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Bacalaureat
Título Português: O Exame | Ano: 2016 | Duração: 128m | Género: Drama
País: Roménia / França / Bélgica | Realizador: Cristian Mungiu | Elenco: Adrian Titieni, Maria-Victoria Dragus, Rares Andrici

Será possível ter ética e ser moralista numa sociedade… imoral? E será aconselhável? São estes os pontos-de-partida de O Exame

Romeo é um médico e pai dedicado, que ensinou à filha (Eliza) princípios de honestidade e que, sem grandes esperanças no futuro da Roménia, tem como sonho que ela vá estudar para o estrangeiro (será mútuo o interesse?). Tudo parece desabar quando Eliza é atacada / violada na véspera dos exames decisivos, deixando-a em condições psicológicas muito debilitadas para os fazer. Num país de esquemas, será Romeo capaz de um esquema para tentar aldrabar os resultados? Especialmente se Eliza tiver de ser cúmplice? E de que forma, num momento de sofrimento, é essa a prioridade?

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O realizador Cristian Mungiu tem um passado com críticas à sociedade romena. Não só no mais mediático 4 Meses 3 Semanas e 2 Dias (Palma de Ouro em Cannes em 2007), sobre a hipocrisia em relação ao aborto, mas também em Para Lá das Colinas, sobre o fundamentalismo da Igreja Católica. Contudo, aquilo que era sobre questões isoladas, ganha uma dimensão mais macro em O Exame. Estão aqui a corrupção generalizada, a troca de favores / tráfico de influências entre os diversos sectores, seja na justiça, na educação ou na saúde, como um fenómeno quase natural e inevitável. Logo uma das primeiras cenas, no posto policial, é paradigmática. E tudo isso é feito com pinças, numa evolução narrativa muito meticulosa e estimulante

Para a eficácia da mensagem e da reflexão, é fundamental o desempenho de Adrian Titieni, o pai, entre os dilemas morais e o sonho para a filha. Estamos profundamente com a personagem, enquanto acompanhamos as dúvidas e os momentos de descontrolo emocional quando as coisas correm mal.  Noutro país, em França, e com outro foco, mais nas questões laborais, faz lembrar a força da personagem de Vincent Lindon em A Lei do Mercado.

O Exame é um filme profundamente realista. Romeo não é um imaculado modelo de virtudes e não há aqui nenhum fatalismo excessivo. Pode lançar a metáfora “um corrupto a alta escala safa-se, mas quem rouba um chocolate é apanhado”, mas não é panfletário na forma como o faz. Aliás, deixa um caminho para a redenção, no funcionamento da justiça, na importância primordial da escola ou até no relacionamento entre pais e filhos, entre as questões globais da sociedade e as meramente familiares.

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Prémio de realização de Cannes, O Exame demonstra Mungiu como um dos grandes nomes do cinema europeu da actualidade. Enquadrado no filme, veja-se uma só cena, um diálogo corriqueiro num parque infantil. Por um certo lado absurdo e sarcástico que fica no ar, é uma pequena demonstração da complexidade com que Mungiu aborda a moralidade e um dos momentos mais fortes deste belíssimo drama social.


sobre o autor

Joao Torgal

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