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Vindo do anonimato completo, Charles Bradley surpreendeu muito boa gente quando, em 2011, com mais de 60 anos, lançou o disco de estreia No Time For Dreaming. A pergunta que muitos fizeram foi naturalmente esta: como e porquê só agora? O documentário Charles Bradley: soul of America dá-nos algumas pistas e fá-lo de uma forma muito bonita e inspiradora.
O filme acompanha os últimos meses antes do lançamento do disco de estreia, ouvindo testemunhos, rebuscando o passado e procurando dados sobre o percurso deste soul man, imitador de James Brown antes de se afirmar em nome próprio. Estão aqui as preces religiosas, a ligação profunda à mãe ou os dramas familiares, sociais e de saúde que percorreram uma vida difícil e longe da ribalta.
Contudo, o que sobressai é, por um lado, o cantor brilhante e a interpretação visceral e impressionante, e, por outro, o homem genuíno, com uma alegria, uma espiritualidade, uma inocência e um espírito de partilha arrebatadores. Veja-se a cumplicidade com os músicos, o episódio delicioso sobre o aparecimento do seu nome no jornal ou a simpatia contagiante como Charles interage com as pessoas ao anunciar o concerto de apresentação do disco. Para que tal aconteça e transpareça de forma evidente, é fundamental a forma próxima como o documentário é filmado, como os rostos surgem face to face, como se entrássemos directamente na alma imensa do músico.
Cortesia da estimadíssima Daptone Records, que também apresentou ao Mundo Sharon Jones, Bradley tornou-se figura de proa da soul music dos últimos anos, num processo que este belíssimo filme de Poull Brien ajuda a compreender. E, contrariando o título do disco, é sempre possível que o sonho idílico e o reconhecimento mais improvável cheguem um dia. Charles Bradley merece-o com certeza.