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Green Room tem tudo para tornar-se um filme de culto. Não só integra habilmente elementos de contra-cultura e um monte de referências musicais que vão agradar ao público alternativo como, para além disso, é um dos derradeiros filmes protagonizados por Anton Yelchin, o actor norte-americano nascido em São Petersburgo popularizado pelo papel de Pavel Chekov no reboot da saga Star Trek (2009) e falecido há poucas semanas num estúpido acidente automóvel.
Anton é Pat, o baixista dos Ain’t Rights, uma banda punk dos subúrbios de Washington DC com uma lógica marcadamente DIY e uma profunda aversão às redes sociais. Os outros elementos são Tiger (Callum Turner), Sam (Alia Shawkat) e Reece (Joe Cole, que alguns reconhecerão como um dos irmãos Shelby de Peaky Blinders). Os Ain’t Rights andam perdidos numa digressão mal sucedida nos confins da costa oeste. Sem dinheiro, sem gasolina e quase sem paciência, a banda acaba por aceitar um concerto com cachet garantido numa festa de skinheads neo-nazis organizada numa quinta algures nas florestas do Oregon. É aí que, após testemunharem acidentalmente o resultado de um brutal homicídio, os elementos da banda se vêem retidos/barricados no backstage, na tal sala verde que dá o título a este filme.
Herdando a lógica de cerco de outros filmes, é neste espaço claustrofóbico que os membros da banda, aos quais se junta Amber — uma skingirl interpretada por uma Imogen Poot com um belo chelsea cut —, vão tentar encontrar uma solução, entre as garantias aparentemente apaziguadoras de um grupo neo-nazi em controlo de danos («we’re not keeping you here, you’re just staying») e a sensação cada vez mais palpável de que não será possível sair da sala sem derramamento de sangue.
Escrito e realizado por Jeremy Saulnier, um realizador em ascensão no circuito independente, Green Room é um thriller tão directo e intenso quanto as malhas interpretadas pelos Ain’t Rights. No entanto, embora Sauliner utilize uma fórmula bem conhecida, nem por isso deixa de a aplicar de forma competente e até arrojada, com doses cavalares de suspense interrompidas por golpes cirúrgicos de violência explícita e tiradas com humor certeiro, complementadas por uma fotografia cuidada e algumas interpretações de encher o olho. Neste aspecto, o principal destaque vai para a participação de Patrick Stewart como Darcy, o líder do agrupamento neo-nazi («this is a movement, not a party»), que combina uma eloquência elegante com uma frieza assustadora. Menção honrosa para Macon Blair no papel de Gabe, o dedicado skinhead responsável pela organização da festa e uma das poucas personagens tridimensionais deste filme.
Onde Green Room ganha decididamente é no tributo que faz à cena punk, com uma autenticidade própria de quem conheceu o meio por dentro (ao que parece, Sauliner cresceu dentro da cena punk hardcore). São inúmeras as referências a bandas de diferentes gerações, dos Dead Kennedys aos Minor Threat, passando pelos Fear e Fugazi. É pena que a atenção ao detalhe demonstrada nessa vertente, que transparece ao longo da fita, não tenha correspondência na suposta dimensão política do filme. Os skinheads são retratados com uma superficialidade digna de um artigo do Correio da Manhã, e mesmo a iconografia utilizada é pobre e repetitiva. Na verdade, os vilões deste filme são skinheads neo-nazis mas podiam perfeitamente ser membros de uma seita religiosa, zombies, extraterrestres ou sindicalistas furiosos da CGTP.
Feitas as contas, Green Room é como alguém tivesse metido numa liquidificadora os filmes Almost Famous (2000), American History X (1998) e Assault on Precinct 13 (1976), e vertesse o resultado numa super soaker. Vê-se com gosto e tem potencial para ganhar uma aura especial, mas os clichés a que não consegue escapar e a estrutura simples e directa impedem-no de chegar mais longe.
Dissidente e subversivo por natureza. É benfiquista militante. Já desistiu de mudar o mundo e agora só tenta que o mundo não o mude a ele. (Ver mais artigos)