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Na sua edição de 2015, o Porto/Post/Doc estreou um documentário premiado em Sundance, que retrata uma das maiores fragilidades da fronteira México/Estados Unidos da América: o narcotráfico. Cartel Land é político e expõe as fraquezas dos dois lados.
Resultado de um ano de filmagem em pleno campo de batalha, valeu ao realizador Matthew Heineman a inclusão na short list para os Óscares. Conta ainda com produção de Kathryn Bigelow, e a exposição valeu também o regresso à actualidade do debate sobre a urgente erradicação dos cartéis de droga.
O filme acompanha José Manuel Mireles Valverde, “El Doctor”, um médico mexicano que emergiu em 2013 como figura central da milícia popular Autodefensas, e Tim “Nailer” Foley, líder do Arizona Border Recon, um grupo não militar que patrulha a fronteira na região conhecida como “Cocaine Alley”, em território norte-americano. Apesar de estarem do mesmo lado da barricada, distinguem-se pelos métodos.
A milícia Autodefensas actua de forma autónoma de qualquer entidade estatal ou militar. É seu objectivo limpar o Estado de Michoacán do poder sanguinário dos cartéis que exploram e aterrorizam a população. Armados, os seus métodos não são tão louváveis quanto desejaríamos: a perseguição e a prepotência começa a caracterizá-los, sendo que acabam por deixar de reunir o apoio popular quando se começam a confundir com os criminosos que perseguem. Valverde torna-se um alvo a abater, quer pelos cartéis quer pelo Governo – ou não se unissem estes pelos interesses partilhados – e a milícia começa a ser infiltrada por criminosos, que encontram assim uma forma de torturar e eliminar os rivais. Como se isto não fosse suficiente, o documentário relata ainda a integração da milícia no aparelho militar, diminuindo ainda mais a sua autonomia, e a criminalização de Valverde, acusado de terrorismo.
Do outro lado do muro, no Arizona, vemos o ex-militar Tim “Nailer” Foley patrulhar e deter os narcotraficantes. Percebemos as suas motivações e daqueles que lidera, mantém a sua estreita colaboração com o aparelho de vigilância norte-americano, fá-lo de forma voluntária. O justiceiro coloca-se em risco trocando a cada segundo.
A cada instante, é importante recordarmos que estamos perante um documentário pois deparamo-nos com uma história absurdamente surreal. A mestria com que as redes de narcotráfico conseguem destruir e até desmantelar a Autodefensas, mantendo-se invisíveis, parece saída de um argumento ficcionado por Hollywood. Os tentáculos dos cartéis estendem-se de tal forma, que tomaram refém dos seus interesses todo um país e milhões de habitantes, num círculo fechado em que se repete.