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Nas últimas décadas a maioria dos filmes classificados com o género terror têm optado, sobretudo, por duas vertentes ou sub-géneros: gore, onde o susto é substituído por desmembramentos e um terror mais casual aliado a vários momentos de comédia intercalados com os famosos jump scares. Para quebrarmos com esta tradição recente podemos ver filmes como The Babadook, The Witch e, agora, também February, onde a criação de um ambiente negro se sobrepõe em todas as ocasiões a tiradas cómicas ou a demasiado sangue que só seria desnecessário.
O argumento desenrola-se em volta de três personagens principais que cedo percebemos estão a ir, de algum modo, ao encontro umas das outras. Katherine e Rose partilham o mesmo espaço, na escola católica de Bradbury, após uma demora dos pais de cada uma a regressar de um período de férias e Joan, que fugiu um hospital psiquiátrico, encontra-se a caminho da escola, tendo apanhado boleia de um casal numa estação de serviço. As histórias de cada uma das raparigas vai-se aproximando, de uma forma lenta e pensada ao minuto, até ficar totalmente claro qual a relação entre as três protagonistas.
Há dois aspectos centrais em February que permitem torna-lo num filme distinto do que costumamos ver no circuito comercial neste género: o ritmo ao qual a acção decorre e o ambiente negro que é uma constante em todas as cenas e em todas as personagens. Relativamente à acção, Osgood Perkins não tem medo de demorar o seu tempo a desenrolar o argumento que preparou, sendo que volta para trás algumas vezes e salta bastante entre a protagonista que seguimos. No que ao ambiente diz respeito, a contribuição de cada uma das personagens é bastante importante. Nenhuma das protagonistas parece feliz em algum ponto e isso reflecte-se nos diálogos e nas acções que tomam, sem que alguma altura consigamos vislumbrar um final feliz para a história de qualquer uma delas. Em February não há lugar a momentos de descontracção, nunca parece realmente que alguém esteja a caminhar em direcção a algo de bom e tudo isto contribui para criar uma tensão essencial para realmente fazer funcionar o género “terror” que lhe é atribuído.
Há vários pontos no filme que permitem a criação de um ambiente ideal para este género, mas há também um lado negativo nos mesmos que não pode passar ao lado. A alternância entre personagens, por vezes em demasia, torna a acção e a narrativa demasiado desconexas a partir de certo ponto. Inicialmente é confuso, até percebermos bem o lugar de cada uma das personagens e, após esta fase, torna-se um elemento que quebra, ainda mais, com o ritmo do filme. Quando a narrativa já é bastante lenta, sem que por si seja um problema maior, não seria aconselhável alternar tanto os pontos de vista e os espaços temporais, sob pena de tornar o filme numa amálgama imperceptível em algumas sequências.
Osgood Perkins faz tudo o que é necessário para ter uma boa alternativa aos filmes de terror recentes, criando um filme bastante interessante, com personagens fortes e com o ambiente perfeito para o género. No entanto, tudo o que faz para obter estes pontos positivos acaba por ter um lado negativo, afectando um pouco a possibilidade de perceber em todos os instantes a narrativa do filme.