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Estamos em 1942 e somos apresentados a Max Vatan, um oficial canadiano destacado para uma missão no norte de África. É em Casablanca que conhece Marianne Beauséjour, um membro da resistência francesa que já preparou caminho para uma missão potencialmente letal atrás das linhas do inimigo. Juntos e fazendo-se passar por um casal francês, vão tentar assassinar o embaixador alemão destacado àquela zona por Adolf Hitler e tentar viver em personagem num território manifestamente hostil. Esta é parte da história, o que estes operacionais de guerra não estavam a contar era que a ficção e a realidade se mesclasse de forma tão inconveniente, acabando por se apaixonar e constituir família em Londres. Um ano e um filho depois, Max é incumbido de uma missão ainda mais letal que a primeira, descobrir se a mulher com quem partilha todos os seus dias é uma espia nazi, se tal se confirmar também terá de ser ele a levar a cabo a execução.
A primeira impressão do filme não é a melhor, vemos a personagem de Brad Pitt a cair de pára-quedas num deserto africano e a sequência corre bem, até à aterragem. Assim que Max cai na areia somos brindados com um boneco constrangedoramente digital, quase digno de um episódio do Major Alvega, a desafiar todas as leis da gravidade. Felizmente nada fica tão mau daí em diante, mas é um prenúncio daquilo que podemos esperar em termos estéticos, nada parece real e na primeira parte da história, temos a perfeita noção de que estamos num estúdio e não em África. Este podia não ser um problema quando estamos perante uma homenagem aos dramas em tempo de guerra dos anos 40, em especial Casablanca, mas o filme não foi rodado a preto e branco e a inclusão de efeitos digitais distancia-nos da intenção. Outro grande problema é o acentuado declive em termos de tom entre a primeira e a segunda parte. É suposto acreditarmos que há uma química inevitável entre as duas personagens na primeira metade, mas é impossível deixar de pensar que se trata dum romance circunstancial catalisado pelo medo da morte e baseado num desejo puramente carnal. A segunda metade corrige a premissa com cenas de um quotidiano aparentemente sincero, mas o fantasma da primeira hora insiste em pairar até ao fim.
Robert Zemeckis continua a ser um mestre a contar histórias, toda a trama é meticulosamente gerida para nos manter cativados com a dose certa de construção dramática e acção. Independentemente da forma como as personagens foram escritas, sentimos a tensão entre o casal e a dúvida insuportável na personagem de Max, muito à custa de pormenores que sendo ignorados cortariam a relação que o filme tem com o público. A inclusão de duas pessoas extremamente bem parecidas nos papeis principais não foi a melhor decisão, mais uma vez, temos de acreditar que aquelas personagens viram mais um no outro do que um desejo físico e não é o que transparece.
Tanto Brad Pitt como Marion Cotillard são exímios a interpretar estas personagens e onde o texto falha eles compensam em entrega, mas a entrega tem limites. Na primeira metade do filme, Max tem de se fazer passar por um nativo parisiense e cada vez que tenta falar francês somos brindados com um sotaque americano incurável, reminiscente da situação parodiada em Sacanas Sem Lei. Lizzy Caplan interpreta a irmã assumidamente lésbica de Max numa Londres em tempo de guerra, uma personagem muito inverosímil para a época e que é completamente desnecessária, mais um sintoma dolorosamente óbvio da inclusão de minorias em cenários que não o justificam. Jared Harris interpreta o superior directo de Max e é uma personagem deliciosa, consegue equilibrar na perfeição a noção dever com a intimidade que partilha com o homem a quem urge para cumprir uma missão dilacerante.
Allied é um drama de acção que entretém mas que não nos convida a investir nas personagens. As cenas de acção são extremamente bem conseguidas e para um filme dividido em duas partes, não deixo de pensar apenas na segunda, onde a tensão e o conflito pessoal é mais acentuado. Apesar de homenagear os clássicos, há uma coragem subtil na narrativa. Esteticamente é demasiado limpo para material tão sujo e já vimos Robert Zemeckis ser muito mais cru, mas é uma história que nos prende até ao final.