//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Escrever sobre um filme de 1931 é uma tarefa arrojada: pensado e rodado num tempo tão distante do nosso, que a realidade narrada já se transformou em pura ficção. O mundo estava em mudança, os loucos anos 20 já se tinham despedido abrindo a porta à Grande Depressão da economia norte-americana, que asfixiava as franjas da sociedade – ao passo que as elites mantinham a sua vida de prosperidade.
A desigualdade e a injustiça é um tema recorrente nos filmes de Charlie Chaplin, o homem que mudou o Cinema, o exímio contador de estórias sem voz e a preto-e-branco, e este City Lights não é excepção. Na filmografia do cineasta, argumentista, actor e visionário em geral, situa-se entre os clássicos Gold Rush (1925) e o Modern Times (1936).
City Lights é uma comédia romântica bem hollywoodesca: o Tramp conhece uma florista e apaixona-se. Quando percebe que esta é cega, convence-a de que é um homem de posses e ajuda-a a sair da pobreza. Afinal, quem gostaria de um vadio sem dinheiro e roupa rasgada? Empenhado e trabalhador, arranja um trabalho honesto e duro, para lhe entregar todo o dinheiro que consegue arrecadar. A par disto, o Tramp conhece um magnata cuja amizade só se revela em plena embriaguez, e ainda consegue meter-se em apuros com a polícia.
Como todos os filmes de Chaplin, é na simplicidade do argumento e da execução que se revela a sua riqueza. As técnicas modernas de produção ainda não tinham sido inventadas e os actores desprovidos de som insistem no exagero, no excesso e também na rigidez perante a câmara. É neste silêncio a dois tons que entra a música e desempenha um papel principal!
Assisti em Fevereiro de 2017 o filme quase-centenário na Casa da Música do Porto, orquestrado ao vivo pela prata da casa e toda a minha percepção sobre o que seria ver filme naquele tempo mudou. A alegria, a melancolia, as vozes, cada som – todos transportados pelos acordes sinfónicos e com uma classe como há muito não se vê no grande ecrã. A Sala Suggia esgotou e encheu-se de gargalhadas ruidosas, de suspiros e de aplausos. Foi uma redescoberta de um género de Cinema e a imersão numa experiência revivalista, o regresso a um passado esquecido e em que a simplicidade das histórias contadas preenchiam o olhar e a imaginação dos espectadores.