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Bølgen – Alerta Tsunami é um filme norueguês baseado no facto científico de se acreditar que a montanha Åkneset, localizada no fjord Geiranger, poderá um dia cair no mar e criar um violento tsunami de mais de 80m de água e que devastará tudo em que passar até à Gronelândia. Bølgen é a palavra norueguesa para A Onda, porque, como bom idioma germânico que é, o artigo definido é adicionado à própria palavra – que sozinha seria bølg (onda). O filme foi realizado por Roar Uthaug, e apesar de não ter sido seleccionado para os nomeados, foi um dos filmes que concorreu na categoria de melhor filme estrangeiro para os Óscares de 2016.
Quem vive na Noruega sabe em primeira mão o quão orgulhosos os noruegueses são das suas montanhas e dos seus fjords, e o quão apaixonados por ambos, passando longas temporadas ou a caminhar ou a esquiar na montanha onde acampam ou ficam nas suas hyttas (cabanas no meio da natureza) e de onde conseguem ter uma vista privilegiada. Quando não estão lá em cima, estarão em passeios de barco pelos fjords ou caminhadas junto a eles. Estas actividades são características de qualquer norueguês e são habitualmente feitas sempre que existe oportunidade para isso. A grande maioria das cidade norueguesas assentam ou em montanha ou junto a um fjord ou ambos, incluindo a capital: Oslo.
Åkneset é uma montanha real localizada em Stranda, na zona ocidenal da Noruega. Os geólogos esperam que um dia essa montanha caia no fjord e crie um tsunami massivo que destruirá comunidades locais como Geiranger, Hellesylt ou Tafjord. Isto será o pior cenário possível, já que existe também a possibilidade da montanha cair silenciosamente para o fjord em pequenos pedaços. Voltando a Åkneset, a falha expande 2 a 15 cm por ano e os cientistas tentam descobrir como e quando a montanha irá separar-se do resto do fjord, numa tentativa de prever as consequências de uma montanha de 1500m se separar do resto da estrutura. Åkneset tem vindo a ser monitorizado desde 1986, depois da falha ter sido descoberta nos anos 50 por um caçador de veados.
O desmoronamento de Tafjord em 1934 atirou 1,5 milhões de metros cúbicos de rocha para o fjord e provocou um tsunami de 62m de altura, que matou 41 pessoas. Em 1936, um outro desmoronamento de 1 milhão de metros cúbicos de rocha provocou um tsunami de 74m, que matou 73. O expectável desmoronamento de Åkneset, que ninguém sabe quando irá acontecer (prevê-se que em 30 a 100 anos) poderá lançar 40 milhões de metros cúbicos de pedras no fjord, ou seja, cerca de 25 a 40 vezes mais do que os dois maiores desmoronamentos ocorridos na Noruega no século passado.
Com base nestes dados, nasceu Bølgen. O filme foi filmado em Geiranger e em estúdios na Roménia (provavelmente para poupar a nível de custos de produção, uma vez que a Noruega é um dos países com salários mais altos), com um budget do filme foi de 50 milhões de coroas norueguesas (cerca de 5,8 milhões de euros). Numa das cenas foram lançados 40.000 litros de água de propósito num cenário. A filmagem dessa cena só podia ter sido feita uma vez e é considerada a cena mais cara de sempre do cinema norueguês. Demorou seis meses a planear (os noruegueses são particularmente bons a planear todo o tipo de tarefas) e diversos dias a preparar. Os efeitos digitais de Bølgen levaram quase um ano a completar. O guião de Bølgen foi escrito por John Kåre Raake (que escreveu Ragnarok, um filme-fantasia norueguês que também teve bastante cobertura na altura de lançamento) e por Harald Rosenløw Eeg (que escreveu o drama Hawaii Oslo).
O realizador Roar Uthaug dirigiu Cold Prey em 2006 (ao qual é feito referência ao longo de Bølgen) e Escape em 2012. Entre filmes, dirige anúncios para televisão e posso dizer os comerciais na Noruega são, regra geral, muito originais e divertidos. Uthaug fez o primeiro filme no oitavo ano (The Axe Killer) e uma comédia de terror de 30 minutos, filme de culto em algumas camadas de noruegueses, de nome Snørr (que significa ranho ou catarro). Quanto aos actores, temos Ane Dahl Torp, que interpreta a manager do hotel e que curiosamente tem aquafobia, o que é – no mínimo – hilariante: se virem o filme vão perceber. Temos também Kristoffer Jones que, para além duma longa carreira cinematográfica e televisiva como actor, tem também alguns títulos como realizador. Ambos têm interpretações bastante competentes. Tenho visto diversos filmes e televisão norueguesa e a qualidade quer da produção quer dos actores é muito elevada, dando bastante credibilidade aos projectos. Há inclusivamente alguns títulos extremamente inspiradores, que deveriam passar as fronteiras do norte, nomeadamente o filme Kon-Tiki e a série Side om Side. O cinema norueguês tem vindo a crescer cada vez mais e há poucas semanas estreou um filme épico de nome Kongens Nei (algo como O Rei Não), que está a ter imenso sucesso e que promete ser um dos grandes do ano, quem sabe até nos Óscares.
Voltando a Bølgen, são poucos os filmes-catástrofe que, fora de Hollywood, conseguem um trabalho realista a nível de imagem. A Noruega tem vindo a mostrar-se uma referência de qualidade no mercado cinematográfico e filmes-fantasia como Ragnarok ou filmes-aventura como Kon-Tiki são imbuídos dum realismo apaixonante. Antes de Bølgen ser lançado, algumas vozes levantaram-se contra o filme e conta a forma como afectava os residentes desta zona de maneira negativa, pois poderiam exacerbar ainda mais o medo diário que os habitantes destes locais possam sentir. Bølgen foi exibido em 180 de 245 cinemas da Noruega e teve um dos melhores fins de semana de abertura da história do cinema na Noruega. Mais de 135.000 fãs compraram bilhetes o que colocou Bølgen no Top 3 de filmes mais bem-sucedidos nas bilheteiras norueguesas: após a primeira semana de exibição o filme já tinha vendido 242.000 bilhetes no total. Ainda antes de ser lançado, o filme foi vendido para mais de 100 países e não admira que ainda esteja a estrear em alguns, como é o nosso caso.
Bølgen tem um bom ritmo e é um filme interessante que vale a pena ver nas salas de cinema. As imagens, quer do desastre, quer das paisagens norueguesas, são magníficas e é uma boa introspecção à cultura norueguesa e ao dia-a-dia em regiões mais isoladas. O enredo é o que se pode esperar dum filme do género, cumprindo a sua função. Não se pode dizer que é um filme arrebatador, mas a qualidade é inegável. Imperdível para os amantes de filmes-catástrofe.