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Bone Tomahawk é um western com trejeitos de thriller. Uma sequência de violência abre o filme e, depois, somos levados até uns dias antes onde um evento ocorre. No seguimento desse acontecimento, uma médica é chamada a meio da noite para dar a necessária assistência ao caso. Na manhã seguinte, a cidade acorda para uma estranha e preocupante notícia. E estão os dados lançados para a nossa história. Como bom western, Bone Tomahawk é um filme que vive bastante dos actores e os quatro na estrada são: Kurt Russell, Patrick Wilson, Matthew Fox e Richard Jenkins.
Estes homens lançam-se no resgate, sendo cada passo do caminho quase um momento de reflexão, em que as diferentes peripécias vão expondo aos poucos as grandes diferenças entre as personalidades de cada um. Westerns são tipicamente filmes de homens no wild west americano com uma missão, filmes em que a honra tem um papel preponderante e, até mesmo, central, filmes onde há sempre o ou os heróis. Bone Tomahawk subscreve bem o género.
Lili Simmons é uma modelo tornada actriz e que, eu diria, foi aqui um erro de casting, pois não traz qualquer realismo para a personagem que representa no filme. Seria expectável uma mulher mais velha e mais experiente e é notório que a personagem de Simmons tem um aspecto demasiado jovem o que lhe retira alguma credibilidade (a menos que – prática comum nos filmes de terror – esta seja a maneira de cativar um público masculino mais jovem, havendo inclusivamente uma momentânea cena digna desse objectivo).
Escrito e realizado por S. Craig Zahler na sua primeira incursão como realizador, Bone Tomahawk não é o primeiro, nem será o último filme que começa bem e, depois, perde-se. O filme divide-se em duas partes: a primeira hora e meia e a última meia-hora. Na primeira hora e meia o filme desenvolve-se de forma interessante, o suspense da história lançada dá efectivamente curiosidade ao espectador para perceber o que terá acontecido. O argumento sustenta esse sentimento, pois está bem desenvolvido alternando momentos de humor algo negro, sempre com a tensão do trama subjacente por trás, com momentos em que nos questionamos quais as nossas atitudes face às situações com que as personagens são confrontadas, enquanto tentamos compreender as motivações e, até mesmo, o carácter de cada uma. A cena dos fósforos está particularmente bem conseguida e demonstra bem a alternação de estados de espírito que o filme consegue provocar no espectador. Numa época em que as tecnologias não tinham dado ao mundo o ritmo acutilante a que se move, o filme retrata bem todo o timing e – diria quase – desfrutar do tempo, que se tem vindo a perder, onde cada gesto, cada palavra, cada momento contam e não se tenta atropelar uns momentos por cima dos outros enquanto se fazem tarefas simultâneas e não se presta verdadeira atenção a nenhuma.
Na última meia-hora, todo o crescendo que se havia construído anteriormente é devastado por uma sequência sem qualquer verosimilidade e diria, até mesmo, ridícula. Nem mesmo o acaso faria com que tal desfecho fosse possível, mas o principal problema é a maneira como foi filmado: cenas gráficas para enaltecer a abominação, totalmente descabidas do tipo de ritmo que o filme leva. E, até os actores, parece que perdem o fôlego parecendo mesmo estar surpreendidos com a mudança brusca do argumento e, consequentemente, retirando credibilidade às últimas cenas.
É difícil avaliar um filme que arranca tão bem e se perde na última meia-hora, que – não representando metade do filme – representa a memória com que ficamos dele, quase como que deixando um sabor amargo na boca. Fez-me lembrar o Law Abbiding Citizen de F. Gary Gray, que num género completamente diferente é outro que tinha tudo para ser brilhante e se perde nos últimos 10 a 15 minutos de filme. Estou convencida que S. Craig Zahler poderá vir a surpreender-nos, visto que o filme tem momentos de elevada qualidade quer das cenas quer do argumento, mas acho que precisa trabalhar mais no desenvolvimento final das personagens, da história e da apresentação do filme. Gostaria ainda de lamentar o título português que é, no mínimo, troglodita. Acho que o cinema merecia quem fizesse melhores traduções. Lembro-me sempre da revelação de todo o filme no Million Dollar Baby de Clint Eastwood com Sonhos Traídos. Seria expectável que quem vê e traduz estes filmes conseguisse manter-se fiel ao que o realizador tentou transmitir independentemente da sua própria opinião do filme. A preferirem dar opinião sugiro que trabalhem em crítica de arte e não em tradução. Portanto, vale ou não a pena ver Bone Tomahawk? Talvez valha a pena ver em casa, mas dificilmente vale a ida ao cinema. E recordo que uma das cenas é extremamente gráfica, pelo que não é aconselhável a espíritos mas sensíveis, passando do western ao horror ou filme série B.