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Parece que o descalabro emocional, tal como as encruzilhadas morais do cinema de Farhadi… estão numa encruzilhada. Isto porque o realizador iraniano insiste num cinema que é, em muito, semelhante ao que fez no passado. Contudo, quando O Vendedor entra numa espiral lenta e apurada de tensão ao longo dos últimos 40 minutos, temos certezas que o que fica daqui é novamente positivo.
Asghar Farhadi é o realizador de Uma Separação e O Passado. No Irão ou em França, são dois belíssimos filmes sobre o divórcio, com processo em curso ou já consumado, e toda a escalada de mal-entendidos, dilemas e confusões que, directamente ligados ou à margem, vão surgindo associados ao fim da relação, seja ele mais ou menos litigioso.
Com o realizador de volta ao Irão, O Vendedor revela, pelo contrário, um casal (Rana e Emad) aparentemente feliz. Ele é professor, mas são ambos actores, em ensaios para a peça A Morte de um Caixeiro Viajante. Tudo se altera quando são forçados a mudar de casa e, na nova habitação, Rana é atacada por um estranho. Um suposto mal-entendido que vai criar traumas para o futuro e desafiar a felicidade do casal. O que é mais importante: descobrir o que se passou ou esquecer e seguir em frente?
Estão aqui, de modo semelhante ao passado, grande parte dos condimentos de outros filmes de Farhadi: a claustrofobia dos prédios, o frenesim das escadas que o realizador tanto gosta, a impaciência e quase insanidade em momentos de desespero, o incómodo interior magnificamente interpretado pelos actores… No entanto, apesar dos prémios de Cannes para melhor actor, e Shahab Hosseini é impressionante a encarnar a revolta e o sofrimento do marido, e para melhor argumento, e a metáfora entre a peça de teatro e a realidade está muito bem conseguida, parece que O Vendedor se arrasta em demasia, de uma forma que não sentimos nos últimos dois filmes de Farhadi. É certo que, pelo meio, há alguns momentos bastante fortes, que mostram como o desespero e uma certa moralidade extrema se podem transformar em irracionalidade humana. Veja-se a cena da sala de aula com o telemóvel ou o jantar com um ternurento miúdo. Mas é na fase final que o filme explode…
No fundo, ainda que de forma imperceptível e menos cativante do que se desejava, vão-se acrescentando lentamente ingredientes antes do clímax. Um clímax que é um “duelo” muito silencioso, em que vão entrando as “testemunhas”. É neste pseudo-duelo, misturado com a metáfora teatral do filme, que O Vendedor se afirma como um óptimo filme. E ainda não é desta que nos fartamos de Asghar Farhadi.