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Quando em 2012 foi lançada uma versão restaurada de Come Back, Africa, o mundo voltou a reflectir sobre a importância histórica deste filme e do seu realizador Lionel Rogosin, um importante activista e demarcadamente político nas suas fitas. O realizador nova-iorquino lutou e viu em primeira mão o fascismo e o racismo durante a II Guerra Mundial, dedicando-se à devida erradicação com a sua obra, fortemente influenciada pelo neo-realismo europeu.
Com Martin Scorsese a afirmar «a heroic film… a film of terrible beauty, of the ongoing life it captured and of the spirit embodied by Rogosin and his fellow artists.», tornou-se ainda mais urgente revisitar o retrato de 1959.
O carácter muito documental, na medida em que retrata vidas e personagens verídicas a par de um argumento interpretado por actores, regista a vida em Joanesburgo no apogeu do Apartheid, em que a cor de pele ditava a estrutura social e legitimava o pleno uso de racismo e de subjugação. Come Back, Africa é um importante marco no Cinema Africano e da etnoficção.
A narrativa acompanha Zachariah, que abandona a província em busca de trabalho e de sustento em Joanesburgo, numa tentativa de garantir a sobrevivência da sua família. Rapidamente percebe que se entregou voluntariamente a uma vida de prisão, regida pela Lei do Passe aplicada a todas as pessoas negras das regiões tribais que chegavam à metrópole, limitando a circulação até entre bairros, controlando cada movimento e entregando-as à brutalidade policial a cada instante.
Vemos Zachariah a sujeitar-se a trabalhos braçais em condições sub-humanas, as ideias resistentes que questionam o status quo, as parcas condições em que todos habitam. A raiva e o rancor proporcionam a agressividade e a fragmentação da comunidade negra, quando todos os esforços se deveriam unir na luta contra o Apartheid e aqueles que apoiavam o sistema. Mas como? Onde vai alguém a quem tudo se tirou buscar essa força?
Todo o filme carrega um tom de melancolia desprovida de esperança como nunca antes vi. O título Come Back, Africa traduz a nostalgia das personagens, uma vontade imensa de regresso à estrutura tribal e comunitária do passado. Porém, encontram-se em tal labirinto de malvadez humana, que vivem sem horizonte e resignados ao infortúnio.
O filme termina sem final feliz mas sim de forma desesperante, em grito de apelo. Entre as filmagens e o fim do Apartheid, passaram-se mais de trinta anos – uma vida inteira. Milhares de pessoas viveram um quotidiano que, para a maior parte de nós, é absolutamente inimaginável. E é por isto que Come Back, Africa é um registo essencial não a um cinéfilo, mas a todos os que compreendem que o passado da Humanidade tente a repetir-se e que devemos empenhar-nos a cada instante a impedir monstruosidades desta natureza.