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“Brief Encounter”, de David Lean, é uma cápsula perfeita da alteração dos valores sociais do pós-guerra. Enfatizando o desviar dos valores morais tradicionais e os efeitos que tiveram na consciência feminina, David Lean cria um dos romances mais apaixonantes do cinema clássico.
O segredo de “Brief Encounter”, em relação aos seus contemporâneos, é que, enquanto romance, surge nos dias de hoje como perfeitamente actual. O par romântico não surge como o típico “over the top”, “ vamos gritar ao mundo que nos amamos” casal apaixonado, nem tão pouco os sentimentos surgem de um momento para o outro só porque “ele” faz algo de perfeitamente espectacular e “ela” não tem, senão a escolha de ficar apatetadamente apaixonada. Não há vilões, adversidades de maior, nem beijos tórridos enquanto rolam os créditos. E, no entanto, é palpável a intensidade com que se querem.
Laura (Celia Johnson) conhece o Dr. Alec Harvey (Trevor Howard) num pequeno café da estação de caminhos-de-ferro de Milford. Ela, uma dona de casa aparentemente feliz e satisfeita, ele, um médico no hospital local. Vivem em destinos opostos em relação à estação de Milford, mas todas as terças é aí que os seus caminhos se cruzam. Primeiro por meras casualidades, mas rapidamente começam a fazer planos para a próxima terça que passem juntos. Nasce assim, ainda que com contornos platónicos, a relação amorosa entre os dois. O que seria perfeitamente inocente não fossem ambos casados.
O filme foca a forma como Laura tenta lidar com a ambiguidade de sentimentos que a assolam enquanto mulher adúltera. Sobre o quão vale a sua felicidade por oposição à censura social de que iria ser vítima e ao sofrimento que causaria a terceiros.
É de salientar que ambos, por medo de magoar o respectivo cônjuge, mantêm-nos ignorantes do seu caso e tentam manter o seu relacionamento o mais discreto possível. Quando o par se está prestes a despedir-se por uma última vez, cai vitima da sua intenção de manter as aparências, ao encontrar-se com uma conhecida de Laura que gora o seu último momento juntos. Não se preocupem com “spoilers” que o filme começa justamente por este momento.
“Brief Encounter” é arquetípico do que deve ser um filme romântico. Atestado pelo carimbo de nomeação para Óscar, não cede aos clichés de romances auto-indulgentes e cria personagens, magnificamente interpretadas, com as quais nos conseguimos relacionar e identificar sem que tenhamos que ser algum tipo de herói ou rebelde com coração de ouro.
Uma magnífica obra a prima que se mantêm actual e que não será difícil de comparar com filmes como “Before Sunrise”, de 1995, ou “ Lost In Translation”, 2003, apesar da ponte de tempo que os separa.