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Daft Punk Unchained
Título Português: Daft Punk Unchained | Ano: 2015 | Duração: 85m | Género: Documentário, Musical
País: França | Realizador: Hervé Martin Delpierre | Elenco: -

Em 1997, os franceses Daft Punk lançaram Homework, o disco que os revelou ao mundo e em que “just as distinctive as the less-is-more approach to each track’s elements is Homework’s love of compression, a sonic tribute to the FM radio stations that fed Daft Punk’s youthful obsessions. Such extreme use of attack and release, augmented still more by a predilection for filtered basslines and astringent hi-hats, establishes a distinctive tension between bass and treble that’s become as key to their sonic palette as their referencing of 70s disco, 80s pop and 90s techno”, lê-se numa crítica da BBC. Foi o primeiro de quatro discos de originais, até à data.

Lançaram assim as raízes da sua carreira de permanente reinvenção, em que a liberdade artística e a auspiciosa exploração sónica ditaram o destino de Thomas Bangalter e Guy-Manuel De Homem-Christo, os homens que se escondem dentro dos robôs em palco. No documentário Daft Punk Unchained, acompanhamos o crescimento do duo, desde as raves burguesas que semearam o tecno na sua música ao reconhecimento global.

Reconhecimento é, claro está, uma forma de expressão. Cedo decidiram ocultar os seus rostos com sacos, máscaras carnavalescas ou elaborados capacetes. E porquê? Para que a música transcenda, para que a memória se fixe na sua juventude, para que controlem a imagem pública, para que criem fronteiras entre a vida privada e a de palco, para que conquistem a eternidade e continuem a editar mesmo depois da morte física, quem sabe…

We don’t want to participate in that circus.

O formato de colagem de entrevistas a quem os acompanhou, vídeos e áudio dos próprios em diferentes épocas, e conversas com as estrelas que hoje fazem música com os Daft Punk (Giorgio Moroder, Nile Rodgers, Kanye West, Pharrell), explora os vinte anos de carreira e a rota de aprendizagem, o apuramento e a massificação da música electrónica, a tensão com a editora. Mas, sobretudo, demonstra como souberam manter sempre do seu lado o poder de decisão, sem conceder às exigências do mercado, e abrir novas dimensões sonoras.

Aliás, o controlo é tema central na vida artística de Daft Punk. A certa altura ouvimos que “Thomas told me one day that he didn’t like [drugs] because when you take an ecstasy, you lose all critical control. From there it was clear. Because if there is one thing that he hates, it is to lose control.”.

A componente visual foi sempre um cuidado elemento da sua música. Em 2010 foram responsáveis pela banda sonora do filme futurista Tron: Legacy. E quem não se lembra do vídeo de “Around The World” do cineasta Michel Gondry em 1997? O realizador de Eternal Sunshine of the Spotless Mind recorda o processo em diálogo com a câmara, remetendo-nos para os tempos do-it-yourself dos Daft Punk.

Mas tudo mudou desde então, e eis-nos em 2006 e aquele portento concerto em Coachella. A pirâmide e os djs como cabeças de cartaz, elevados a estrelas do rock. Numa época em que o user-generated content dava os primeiros passos, o concerto acabaria por ser um dos momentos mais partilhados online. Posso assumir que foram os primeiros sintomas de FOMO?

Acabaria por ser mais um patamar da banda, que traça o seu caminho em passos estratégicos bem ponderados, procurando a cada disco uma aprendizagem e revelação ao mundo.

Foi em 2013 com o álbum “Random Access Memories” que os Daft Punk chegaram ao seu estatuto actual. Uma homenagem à disco e ao funk da década de 1970 que tanto curtem, que lhes valeu a colaboração com destacados nomes e ídolos, bem como o Grammy para disco do ano. E agora, quo vadis? Em que andarão a trabalhar?

Daft Punk Unchained é um documentário para todos, fãs ou não, que queiram compreender não só a evolução da banda, mas sobretudo o impacto desta na indústria da EDM que hoje esgota festivais e é encabeçada por nomes como Skillex ou Steve Aoki.

Poderia dizer que peca apenas pela ausência da banda. Mas até nisto são coerentes: ora, se ocultam a sua identidade e remetem toda a sua comunicação com o público através da música, não há qualquer motivo para que tomem tempo de câmara. A sua versão dos acontecimentos e a evolução artística está impecavelmente registada na discografia.

| Filme disponível no catálogo Netflix Portugal


sobre o autor

Isabel Leirós

"Oh, there is thunder in our hearts" (Ver mais artigos)

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