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A Força de um Campeão conta a história verídica de Vinnie “The Pazmanian Devil” Pazienza, um pugilista de calibre mundial que, apesar de não ser visto com os melhores olhos dentro da comunidade desportiva, luta todos os combates como se fosse o último e qualquer um pode bem ser. Depois de ganhar o título de campeão mundial de pesos super leves, vê-se envolvido num acidente potencialmente fatal que o deixa com uma lesão na coluna. Fisicamente debilitado, escolhe não fazer a operação que lhe garante uma recuperação total mas que o impede de voltar a competir e decide tomar o caminho mais longo, doloroso e incerto, tudo na esperança de voltar à velha glória.
Seria de pensar que num filme sobre pugilismo seria esse o foco da trama, mas é com espanto e alguma alegria que me deparo com uma história que se passa nesse mundo e não dá destaque a combates sofridos ou a cenas de treino que tornam o herói ainda mais forte do que era antes. Aquilo a que assistimos é uma história pessoal conduzida pelas personagens e onde o percurso é mais importante do que qualquer cinturão ou glória para a posteridade. Isso não é dizer que não são essas as motivações de Vinnie, mas há uma calma e uma ponderação inesperada a cada cena, uma atenção nos detalhes que nos leva além do desejo de vencer e nos leva pelo dia-a-dia deste desportista que encontramos no seu melhor e no seu pior momento. Quando há um combate a perspectiva é muito humanista, não passamos um quarto de hora a ver golpes e idas ao tapete com uma contagem excessivamente lenta, passamos mais tempo nas pausas, na visão de quem assiste com a certeza que há mais em jogo do que uma vitória e que as consequências de qualquer desfecho afectam muito mais pessoas do que a personagem principal.
O exercício de transfiguração dos actores já é um factor que quase levamos a mal, parece isco para prémios e começamos a desconfiar cada vez que vemos alguém mais gordo, mais magro, mais careca e ultimamente, com um nariz diferente. Grande parte dos actores neste filme sofreram esse tipo de transformação e sim, no início é estranho ver um Aaron Eckhart com pança de cerveja e meio careca, é talvez o actor que sofreu a maior transformação, mas a força da personagem cedo nos faz esquecer papéis como Harvey Dent ou mais recentemente, o monstro de Frankenstein. Miles Teller volta a recordar-nos do potencial que ainda não foi devidamente explorado e oferece-nos um desempenho credível e sofrível (no melhor dos sentidos) de alguém que não tem muito mais a perder e para quem, qualquer outra opção que não combater, é simplesmente inaceitável.
Já vimos Ciarán Hinds em dezenas de papéis e é normal que não nos lembremos do nome dele, mas este é, sem sombra de dúvida, um papel pelo qual será recordado. O arco da personagem está deliciosamente retratado, um pai que sempre levou o filho até aos limites da competição, moldando a pessoa que vemos no ecrã, mas que depois do acidente começa a ter dúvidas sobre tudo o que fez e o que deve ser feito. Uma interpretação poderosíssima que só nos lembra o quão esquecível é Katey Sagal enquanto mãe do pugilista. Pode ser culpa do guião, mas não sentimos o desespero de uma mãe que deveria estar muito mais emocionalmente ligada ao filho.
É uma história real e por isso mesmo não há glorificação de suspense nem artifícios que seriam expectáveis. Há um drama real sobre pessoas que, por vezes, sentimos ter algo mais a oferecer e acaba por não o fazer, mas que acabamos por compreender num filme que se quer com menos de duas horas. A vida de Vinnie Pazienza foi marcada por abusos e alguns conflitos com a lei que preferiram não retratar, mas nesta fatia de vida em específico ficamos com um bom filme de exame sobre a vontade e o preço a pagar por ela.