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American Made traz-nos a história do piloto Barry Seal que seria apenas mais um, se não fosse o facto de aceitar trabalhar para a CIA e, consequentemente, iniciar uma viagem profissional que o levaria a ajudar os barões da droga colombianos e ser o transportador do produto para o mercado principal: os EUA.
A maneira como todo o processo decorreu é bastante curioso e é libertador que a arte do cinema comece a trazer-nos mais e mais filmes que retratem esta realidade, a realidade do mundo em que vivemos e do que é realmente a causa de todas as guerras: a economia, sendo a maioria delas produzidas pelas entidades que com elas lucram, no caso retratado o Governo Americano.
E se é libertador é também assustador que vivemos num mundo que fabrica as suas próprias guerras e manipula pessoas e países em nome dos interesses económicos. É assustador que não possamos criar sociedades que se baseiem na abundância que o nosso Planeta oferece e nos foquemos na escassez e que o sistema económico sirva justamente para alimentar esse mindset. E desengane-se quem acha que os EUA são o grande culpado; a passividade não é inocente, já dizia Martin Luther King: “No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos.” (Caso alguém queira uma lufada de ar fresco no tema poderá ler O Caminho Para A Economia Aberta de Colin R. Turner e traduzido para português por Carlos Rui Ribeiro).
A carreira de produtor de Doug Liman é bastante mais longa do que a sua carreira de realizador. Como realizador Liman tem trabalhos como The Bourne Identity, Mr. and Mrs. Smith ou Edge of Tomorrow, todos dentro do género ação. Já Gary Spinelli tem ainda uma curta carreira como argumentista, sendo American Made o seu segundo título.
Pode dizer-se que quer a realização, quer o argumento estão bem consolidados neste título, onde somos levados de peripécia em peripécia a um ritmo agradável que presenteia cada espectador quer com os factos, quer com gargalhadas algo nervosas face às circunstâncias dos acontecimentos. Há diversas cenas que parecem sido apenas feitas para cinema e não fosse a história verdadeira, seria difícil de acreditar que algumas daquelas coisas se passaram daquela forma, nomeadamente o arranque do avião na pista de tamanho reduzido, a perseguição de aviões, o sangue frio do protagonista, a manipulação governamental em toda a trama ou a estupidez de algumas das personagens. Realmente é preciso talento para concentrar tantos episódios num curto espaço de tempo e dar um tom ligeiro a algo que de outra forma seria um filme sobre um tema pesado com verdades pouco convenientes e, até mesmo, chocantes!
Tom Cruise é o protagonista que dá vida ao piloto Seal. Diga-se o que se disser, Tom Cruise é um excelente ator com uma versatilidade ampla e tem notoriamente uma paixão pelo género ação – género esse que lhe assenta como uma luva. Já dizia Emily Blunt, a propósito das filmagens de Edge of Tomorrow, que o Tom Cruise era melhor que um ginásio e era a melhor maneira das recentes mamãs (caso de Blunt aquando das filmagens) perderem peso, pois Cruise desafiava os seus companheiros de filmagens a irem até ao limite em todas as cenas de ação. Ainda espero vê-lo a receber um Óscar. Não me parece que seja com este papel, mas irão com certeza surgir performances na linha do que nos apresentou com Magnolia, Born on the 4th of July, The Last Samurai ou Eyes Wide Shut.
É ele que pilota todo o filme, é através da voz dele que somos guiados por toda a aventura da posição em que Barry se coloca e que vai partilhando connosco num tom quase casual. Sara Wright interpreta a esposa e apesar de até à data só a termos visto em papéis menores e títulos ligeiros, poderá ter talento para mais. A ver se aparecem mais papéis interessantes para mulheres no cinema para deixarmos talentos femininos escondidos desabrochar.
American Made retrata um tema bastante forte e sério de forma ligeira e divertida, sendo por isso perfeito para o serão de sexta-feira à noite em que tive o prazer de o desfrutar!