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Mark Reeder nasceu em Manchester, mas a sua alma pertence a Berlim. Talvez tenha sido esta a razão maior que o levou a sair da ilha para o continente, mudando-se de armas e bagagens para uma cidade dividida e em colapso. Na edição de 2017 do Porto/Post/Doc, o sobrevivente dos anos 80 apresentou o filme e destacou-se da multidão de cinéfilos: apesar da idade, apesar dos cabelos brancos, Reeder irradia uma jovialidade invejável e desfila trajando um uniforme, algo que o caracteriza. Adora fardas militares desde sempre.
O documentário B-Movie: Lust & Sound in West-Berlin 1979-1989 organiza memórias e filme retalhado da experiência de Mark Reeder em Berlim, vivência esta considerada uma perfeita amostra do momento, da cultura, da agitação daquela cidade antes da queda do Muro que a fragmentava.
O próprio é narrador da história, contando-nos em primeira mão como foi viajar à boleia de Inglaterra para a Alemanha. Mostra-nos o seu apartamento (num prédio ocupado, sem renda, o que facilitou a permanência), e envolve-nos nas suas aventuras a que assistimos com incredulidade, pois a sequência de eventos parece ser demasiado louca e improvável para ser verdade. Ou, então, Berlim era assim mesmo, centro e íman de figuras fulcrais da cena musical. Ou, talvez, Reeder tenha optado por ocultar detalhes racionais que tirariam algum encanto à epopeia da sua vida.
Entre outros méritos, Mark Reeder teve uma banda punk com Mick Hucknall – o ruivo dos Simply Red. Pois a sua vida é isto: uma frenética sequência de momentos improváveis.
A arte sonora que tem um lugar central na vida de Mark Reeder: de certa forma, foi a obsessão pela música electrónica alemã que o levou a desejar ferverosamente experimentar Berlim, e que toldou o seu futuro, vida e profissão. O cinema veio por acaso, serviu para registar o folclore em que tudo se transformou.
Chegado à cidade alemã soube embrenhar-se nos círculos certos. Foi músico, produtor e agente. Foi representante da conterrânea Factory Records e levou os Joy Division até lá. Deu abrigo a Nick Cave e testemunhou Keith Haring a deixar a sua marca no Muro. Chegou a ser correspondente da televisão Britânica, explorando a cidade e revelando os seus tesouros ao público jovem-adulto. E esteve no primeiro Love Parade.
Tudo isto é-nos relatado a par da própria agitação de Berlim: as manifestações, o fosso Este/Oeste, as dificuldades vividas por um país em crise. Aliás, é por Blixa Bargeld (dos Einstürzende Neubauten) que ouvimos um fantástico relato:
– Já foste ao outro lado?
– Sim, já. Foi fantástico. (respondeu Blixa com ar alucinado)
– Mas ao outro lado, a Berlim de Leste?
– Ah, isso não. Dá muito trabalho. Tenho de pedir um visto com antecedência, esperar 3 dias, despachar-me no regresso. Eu não consigo planear a minha vida dessa forma. É demasiado.
Pois era. Era demasiada vontade de viver no momento, demasiado vício e demasiada perdição.
B-Movie: Lust & Sound in West-Berlin 1979-1989 não pretende ser um registo histórico, deixa esse propósito para outros registos e géneros. É antes a descoberta de uma personagem, Mark Reeder, que foi central e elo de ligação entre tribos, momentos e subculturas. Alguém que amou profundamente uma cidade e um estilo de vida, e que se dispõe a levar-nos nessa viagem, enquando define como pretende ser recordado.
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