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Se perguntássemos a Iggy Pop qual o sentido da vida ou o segredo para a felicidade, que nos responderia? Eis um homem que nasceu num trailer park, numa América industrializada e perdida no mapa, para encarnar o espírito do rock e influenciar gerações.
Jim Jarmusch é um assumido fanboy, o que explica este título que tanto destoa da sua filmografia. Gimme Danger faz-se em conversa com a câmara, com Iggy e os Stooges a recordarem o seu caminho: o que os une, os que os separou e os rumos individuais por que cada vida os levou.
O diálogo cruza-se com imagens de época, concertos, gravações em estúdio, uma adorável animação, e um ar certo retro a recordar os tempos áureos do punk rock.
Carismático e sempre electrizante, James Osterberg só podia ser uma estrela. Se em 2017 é ainda incomparável e capaz de chocar a normalidade, que pensaria o público da década de 1960 ou 1970? As sessões de “The Stooges”, “Fun House”, “Raw Power” e, claro está, “The Idiot” são recordadas no documentário, com particular interesse na amizade com David Bowie. Em rigor, a amizade e a gratidão são dois temas centrais: percebemos que a carreira Iggy se fez em colaboração, num somatório de talentos que o fizeram crescer e o ajudaram a superar-se.
O vício e a dependência são, obviamente, abordados mas sempre no registo bem-humorado de Iggy. E com a mesma naturalidade de quem partilha uma receita de pasta à bolonhesa, fala-nos do inferno pessoal e do caminho à redenção.
Mas o documentário é desde o primeiro momento uma lição de vida. Mais que isso, é uma janela para o sonho, porque só assim vale a pena viver: um jovem destinado a uma vida nada extraordinária, transfigurou-se no monstro de palco que conhecemos.
Com Gimme Danger, Jim Jarmusch produziu um clássico, um testemunho cru e único sobre Iggy and The Stooges, um retrato sobre tempos que já não existem e que dificilmente se repetirão. Com 70 anos Iggy viveu já tantas vidas, resta-nos o privilégio de conseguir assistir as que lhe restam.