volta a recordar-nos da brilhante actriz que é, mostrando uma mãe que já foi filha, namorada e acima de tudo, que continua a ser uma pessoa para além de qualquer posição social ou familiar. Na verdade, é aí que reside a força do argumento, nas pessoas enquanto indivíduos e como lidam com a sua posição em relação aos outros. Junta-se a tudo isto uma fotografia cuidadosamente estudada, que nos traz verdadeiros quadros em movimento, e temos uma capsula do tempo que nos mostra a intemporalidade do ser humano.


sobre o autor

Jose Santiago

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