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A linguagem do cinema documental é uma das mais fascinantes da sétima arte. A exploração do real, da subjectividade e das várias abordagens a que uma história pode estar sujeita tornam o espectador num agente activo da produção, porque é a percepção que vai definir a realidade do apresentado.
“A Toca do Lobo” pode ser entendido como um documentário sobre a memória, onde a realizadora procura entender quem era o avô e qual o legado pessoal na sua descendência. Com entrevistas a familiares, contemporâneos e amigos, Catarina Mourão procura decifrar quem era a pessoa de Tomaz de Figueiredo e talvez conhecer um pouco de si própria através do escritor. Esta seria a leitura mais simples e talvez a intencionada pela realizadora, mas é impossível não vislumbrar motivos menos claros por detrás da produção deste documentário. Ao longo da narrativa vamos compreendendo que a família da autora se encontra dividida e que uma das partes detém agora todo o espólio do escritor, a partir desse momento, qualquer informação que nos chega já é filtrada de forma diferente e é impossível não pensar neste filme como uma manobra de charme para a opinião pública ou qualquer disputa legal que poderá acontecer. É importante referir, quando falamos de pessoas reais, que esta é apenas a percepção com que fiquei e que pode não representar de todo a realidade.
Há momentos de genuíno interesse ao longo do filme, mesmo que Tomaz de Figueiredo nos seja indiferente podemos utilizar esta personagem como um veículo pelo tempo, por outros costumes e outra construção social. Infelizmente as opções técnicas e estéticas tomadas neste documentário falham redondamente em torná-lo cativante. Tudo o que está no manual de enquadramentos foi lido e posto em prática, mas não há material narrativo suficiente para justificar um plano de 40 segundos (ou mais) de uma caixa, não há preparação narrativa para a contemplação de uma cara durante um minuto e não há de maneira nenhuma justificação para 3 minutos de dança folclórica quando esse não é o interesse fulcral do momento.
O filme tem uma aura muito amadora, desde a narração, que se pode equiparar a uma composição de 7º ano, até à falta de noção de tempo e linguagem cinematográfica. É impossível deixar de sentir que estava aqui uma curta-metragem bastante sólida, mas infelizmente a realizadora deixou-se deslumbrar pelas imagens que captou e não conseguiu deixá-las de fora. Os valores de produção são altíssimos mas o engenho para os gerir falhou.