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O realizador canadiano Xavier Dolan, muito jovem, tem sido bajulado pela crítica e certames desde os seus primeiros trabalhos. O seu último filme, Juste la fin du monde (já vencedor do Grande Prémio do Júri em Cannes), adapta a peça homónima do dramaturgo francês Jean-Luc Lagarce sobre um escritor que regressa a casa depois de uma ausência de doze anos para contar à família que está a morrer. A chegada de Louis, antecipada como um acontecimento feliz, depressa desperta memórias antigas e com elas um manancial de culpas, mágoas e ressentimentos. Aquela família, que nunca soube comunicar ou teve a oportunidade de aprender, desmorona-se como um castelo de cartas antes que Louis consiga dizer ao que veio.
Juste la fin du monde (no título português, É Apenas o Fim do Mundo) surge na senda das temáticas habituais do realizador, que escreveu um argumento e com elementos autobiográficos vincados – a crise familiar, a homossexualidade, a inadequação e a confusão de identidade. Filmando sobretudo em interiores, Dolan escolheu dilatar a carga dramática da narrativa através dessa atmosfera claustrofóbica que aproxima o espectador das personagens, tornando-o (ainda mais) vulnerável aos seus dramas. Mas não se ficou por aí. Para contar esta história, Dolan partiu das potencialidades do elenco de luxo – Gaspard Ulliel (o protagonista), Léa Seydoux (a irmã), Vincent Cassel (o irmão), Marion Cotillard (a cunhada) e Nathalie Baye (a mãe) – e filmou-o em planos médios ou close-ups em campo/contracampo, construindo a tensão em golfadas de ansiedade e transformando a acção num jogo de forças. Tal recurso, aliado à competência do elenco, permitiria arrancar emoções às personagens prescindindo da prolixidade do texto, mas Dolan optou pela direcção oposta. Para além da construção psicológica das personagens ser quase caricatural (a mãe espalhafatosa e inconveniente, a irmã pós-delinquente juvenil, a cunhada ambivalente, o irmão boçal – todos eles neuróticos), o renomado leque de actores exibe as suas capacidades dramáticas sem qualquer contenção em diálogos que chegam a roçar o histriónico, recorrendo a algum improviso e a deixas sobrepostas que mais instalam confusão do que voltagem, ao som da banda-sonora quase épica de Gabriel Yared. O ambiente iluminado de forma propositadamente artificial (com cores saturadas e demasiado brilho) cria uma submersão numa realidade estilizada – e passivo-agressiva.
Juste la fin du monde é um melodrama de dramatização extrema. A cena final, condensando todos os excessos empregues, é um clímax narrativo ao qual se juntam um trecho musical em intensidade crescente, uma fotografia etérea, interpretações exageradas e uma montagem que rodopia pelas faces dos actores, culminando com um plano de um pássaro caído no chão, que agita ainda as asas, magoado. Propositadamente ou não, é uma boa metáfora para a impressão deixada pelo filme – personagens (e espectadores) à beira do colapso nervoso, lutando por respirar. Decompondo-o nas suas partes (ou antes nos recursos utilizados), Juste la fin du monde teria tudo para ser uma apuração de temas anteriormente investigados, que consegue a proeza de reunir alguns dos nomes mais sonantes do actual cinema francês (destaque para a interpretação sempre física e visceral de Vincent Cassel) e ainda excelentes colaborações na direcção artística, na fotografia e na banda-sonora. Nesse sentido, o problema de Juste la fin du monde não são os seus ingredientes de óptima qualidade, mas a exuberância na sua mistura – uma receita de manipulação emocional que chega a ser ostensiva.