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Alien: Covenant foi exibido na sexta-feira dia 11 de Agosto de 2017 no Porto na iniciativa Cinema Fora do Sítio que tem como objectivo aliar duas coisas fantásticas: o Verão e o cinema, apresentando filmes da actualidade ao ar livre em espaços da cidade. O palco escolhido para a exibição deste foi os Jardins do Palácio de Cristal, cenário perfeito para acolher filmes de grande impacto visual, por entre as sombras das árvores e a gruta.
Há uns meses falava eu com a minha colega do Arte-Factos Isabel Leirós no Monitor, o programa de Rádio no qual é Diva, sobre bandas-sonoras e surgiu aquela questão de ouro que se coloca sempre aos cinéfilos: qual o género de eleição? A Isabel achava – até pela própria escolha da selecção musical desse dia – que seriam os épicos. Respondi que todos os géneros são especiais para mim, pois também não conseguiria viver sem comédias. No entanto, analisando a questão mais a fundo, se eu tivesse de escolher apenas um, aquele que me é mais querido é a ficção científica. Há dois grandes motivos para este amor: a capacidade que o cinema tem de transcender as barreiras da nossa realidade, levando-nos numa viagem por cenários e situações e a grandeza filosófica a que o género ficção científica nos permite, quando bem explorado. Aliás, não é raro serem apresentados em livros ou filmes aquilo que à data é considerado ficção científica, vindo isso mais tarde a revelar-se uma realidade (ocorre-me de imediato o nome de Jules Verne e, consequentemente, Georges Meliès). É, sobretudo essa grandeza de imaginação que torna a meu ver, a ficção científica tão especial. Ridley Scott, o realizador deste Alien: Covenant, é – aliás – o criador dum dos meus filmes de eleição e que me ocorre quer quando se fala dos títulos da nossa vida, quer quando se menciona os maiores da história do cinema de ficção científica: Blade Runner, cuja a aguardada continuação deixou todos os fãs tão expectantes como temerosos. Dentro dos próximos meses já descobriremos se o que aí vem irá dar ou não continuidade à lenda.
Alien: Covenant, realizado por Ridley Scott, é a sequela da prequela de Alien, Prometheus. Alien foi lançado no já ido ano de 1979 e revolucionou o mundo da ficção científica e também o do terror. Confesso que já não sou a fã do género terror como era nos meus também idos tempos de adolescência, mas posso dizer que de todos os que vi – e nessa época foram todos os que existiam até à data – Alien é o que melhor envelheceu. Toda a estética do filme foi um marco visual, o facto de ser com Sigourney Weaver, uma das mais talentosas actrizes do cinema, e todo aquele pânico gerado pelo ser vindo do espaço a que Scott deu vida tornaram-no um clássico. Seguiram-se Aliens de James Cameron em 1986, onde se nota o gosto pela grandiosidade que tanto caracteriza Cameron sobretudo na luta final, Alien 3 de David Fincher de 1992 onde a claustrofobia – algo elementar nos filmes de Fincher – se consegue sentir e Alien Resurrection de Jean-Pierre Jeunet de 1997, um filme mais visual e quase a roçar o gore (nota para a excitante sequência na água). Em 2012 Ridley Scott lança Prometheus, onde promete contar como tudo aconteceu e, como o Alien terá nascido. Apesar dessa premissa, no final ainda fica em aberto como é que Alien, conforme o conhecemos, se terá desenvolvido.
Alien: Covenant começa onde Prometheus havia terminado, dando seguimento ao enigma da origem do diabólico Alien. Este é, de longe, o melhor de toda a saga a nível de densidade emocional do ponto de vista filosófico e das eternas questões: “De onde vimos e porquê?” O filme abre com a criação de David, o andróide (a quem eu tanto gosto de chamar replicant), cujo nome não é escolhido ao acaso e representa no seu âmago a (sede de) perfeição. Esta é, aliás, uma das sequências mais belas do filme em que David se depara com o seu próprio criador (curta, mas marcante aparição de Guy Pearce) e, consequentemente, com os dilemas com que o seu próprio criador se confronta. Segue-se a missão da nave Covenant que, por uma série de acasos e decisões, vai parar exatamente ao local onde tudo se irá desenvolver. O crescendo da intensidade emocional inicia-se pouco depois da aterragem, numa cena extremamente bem realizada, onde o som tem um papel extremamente relevante para nos acelerar o coração e nos fazer sentir o pânico daquelas personagens que têm a particularidade de estar todas ligadas para além duma missão científica, tornando o filme ainda mais intenso (sugestão: ver o prólogo do filme de nome Alien: Covenant Prologue: Last Supper. Scott sempre foi mestre em conjungar som com imagens e em conseguir o crescendo emotivo nos seus espectadores como comprovam filmes como Blade Runner, Thelma & Louise (dois dos meus all time favourites), Gladiator, Alien ou The Counsellor. E sempre exerceu outras funções para além da de realizador ao longo da sua carreira, nomeadamente como produtor.
Após o primeiro susto, seguem-se aqueles momentos calmos antes da tempestade, onde a sequência da flauta – e uma pausa aqui pois a flauta não é escolhida por acaso – é do mais belo que já se viu, quer pela beleza cinematográfica da cena, quer pela densidade filosófica desse momento. E há que dizer uma palavra para Michael Fassbender que se firma como um dos melhores actores da actualidade, conforme tenho vindo a dizer de há uns anos para cá. E, por último, a tensão – tão humana – de confronto, onde criação, propósito, loucura, sanidade, sobrevivência se fundem. Aqueles sentimentos tão humanos que tornaram filmes como Artificial Intelligence, X Machina ou I Robot tão marcantes e o grande motivo pelo qual tornam este tão distinto.
Uma última nota para aplaudir a fantástica escolha de Richard Wagner e, em particular, da ária A Chegada dos Deuses a Valhalla de Das Rheingold (O Ouro do Reno) que, na sua génese, resume todo o filme, tal como as alusões ao poema Ozymandias de Percy Bysshe Shelley que era casado com Mary Shelley, cujo Frankenstein é mencionado em Prometheus.
Alien: Covenant é extremamente bem realizado e o melhor filme de toda a saga, pois – para além da Ripley, da tensão, da luta pela sobrevivência, de todo o festival sangrento que tanto nos deslumbrou e deslumbra – vai mais longe do que os seus irmãos e põe o dedo na verdadeira ferida, tornando-se por isso um clássico imediato que há-de atravessar gerações e que deslumbrou quem teve o prazer de o ver ou rever nessa sexta-feira no Porto no cenário perfeito para uma noite de Verão.