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Anna Karenina
Título Português: Anna Karenina | Ano: 2012 | Duração: 129m | Género: Drama, Romance
País: Reino Unido | Realizador: Joe Wright | Elenco: Keira Knightley, Jude Law

Depois de Jane Austen e de Ian McEwan, depois do requinte de Pride and Prejudice e da profunda emotividade do magnífico Atonement, o britânico Joe Wright virou-se para Tolstoi, realizando uma adaptação teatral de Anna Karenina. Importa frisar que esta é a opinião de quem não leu o livro e para quem a personagem principal deste clássico é essencialmente a cadela de Tereza na obra-prima A Insustentável Leveza do Ser.

O filme e o livro são sobre o amor, o adultério, as relações promíscuas, a honra e os códigos formais de conduta conservadores e anacrónicos da alta sociedade russa do século XIX. Anna Karenina é uma mulher dividida entre a dignidade pública e o estatuto social preservados ao manter um casamento com um homem que não ama e a paixão ardente pelo jovem Vronsky.

Aquilo que Joe Wright concretiza é uma espécie de peça de teatro cinematográfica, plena de artifícios visuais muito elaborados que, ao contrário do que sucedia emAtonement, retiram corpo e credibilidade às personagens e à história propriamente dita. Duas questões agravam os problemas. Por um lado, ter personagens russas interpretados por actores ingleses, com um claro british accent, soa necessariamente a falso. Por outro, começa a haver menos paciência para os excessos e os trejeitos faciais de Keira Knightley, que acabam por uniformizar em demasia todos os papéis que a actriz interpreta.

Há alguns momentos interessantes, como a velocidade estonteante do movimento dos corpos no baile de Moscovo ou um pedido de casamento através de uma espécie de scrabble, e tem piada ver Jude Law como um homem cinzento e apagado, nos antípodas de muito do seu trabalho, mas é muito pouco para a dimensão pretensiosa que uma obra deste tipo necessariamente tem. Tanto formalismo arruma com qualquer história e, especulando um pouco, fica a sensação que quem leu o livro poderá achar esta adaptação um crime. Seja como for, uma profunda desilusão vinda de quem realizou um filme tão extraordinário como Atonement, cheio de emoção, vibração musical e grandiloquência cinematográfica.


sobre o autor

Joao Torgal

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